domingo, março 22, 2015

Memorabilia diplomatica (XIII) - Queluz


Era um jantar de gala no Palácio de Queluz. Um rei ou um presidente estrangeiro estava em visita de Estado a Portugal. O protocolo esmerou-se em ter a imensa mesa com grandioso aspeto, belos candelabros e talheres de prata, o serviço de pratos mais requintado, tudo sobre uma toalha magnífica, só usada nas grandes ocasiões. Demorou horas a colocar tudo em ordem, mas o cenário era deslumbrante.

Salazar chegou bem antes do presidente português e do convidado estrangeiro deste. Era, cumulativamente com o cargo de chefe do executivo, ministro dos Negócios Estrangeiros e tinha um cuidado pessoal com estas ocasiões solenes.

Mesureiro e conhecedor do seu sentido de pormenor, o chefe do protocolo, cavalgando a oportunidade do bom trabalho feito, inquiriu se o senhor presidente do Conselho quereria dar uma vista de olhos à sala, antes de o jantar começar. Salazar disse que sim.

Lá chegados, o diplomata não resistiu e perguntou: "O senhor presidente do Conselho acha que está tudo bem? Gosta da toalha que escolhemos? Fomos buscá-la à Ajuda...".

Salazar esboçou um sorriso, entre o cínico e o irritado, e respondeu: "Muito bem, está tudo muito bem. E a toalha é linda. Pena foi que a tivessem posto do avesso...".

Esta é uma história clássica no Ministério dos Negócios Estrangeiros.
 
(Reedição de historietas da diplomacia por aqui já publicadas)

6 comentários:

Bartolomeu disse...

Vem de antanho a sina deste pais, colocar sempre alguma "coisa" do avesso. Naquele tempo e sob a mão férrea de Salazar, ficavam-se pela toalha. Hoje... é o que se vê.

Anónimo disse...

Foi na Ajuda e, salvo erro, em honra de Sua Majestade Britânica. Salvo erro também, o episódio é contado por Eduardo Brazão nas suas memórias.
a) D. Luíz da Cunha

Anónimo disse...

... Tinha muitos defeitos, mas também alguma perspicácia! eheheh...

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro D. Luiz. Já ouvi nos dois palácios. É igual...

Anónimo disse...

Não e igual não senhor. Os nossos jantares foram sempre na Ajuda. Os dos visitantes é que eram em Queluz.
Só é igual para definir a personalidade do meu sucessor. Olhava mas não tinha visão.
a) D. Luiz da Cunha

Anónimo disse...

Mas... em 1957 Salazar já não era Presidente do Conselho e Ministro dos Negócios Estrangeiros quando Isabel II veio a Portugal.

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