sábado, março 21, 2015

Memorabilia diplomatica (XII) - Loulé em Lomé


Foi em finais de 1989, em Lomé, no Togo, um pequeno país africano escrustrado entre o Ghana e o Benim. Estávamos no acto formal da assinatura da 4ª Convenção de Lomé, estabelecida entre a então Europa a 15 e os 69 países espalhados pela África, pelas Caraíbas e pelo Pacífico.

Foi uma cerimónia interminável, com imensos discursos e com os representantes de cada país (eram 84!) a serem chamados, um a um, a assinar o texto, no palco de um grande auditório da capital do Togo. Logo que o nome de um país era mencionado nos altifalantes, e enquanto se processava a deslocação do respectivo dignitário para a mesa da assinatura, desciam, pelas escadarias laterais do anfiteatro, coloridos grupos de dançarinos, ao som de uma música alusiva ao país em causa, levando à frente a bandeira e um cartaz com uma grande fotografia do respectivo chefe de Estado.

Como a ordem era alfabética, Angola foi o primeiro país de expressão portuguesa a ser chamado. Para nossa imensa surpresa, a música que acompanhou a assinatura pelo ministro angolano foi ... a "Tia Anica de Loulé". Esperámos por Cabo Verde, para ver se alguma morna de Cesária Évora era selecionada. Qual quê! Lá saiu outra vez a "Tia Anica"! E o mesmo aconteceu no caso da Guiné-Bissau, de Moçambique e de S. Tomé e Príncipe. E, claro, a coreografia do governante português, com o retrato imenso de Mário Soares a descer nas mãos de jovens pelas escadas do auditório, também se fez ao som da mesma música. Chegámos a interrogar-nos sobre se a alusão a Loulé não seria uma compensação pelo facto do primeiro-ministro ser de Poço de Boliqueime...

Cuidámos em não suscitar a nossa estranheza pela escolha da música junto dos nossos colegas dos PALOP, tanto mais que, no caso das antigas colónias francesas, britânicas ou belgas a seleção musical foi bem africana. É que, com resquícios de radicalismo, alguns poderiam ter pensado que se trataria de uma forma encapotada de neo-colonialismo musical da nossa parte, muito embora a organização do evento fosse africana.

Ele há cada uma!

6 comentários:

Anónimo disse...

Caro Chico

... e também podia ter sido "Uma casa portuguesa" com "quatro paredes lavadas e um cheirinho a alecrim" o que não seria um neo-colonialismo, embora fosse... portuguesa. Mas a Tia Anica também era de Loulé...

Abç

Portugalredecouvertes disse...


obrigada pela sorriso que me despertou logo de manhã!

a tia Anica por essas paragens
e cerimónias é muito bom! pena que o Turismo do Algarve não tivesse aproveitado :)

será que alguém nas suas buscas pensou que a música era de Lomé confundindo os nomes Lomé e Loulé :)


Anónimo disse...

Salvo erro, a terriola já não é Poço mas sim Fonte. Também nas terras há promoções. Não é só na carreira.
a) D. Luiz da Cunha

Bartolomeu disse...

Vá lá; vá lá, que nessa altura ainda o BPN não tinha estoirado, se não possívelmente e a pensar no de Boliquei-me os versos podedriam ter sido: Tia Anica, tia Anica, Tia Anica de Loulé, compre ações do BPN que valorizam bué!

patricio branco disse...

vendo bem, lomé pode confundir-se com loulé, tia anica talvez nem tanto!

Filomena Taborda disse...

Exmo Sr Embaixador ,ainda bem que tem humor e capacidade para adaptar-se a situações difíceis ,já vi enfartes do miocárdio por menos.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...