segunda-feira, março 16, 2015

Lajes


Há 12 anos, dia por dia, teve lugar aquela que ficou conhecida como a "cimeira" das Lajes, no Açores. Politicamente foi uma farsa destinada a criar a ilusão de que ainda era possível evitar que os Estados Unidos invadissem o Iraque, à procura das "armas de destruição maciça". A história e farta documentação provam hoje que essas armas nunca existiram e que a decisão de Washington estava tomada, independentemente de qualquer legitimação da comunidade internacional.
 
Portugal prestou-se ao triste papel de hospedeiro nas Lajes. Ao país, o primeiro-ministro de então, Durão Barroso, ficou para sempre a dever uma explicação pelo facto de ter conduzido Portugal a um papel servil e desonroso. O ministro da Defesa de então, Paulo Portas, também ainda há-de explicar um dia as provas da existência dessas armas, que então disse que "viu".
 
Somos um país sem memória porque, se a tivéssemos, talvez alguém chamasse hoje à pedra um bando de propagandistas, alguns sob a capa da profissão de jornalistas, feitos "neocons" da paróquia, que, dos jornais aos blogues, passando pelas complacentes televisões, argumentaram então, por semanas, em favor da "justeza" dessa guerra, que acabou por conduzir o Iraque à situação em que está, pasto para o atual Estado Islâmico e para o incontrolável caos que afeta toda a região. Um deles, hoje alcandorado a um posto de nomeação governamental, escreveu então que, se acaso se viesse a provar que as tais "armas de destruição maciça" não existiam, se "passearia nu pelo Rossio". Não há, por ora, notícias desse triste espetáculo, que o país anseia ainda testemunhar.
 
A propósito da publicação do livro de Bernardo Pires de Lima: “A Cimeira das Lajes - Portugal, Espanha e a guerra do Iraque” (ed. Tinta da China, Lisboa, 2013), escrevi no nº 44 da revista "Relações Internacionais" um texto sobre a obra, que pode ser consultado aqui

8 comentários:

Luís Lavoura disse...

Um deles, hoje alcandorado a um posto de nomeação governamental, escreveu então que, se acaso se viesse a provar que as tais "armas de destruição maciça" são existiam, se "passearia nu pelo Rossio".

Foi o Vasco Rato ou o Rui Ramos? Creio que foi o Rato.

gogoi disse...

O discurso de Durão Barroso nessa farsa, a que ele chamou"a ultima oportunidade para a paz",é uma página tão negra que praticamente não existem registos sobre ele. tudo aquilo era falso. o resultado está à vista. e os responsáveis pela chaga que hoje arrasa aquela parte do mundo, estão incólumes.

Anónimo disse...

outras farsas houve entretanto

http://duas-ou-tres.blogspot.com.es/2011/09/hora-da-libia.html

http://duas-ou-tres.blogspot.com.es/2012/06/siria.html

http://duas-ou-tres.blogspot.com.es/2012/02/siria-e-kosovo.html

...

Anónimo disse...

A Cimeira das Lages foi um momento negro e de descrédito da nossa política, para já nem falar dos actores internacionais ali envolvidos.
O que é extraordinário é ver como, depois, farsantes irresponsáveis, que apoiaram aquela decisão (já tomada, como sublinha), ao arrepio da N.U, como Durão Barroso e Paulo Portas, sem um pingo de vergonha e de dignidade, ainda terem vindo a ocupar funções políticas relevantes, um como Presidente da Comissão Europeia, Comissão essa que o aceitou sabendo, bem, da postura infame a que se prestou, e outro, como Portas, a alcandorar-se hoje a Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros e de seguida a Vive PM! São pessoas desprezíveis, que a tudo se prestam, sem nenhuma consideração pelos valores da Democracia e do Respeito para com os seus cidadãos eleitores. Fez bem em relembrar estes episódios, pois a memória das gentes é muitas das vezes fraca.
a)Rilvas

Um Jeito Manso disse...

Mais um grande texto, Embaixador. É bom que se reavive a memória deste país de tão brandos costumes que tudo tolera, tudo esquece.

Joaquim de Freitas disse...

Perfeitamente analisado, Senhor Embaixador. Ouso esperar que aos Portugueses não seja infligido o insulto supremo de ver o hospedeiro do retrato apresentar a sua candidatura à responsabilidade suprema da Nação.

Joaquim de Freitas disse...

A propósito do chefe do bando dos Açores, cada vez que vejo a sua foto penso sempre nestas frases inteligentes, da sua autoria:



Je comprends les petites entreprises. J’en étais une.
-- Geroge W. Bush


There is no French word for entrepreneur.
George Walker Bush


Si les Est-Timorais décident de se révolter, il y a une chose de certaine, c’est que je ferai une déclaration !
- Ouf, les Est-Timorais doivent être rassurés !
-- Geroge W. Bush


Je crois que nous sommes d’accord, le passé est fini.
-- George W. Bush


Ils m’ont mal sous-estimé !
-- Geroge W. Bush


Mais j’ai également fait comprendre à Vladimir Poutine que c’est important de penser au-delà des jours anciens lorsque nous estimions que si nous nous détruisions chacun l’un l’autre, le monde serait en sécurité.
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E foi este indivíduo que decidiu de enviar para a morte centenas de milhares de seres humanos. Decisão à qual se associaram aqueles que o rodeiam.

Anónimo disse...

A fotografia é extraordinária.
JPGarcia

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...