segunda-feira, março 09, 2015

Garagens


Um velho e querido amigo polaco, de há mais de duas décadas, antigo membro do governo e hoje deputado europeu, ironizava ontem no seu Twitter que, enquanto os cidadãos da Europa ocidental se preocupam em ter um segundo carro na sua garagem, os cidadãos do leste europeu preocupam-se em não ter por lá um tanque russo...

Esta é a mostra do contraste de perspetivas que se vive no seio da União Europeia sobre a questão russa. Na Polónia, tal como nos países bálticos, respira-se hoje um ambiente de pouco abafada angústia quanto à Rússia, às suas ambições e ao grau de determinação do mundo ocidental de lhe fazer frente. Essa Europa mais a Leste vê com preocupação que a prosperidade e o bem-estar no ocidente europeu, ameaçados, por exemplo, pelo custo das sanções à Rússia e pelas necessidades em fornecimento de gás cuja torneira está em Moscovo, são fatores que mobilizam, muito mais que a segurança, as respetivas opiniões públicas.

Ao meu amigo polaco eu poderia perguntar se o seu país e outros dessa área não terão, involuntariamente, sido co-responsáveis pela criação na Ucrânia de expetativas que o bom-senso deveria ter moderado e que, indiretamente, também estão hoje por detrás da tragédia que aquele país atravessa. Eu não tenho certezas mas, na verdade, também não sou vizinho próximo da Rússia.

6 comentários:

Joaquim de Freitas disse...

Os Polacos, perfeitos aliados dos EUA , foram longe demais na sujeição aos amigos e agora preocupam-se da reacção eventual do vizinho, quando este vê os mísseis da NATO na soleira da porta, as duas importantes bases americanas na Polónia operacionais e consideradas territórios americanos soberanos e que os 500 americanos que ai trabalham não sejam submetidos às leis polacas. Um pouco dos USA na nova Europa , como dizia Rumsfeld.
Depois da prisão centro de tortura sub contratada à CIA, e a participação militar na guerra do Iraque, eis que o lacaio polaco receia o golpe da pata do urso russo.
" co-responsáveis pela criação na Ucrânia de expetativas que o bom-senso deveria ter moderado" escreve o Senhor Embaixador. Eu diria antes que foi a UE que criou essas expectativas" . Como para a Polónia, que os EUA queriam a "todo o preço" trazer para a sua órbita. Como para a Geórgia !

Anónimo disse...

Muito bem, Joaquim de Freitas! Apoio!

Luís Lavoura disse...

Eu diria ainda muito mais do que o que o Francisco diz no último parágrafo.
A Polónia viveu em paz com a Rússia duas décadas. Se agora a Polónia teme pela sua segurança, é por ter permitido que os seus amigos mais a Oeste começassem a hostilizar desnecessariamente e estupidamente a Rússia.
Se a Polónia tem medo dos tanques russos, dever-se-ia preocupar antes do mais com os amigos que escolhe e com as asneiras que eles fazem.
A Finlândia também tem medo da Rússia e, precisamente por isso, tem os devidos cuidados com a sua política externa.

Luís Lavoura disse...

O Francisco já terá sem dúvida reparado que tem exatamente o "perfil" que Cavaco Silva advoga para o próximo Presidente da República. Porque não se candidata?

Anónimo disse...

Acho que os polacos têm razão para pensar assim, pois com um vizinho como a Rússia, que os ocupou durante séculos, com um exército vermelho que chegou às portas de Varsóvia nos anos vinte do século passado ante de ser derrotado pelo exército polaco, já para não falar da divisão da Polónia entre nazis e comunistas em 1939, todo o cuidado é pouco.

Devem é também informar-se se Putin não anda já a pensar ordenar mais alguma invasão como as que mandou fazer na Crimeia (que já confessou) e na Ucrânia (essa ainda não confessou).

M.G.P.MENDES disse...

Muito bem analizado, mas, como sempre, demasiado moderado...É óbvio que a Polónia é neste momento um dos lacaios-mor dos EUA!
Aliás, caro embaixador, não reparou que foi o Ministro da Defesa deste país que acompanhou o MNE da França - o ilustre Laurent Fabius - à praça central de Kiev para apoiar o novo governo "ucraniano" que - inocentemente - proibiram a lingua russa falada por pelo menos 60% dos ucranianos!

Isto , como sabe muito bem, isto anda tudo ligado - EUA/NATO/ISRAEL/IRAO...à bon entendeur, salut!

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...