terça-feira, março 17, 2015

Memorabilia diplomatica (VIII) - O adido


MNE, há mais de 30 anos. 

O diretor-geral, à secretária, de óculos na ponta do nariz, lia lentamente a informação de serviço que o adido de embaixada tinha preparado. De pé, o chefe de repartição e o jovem autor do texto mantinham-se num reverente silêncio, esperando o veredito.

Acabada a leitura, o diretor-geral levantou os olhos, deu um leve suspiro, olhou para o adido e disse: "Deixe ficar o papel", com uma implícita indicação de que o funcionário poderia retirar-se. 

Quando ficou a sós com o chefe de repartição, este último, pressentindo algum desagrado no modo como o seu superior tinha acolhido o texto, perguntou: "Não gostou da informação? Posso mandar refazê-la...".

O diretor-geral não respondeu logo. Levantou-se, caminhou para a janela e ficou a ver a ponte sobre o Tejo. Segundos depois, voltou-se, encarou o chefe de repartição, deu um suspiro ainda mais longo e inquiriu: "Você sabe quando é que este tipo entrou na carreira?". 

- Julgo que foi no concurso de há cerca de dois anos. Porquê?

- Por nada. Ele não tem culpa nenhuma, é apenas um incompetente que não sabe escrever português e que vai demorar alguns anos até se tornar num funcionário sofrível. Até lá, quem sofre é o Estado. O que eu gostava de saber é quem foram os cretinos dos membros do júri de admissão que o não chumbaram...

(Reedição de historietas da diplomacia por aqui já publicadas)

5 comentários:

jj.amarante disse...

Caro Embaixador
Sendo um leitor assíduo dos seus interessantes textos queria desta vez felicitá-lo pela escolha sistematicamente adequada das imagens que os ilustram. Estes dourados sobre vermelho foram a gota de água que me levaram a escrever este elogio, mas tem havido imensas outras ocasiões!

Guilherme Sanches disse...

Por isso é que o Estado tem sofrido tanto. Por isso é que nós continuamos a sofrer, sabe-se agora.
Há que revelar quem era esse jovem autor do texto e responsabilizá-lo. Isto não pode ficar impune!
Ou então... os membros do juri.
Mas há mais de trinta anos... talvez ainda não. É melhor ser só o jovem, se não estou errado nas contas.
Um abraço
GS

Bartolomeu disse...

Esse jovem é a prova de que o acordo ortográfico devia ter sido adotado 30 anos mais cedo. Assim, o Diretor Geral, não teria argumentos para o considerar um prejuizo para o Estado português.

Anónimo disse...

Pior ainda é ter quem temos como PM, que não fica atrás desse ex-Adido, com a agravante de os estragos serem mais devastadores não só para o Estado, mas, sobretudo, para o País em geral!
a)Claustros

patricio branco disse...

destino traçado...

A Europa de que eles gostam

Ora aqui está um conselho do patusco do Musk que, se bem os conheço, vai encontrar apoio nuns maluquinhos raivosos que também temos por cá. ...