Com a morte de Paulo Jorge, antigo ministro das Relações Exteriores de Angola, morre também um certo MPLA.
Uma noite, numa conversa em Luanda, nos anos 80, em casa do Fernando Valpaços, Paulo Jorge contou-me uma história que nunca mais esqueci, porque tem um significado interessante.
Uma noite, numa conversa em Luanda, nos anos 80, em casa do Fernando Valpaços, Paulo Jorge contou-me uma história que nunca mais esqueci, porque tem um significado interessante.
Eram passadas poucas semanas após o 25 de abril de 1974 e uma delegação do MPLA, chefiada pelo próprio Paulo Jorge, chegou a um certo país do norte de África, para uma visita oficial. A delegação desceu do avião e, para grande surpresa dos seus integrantes, ninguém parecia aguardá-los. Dirigiram-se para a sala de desembarque e aí esperaram. Alguns minutos depois, foram hesitantemente aproximados por umas pessoas que inquiriram se aquele grupo não seria, por caso, a delegação angolana. Paulo Jorge e os seus companheiros confirmaram que sim, para evidente alívio daqueles que eram, afinal, os seus anfitriões. Na realidade, eram as mesmas pessoas que eles já haviam visto ao fundo da escada, à saída do avião, mas que, nesse momento, não tinham feito qualquer gesto de aproximação. Os anfitriões explicaram, um pouco embaraçados: é que não estavam à espera que a delegação do MPLA fosse constituída só por brancos...
Outros tempos.
7 comentários:
...é que não estavam à espera que a delegação do MPLA fosse só constituída só por brancos.
Esse pressentimento também tinha o Jonas Savimbi.
Tive ocasião de conhecer Paulo Jorge. Uma personalidade cativante. E amigo de Portugal. Homem sério. Que um dia, meio a brincar meio a sério me perguntava: “porquê Ministério “dos Negócios Estrangeiros”? Que estranho! Porque não “das Relações Externas? Não faria mais sentido?”
Outra ocasião, o que, sempre que se deparava a oportunidade fazia, ou tinha o hábito de dizer, era elogiar “a mulher de Benguela”: “ah, meu caro, você ainda não foi até Benguela? Então não sabe o que perde, porque, entre outras razões, possui as mulheres mais bonitas de Angola!” Paulo Jorge era um “Benguelense”, como afirmava, por paixão e amor aquela terra. Tinha, dizia-nos em privado, uma enorme consideração e grande amizade pelo Presidente Jorge Sampaio: “imagine, mesmo sendo o Presidente, não tinha aparato à porta da sua residência, apenas um polícia. E um dia recebeu-me nesse seu apartamento, a sua casa, sendo ele próprio a abrir-me, depois, a porta! Aqui as coisas piam mais fino. Gosto muito do vosso Presidente Sampaio. Um amigo de Angola e do povo angolano!”. Fiquei amigo de Paulo Jorge, por quem tinha uma particular simpatia.
“Adido de Embaixada”
Também sinto muito a perda do Paulo Jorge. Conheci-o através do Ernesto Melo Antunes, encontrei-o depois em Luanda, durante o meu primeiro posto diplomático, e mais tarde reencontrei-o, quando trabalhava na Cooperação. Homem de um humor inteligente e cáustico, lúcido até ao limite. Um dia falaremos mais dele.
a) Alcipe
Meu caro Francisco,
Apenas agora, pelo teu comentário, soube que Paulo Jorge tinha morrido. Fiquei desolado, porque passei excelentes tempos com ele, na minha segunda passagem por Benguela, onde ele era Governador.
Paulo Jorge era uma pessoa extremamente inteligente, um conversador nato e um benguelense ferrenho.
Vou sempre lembrá-lo como um amigo que deixa saudades.
Senhor Embaixador
Pois eu não tive a oportunidade de conhecer Paulo Jorge, embora tivesse estado à beira disso. Mas fiquei à beira de um colapso, quando abri o seu blogue e à direita - o lado mais perigoso, mas também o mais evidente, segundo os especialistas - algo começou a "disparar". Um susto!
Afinal, era o relógio. Não de Greenwitch, mas de Paris!
Paulo Jorge, Lucio Lara,António Jacinto,Helder Neto, Pepetela,Iko Carreira e mais alguns brancos/cabritos pintados de vermelho,gente para esquecer.Os brancos tiveram quase todos oportunidade de fugir, com a roupa que traziam, mas safaram a pele.Os pretos morriam, muitos anos depois.Caiam como os tordos na terra do Snr Embaixador, em Janeiro.Já agora o que se dizia era que "para se ser verdadeiramente de Benguela devia usar-se capacete, andar de bicecleta e namorar uma mulata".
É tudo. Sambizanga
Ele há coisas, Sr. Embaixador, ele há coisas. Esse mesmo responsável, presumo que argelino, teria mais ou menos esta reacção ao chegar à Presidência da República hoje, na Cidade Alta, em Luanda: - Afinal chegamos à Cidade da Praia(Cabo Verde) e não à Cidade Alta(Angola)!!.
Mas, seja como for, é bem verdade que com a partida de Paulo Jorge é um certo MPLA que se esvai pelas frechas da história.
Rita
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