sábado, maio 20, 2017

Portugal - Espanha

Domingo e segunda-feira, em Vila Real, deputados portugueses e espanhóis, com os seus presidentes, respetivamente da Assembleia da República e das Cortes de Espanha, reunem-se para um encontro de reflexão e debate, antecedendo de alguns dias a cimeira onde participarão ambos os governos, e que também terá lugar na capital transmontana.


Recebi o honroso convite para, na 2a feira, fazer uma das duas intervenções temáticas na abertura do debate, focando os grandes desafios europeus, o papel dos dois países peninsulares nesse contexto e as identidades de interesses e perspetivas que nele podem projetar.

Agora Marcelo Caetano

Como aqui assinalei, morreu, há dias, no Rio de Janeiro, António Gomes da Costa, um dos mais destacados líderes da Comunidade portuguesa no Brasil. 

Foi uma figura cuja ação sempre admirei, pela sua empenhada dedicação à promoção de Portugal no Brasil e ao aprofundamento das relações luso-brasileiras. Era um homem profundamente conservador, apreciador confesso das virtualidades do regime derrubado em 1974, crítico regular no novo regime então surgido.

Isso nunca o impediu de manter um relacionamento impecável com os representantes do Estado, em democracia, como foi o meu caso, entre 2005 e 2009.

Num depoimento que hoje enviei para o JL - Jornal de Letras, contei um episódio passado no primeiro encontro que tive com António Gomes da Costa, em inícios de 2005. 

Perguntei-lhe então sobre o estado de conservação da sepultura do professor Marcelo Caetano. Respondeu-me que tinha indicações de que o espaço estava bem cuidado, por pessoas da nossa comunidade. Notei, contudo, a sua surpresa, pelo facto de eu ter abordado o assunto. Expliquei-lhe – e fazia-o com total sinceridade – que era minha preocupação, como embaixador, garantir, durante o tempo que durasse a minha missão no Brasil, que o local onde estavam os restos mortais daquele antigo chefe do governo estivesse preservado com a dignidade necessária, assegurando que a embaixada tinha toda a disponibilidade para auxiliar em tudo quanto, nesse domínio, viesse a ser necessário fazer. 

António Gomes da Costa terá percebido nesse instante que a minha atitude relevava de uma leitura de Estado, muito para além das trincheiras políticas muito diversas que ocupávamos. E julgo que isso contribuiu para que, a partir daí, nos tivéssemos relacionado sempre sem o menor problema. Continuando nós, bem entendido, cada um "na sua", em matéria política.


É que uma coisa que todo o diplomata deve ter sempre bem presente, quando está em serviço no estrangeiro, é que, estando embora sob as ordens conjunturais do governo de turno, ele representa o Estado e é depositário de toda a História que o país carrega consigo. Toda, mesmo.

A situação política no Brasil


Aqui, aqui e aqui.

sexta-feira, maio 19, 2017

Sonoridades e pressas

E não é que, num artigo de hoje no JN, escrevi "arlequim e manjerona". "Arlequim" em lugar de "alecrim?" Foi erro, claro, não há desculpas! Estas sonoridades próximas levam-nos a estes lapsos embaraçantes, meia Commedia dell'Arte, meia arte de ervanária. Coitada da Colombina...

Portugal na Europa


Conferência/Debate "Que rumo para Portugal na Europa?", promovido pela Associação José Afonso, em Lisboa, dia 30 de maio, pelas 19 horas

Eleições francesas

Debate sobre "Eleições em França, consequências à escala europeia", promovido pelo IDL - Instituto Amaro da Costa, em Lisboa, no dia 26 de maio, pelas 13.00 horas


Brexit

Participação no painel "The EU after the UK referendum", no âmbito do 38º Colóquio de Relações Internacionais da Universidade do Minho, dedicado a "O projeto europeu: que União?", em Braga, dia 24 de maio, 4ª feira, pelas 14 horas.


Um governo nacional



Em 2012, François Hollande disse querer ser um presidente “normal”, quiçá para afirmar um pretendido contraste com Nicolas Sarkozy, que, com aquele estilo “coelho da Duracell”, cansara e irritara profundamente a França. Hollande acabou por ser apenas um presidente banal, que ficou muito aquém daquilo de que o seu país necessitava, contribuindo, em paralelo, para um imenso descrédito da esquerda socialista que ele reconduzira ao poder. Curiosamente, a direita não foi capaz de cavalgar esse estilhaçar do adversário, envolvendo-se em guerras de Arlequim e Manjerona, dando, no final, uma imagem “affairiste” de si própria, que, por pouco, não abriu espaço a uma tragédia.
Emmanuel Macron foi a resultante hábil que “furou” no meio da onda de desilusão do eleitorado perante as duas famílias políticas tradicionais. O governo que agora apresentou é uma verdadeira não-surpresa, uma espécie de “bloco central”, que junta figuras “óbvias” dos diversos espetros politicos, a que somou algumas caras novas, parte delas com promissores curriculos, numa deliberada e louvável equidade de género.
Sem querer parecer Cassandra, gostava de dizer que se podem antever algumas dificuldades a este novo executivo. Desde logo, porque o primeiro-ministro escolhido, Edouard Phillipe, um homem oriundo da ala mais “aceitável” da direita clássica, pode vir a revelar-se um peso demasiado “leve” para contrabalançar a dimensão de algum “baronato” politico que Macron se viu forçado a cooptar. Desde logo, François Bayrou, o ambicioso centrista que terá criado já problemas nas vésperas da formação do executivo, passando pelos socialistas Gérard Collomb, o “maire” de Lyon que cedo se ligou a Macron, e Jean-Yves Le Drian, um fiel “hollandista”, até a um ambicioso Bruno Le Maire, com o qual o novo executivo tentará seduzir o eleitorado da direita clássica. Uma nota interessante, coerente com a sempre reiterada aposta de Macron no dossiê ecológico, é a escolha de Nicolas Hulot, figura mítica do ambientalismo francês – que até agora tinha resistido a todas as propostas para entrar ativamente na vida política.
Este governo é o “cartão de visita” que Macron vai apresentar perante o eleitorado que escolherá os deputados em 18 de junho. O que conseguir projetar como linha apelativa de rumo será decisivo para se perceber se, depois dessa data, conseguirá ou não uma “maioria estável e coerente”, como se dizia no Portugal pós-abril.
Um belo sinal do novo presidente foi, sem dúvida, a mensagem europeísta que resultou do seu encontro com Angela Merkel. Para Portugal, que tem no êxito do projeto europeu uma parcela significativa do seu interesse nacional futuro, o sucesso de Emmanuel Macron e a eficácia deste seu quase “governo nacional” seria uma muito boa notícia.

quinta-feira, maio 18, 2017

Photo opportunity

Um dia, num aeroporto do Brasil, cruzei-me com uma figura ligada a um derminado setor da Justiça daquele país, com quem me tinha encontrado em diversas ocasiões oficiais e com a qual mantinha uma relação cordial. Em tom casual, perguntou-se se eu conhecia uma determinada pessoa, um cidadão brasileiro. O nome nada me dizia. A figura da Justiça sorriu e disse-me que essa pessoa estava presa e que, no seu processo, constava uma fotografia tirada comigo.

Já não sei como, cheguei à conclusão de que coincidira com essa pessoa, mais de um ano antes, num jantar com uma vintena de pessoas, em casa de uma amiga comum. Puxando mais pela memória, recordei-me que, a certa altura, essa pessoa quis tirar uma fotografia com o embaixador de Portugal, provavelmente para recordação. Não tinha nenhum motivo para recusar fazê-lo e, verdadeiramente, esqueci tudo no instante seguinte.

A personagem ligada à Justiça brasileira disse-me que o assunto não tinha a menor importância, mas deu-me um conselho: quando alguém que eu não conhecesse me pedisse para tirar uma fotografia comigo, deveria tomar a iniciativa de pedir a mais alguém, que estivesse perto, para se juntar ao retrato. Isso evitaria dar a ideia de uma excessiva intimidade com o parceiro desconhecido registado na imagem. Tomei boa nota da técnica, embora depois tivesse aprendido que há outra, também eficaz, que é ter fotografias, mesmo a dois, com quase toda a gente, como faz o nosso presidente da República...

Lembrei-me disso há pouco, ao receber tristes notícias políticas do Brasil. É que, se olhar os meus arquivos fotográficos, não são poucas as fotografias que tenho com figuras políticas, brasileiras e não só, que entraram em desgraça, algumas delas presas, outras, aparentemente, com fortes probabilidades de o virem a ser.

Saudades de Américo Tomás

Aquele amigo, quando me viu chegar, um tanto afogueado, com um atraso de cinco minutos, a uma palestra em que eu ia intervir, ao final da tarde de ontem, no Palácio da Independência, ali junto ao Rossio ficou surpreendido quando, de raspão, dirigindo-me à mesa, lhe deixei um críptico "Que saudades tenho do Américo Tomás!". Esse amigo conhece-me bem, politicamente, e claro, imagino que ficou desconcertado com a minha saída.

O dia de ontem foi muito complicado. Uma reunião de manhã, um almoço a trabalhar, um encontro logo a seguir, conclusão de um parecer de consultoria para uma empresa, preparação de uma aula, a palestra acima referida e, finalmente, sem tempo para jantar, duas horas de aula, terminadas às 23.30. Só ao virar do dia, tive tempo para uma sandwich e uma cerveja, no balcão do Procópio. Os dois dias anteriores não tinham sido muito diferentes e os de amanhã e sexta-feira vão também ser de alguma correria.

O grande problema de reuniões e trabalhos em sítios diferentes de Lisboa (e arredores), como é o meu caso, é a dificuldade de me deslocar, de arranjar lugar para o carro, de fazer telefonemas a meio do percurso. assim, vivo em cima da hora de tudo. E as obras do meu amigo Fernando Medina, somadas às surpresas no trânsito, não ajudam nada.

A saída da palestra no Palácio da Independência, quando eu já "voava" dali para o compromisso seguinte, o meu amigo que tinha encontrado à entrada, inquiriu, ainda perplexo: "O que é que tu querias dizer com aquilo do Américo Tomás?".

Expliquei-lhe que, com uma vida destas, o que me dava uma "jeitaça" era ter um motorista, que me levasse aos locais, esperasse por mim à saída e me ajudasse a relaxar, sem conduzir, entre os eventos, dando-me tempo para telefonar e consultar emails. Porém, ele continuava sem perceber a "saudade" personalizada a que eu aludira. Foi então que lhe expliquei que, desde há alguns anos, deixara de ter motorista, porque acabaram entretanto os cargos oficiais que antes tinha e, do meu contrato com as várias entidades privadas com quem trabalho, não faz parte essa "mordomia". Ora o último motorista que tive, de quem agora sentia "saudades" práticas, chamava-se (e chama-se) precisamente... Américo Tomás!

(Um abraço para si, Américo!).

quarta-feira, maio 17, 2017

O arroz do padre

Ao ler na imprensa de hoje que um padre italiano, conluiado com a Mafia, desviava alimentação destinada a imigrantes, a expressão "arroz do padre" veio-me à memória.

Foi há mais de 60 anos, lá por Vila Real. Eu era muito miúdo mas recordo bem uma conversa em torno de um arroz que um dia foi servido na casa onde então vivia, com os meus pais e os meus avôs. Louvava-se a qualidade ímpar de um arroz que estava a ser servido - de uma textura que nunca ninguém tinha experimentado até então (agora, depois de uma vida como "arroseiro" militante, imagino que tivesse sido o primeiro arroz agulha que nos fora dado a provar). À volta da mesa, as pessoas perguntaram-se de onde tinha surgido aquela maravilha. Foi chamada a criada (o termo "empregada" é bem mais tardio, nesse tempo em que também não havia "colaboradores" nas empresas), inquirida sobre se aquela "especialidade" (um termo muito usado à época, para qualificar algo de muito bom) fora comprado no Mário Miranda ou no Sarreiro, tradicionais provedores alimentares da casa.

A senhora surpreendeu toda a gente: "Não, esse é arroz do padre", e passou a explicar. Uma colega de uma casa vizinha alertara-a para o facto de, na sacristia de uma igreja da cidade (que não refiro, para evitar especulações dos vilarrealenses com boa memória), vendia-se arroz ao quilo, que vinha depois naqueles cartuchos de papel grosso, acinzentado. "É muito mais barato!", esclarecia a criada, ufana com a poupança introduzida no rol das compras.

Arroz à venda numa sacristia era, no mínimo um mistério, a que a sua extraordinária qualidade somava uma interrogação mais! 

Horas depois, o enigma escareceu-se: o tal padre estava a vender ao público, a granel, imagina-se que para crédito das contas da paróquia (numa versão otimista), arroz de origem americana que tinha chegado pela Caritas, para ser distribuído pelos pobres. O "desvio" era para dos os adultos da casa um tanto obsceno, numa casa por onde chegou a "circular" a "sagrada família" e onde existia um mealheiro de cartão, de cor azul clara, distribuído pela paróquia, com a inscrição rimada "um tostão por dia para os padres da freguesia".

Não sei quantos quilos de "arroz do padre" tinham sido adquiridos, não tenho registo se o prazer em consumir aquela delícia compensou o remorso de estar dela a privar os seus naturais destinatários. Só sei que o conceito de "arroz do padre" passou a ser um "benchmark" referencial, quase inatingível, para qualificar um arroz  excecional. 

Um dia, na Noruega, confrontado com um prato acompanhado de um belo "Uncle Ben's" (um notável arroz americano), lembro-me do meu pai suspirar: "É muito bom, mas nada que se compare com o arroz do padre..." 

terça-feira, maio 16, 2017

Não!


Não, não vou falar aqui dos 2,8% de crescimento. Porquê? Porque quero ser simpático para com os meus amigos "conservadores" (que é outro eufemismo que alguma comunicação social usa para evitar falar de "direita" ou chamar isso a amigalhaços dela e meus). Por isso, só para lhes poupar um desgosto, optei por ficar, hoje, completamente calado, em sepulcral e respeitoso silêncio. Bem gostava eu de poder mandar um forte abraço de parabéns a António Costa, de fazer "mea culpa" por todos os alertas contra a "geringonça" que lhe transmiti. Mas não, não posso fazer isso, porque os meus amigos do "centro-direita" (a maioria gosta de ser chamada assim - façamos-lhe pois a vontade!) não me perdoariam. Já lhes basta a realidade que hoje, mais uma vez, lhes caiu em cima, coitados! E, por isso, não me passa pela cabeça atirar-lhes à cara, uma cara agora com um sorriso amarelo, que a governação "troika"/PSD e (às vezes) CDS foi um rotundo fracasso, titular de uma cruel insensibilidade, somada a uma clamorosa incompetência. E nem sequer vou lembrar-lhes que o país não os esquece - e, por isso, quer vê-los "com dono" por muitos e bons. Apetecia-me tanto dizer-lhes isto, bem alto, mas não, optei por não aborrecê-los. Até porque alguns se queixam (às vezes por interpostos conhecidos) de que eu ando sempre a "dar-lhes pancada". Assim, hoje não farei isso! Nem a eles nem a um amigo deles de quem deixo uma imagem, tirada há quase um ano, quando então exibia, como dizia Camões, aquilo que viria a ser um ridículo "contentamento descontente".

segunda-feira, maio 15, 2017

"Eixos da Política Externa Portuguesa"


É já amanhã, 3ª feira, pelas 18 horas, que terá lugar a primeira das conferências, organizadas pela Universidade Autónoma e pelo jornal "Público", que abordarão o tema comum dos Interesses de Portugal no Mundo.
Falarei na ocasião sobre os Eixos da Política Externa Portuguesa.

domingo, maio 14, 2017

O tal canal

Recordo-me bem desses tempos, no auge do cavaquismo, em que, pelo país, os padres recolhiam donativos para dar "um canal à igreja católica". Sei de gente humilde que foi às suas economias buscar dinheiro para concretizar esse sonho de ter uma "Renascença com imagem". Lembro-me de debates sobre a natureza particular que a sua programação iria ter, que se pretendia assente em valores diferentes daqueles que eram seguidos pelos outros canais.

Onde tudo isso vai! A TVI acabou, enfim, por ser o que hoje é, depois de passada "a patacos" a quem deu mais por ela. 

Há pouco, ao acompanhar uma ácida "crónica" de Vitor Moura-Pinto no jornal da TVI, satirizando a visita do papa a Fátima, num modelo que nenhuma outra televisão entendeu seguir, perguntei-me o que pensarão hoje alguns dos sacrificados desse tempo, ao constatar os insondáveis caminhos dos senhores em cujas mãos o "canal da igreja" entretanto caiu.

"Ai Portugal, Portugal!"

Roubei o título a uma canção de Jorge Palma, neste dia de alegria e boa música, com a consciência de que a letra conclui pela questão "... de que é que tu estás à espera?". A um país fazem falta momentos como estes, uma difusa ideia de que tudo está a correr bem, de que os astros se conjugaram para fazer sorrir as pessoas, de que Portugal está na moda. E, na verdade, está, de uma certa forma, e isso é bom e deve ser aproveitado - no plano material e naquilo que isso possa induzir no bem-estar das pessoas que por cá vivem. Nestes tempos de alguma euforia, parecerá quase sacrílego (e em coro com malévolos e ácidos cultores da desgraça) alertar, conta o vento dominante, para o facto de que tudo isto são boas ondas passageiras, que a realidade de fundo permanece, neste que é, de há muito, o país mais pobre da Europa ocidental, emissor de gente para o mundo, fruto da incapacidade de lhe proporcionar um futuro decente na terra onde nasceu. Gozemos bem estes dias, embora o passado nos venha ensinando, desde há séculos, que temos uma endémica incapacidade para sustentar os nossos episódios de sucesso e uma insuperável dificuldade em cavalgá-los para construir um futuro sereno, próspero, que venha a evitar novos ciclos de depressão e angústia, como os que, ainda há pouco, atravessámos. O melhor serviço que poderíamos prestar a nós mesmos, nestes dias de euforia e de otimismo, seria a tomada coletiva de decisão de nos organizarmos definitivamente para a mudança, para o rigor, para a disciplina, para a não perda de tempo, para a pontualidade, para o respeito pelos outros, para o fim do xicoespertismo, para que esta não fosse mais uma "alegria breve", para usar o termo cunhado, para outra realidade, por Vergílio Ferreira. Mas, se calhar, se viéssemos um dia a mudar, não seríamos nós, dirão alguns. Provavelmente, é neste eterno ser ou não ser - glórias e derrotas, euforias e depressões, do "agora é que é!" ao "não vale a pena!" - que, afinal, está a graça (e a desgraça) deste país.

Só faltava!


"Foi o Euro 2016, depois o défice, resolveu o diabo dos bancos, isto rebenta de turistas, lá elegeu o Guterres, veio o papa, tem o Marcelo no bolso, o Benfica dele ganhou, daqui a dias os tipos de Bruxelas abençoam o fim do procedimento e, agora, até o Salvador lhe saiu em rifa - que sorte a do Costa! Ao menos - bem, isso é dinheiro em caixa! - a Teresa Coelho lá vai ganhar a Câmara de Lisboa!"‬

sábado, maio 13, 2017

Para que não digam que não falei de futebol


Segundo se sabe, o papa é um fanático do San Lorenzo de Almagro.

Na minha infância, o nome de San Lorenzo de Almagro era sinónimo de perfeição em futebol. Ao que o meu pai me contava, com admiração, aquela equipa argentina teria feito, em 1946, uma temporada de exibição pela Europa e o seu jogo, marcado por passes curtos e uma apurada técnica individual, surpreendeu e venceu todos os adversários que defrontou. Popularizado então como o "Ciclone", o San Lorenzo infligiu mesmo uma derrota pesada a uma seleção nacional portuguesa. Antes disso, no estádio do Lima, no Porto, o San Lorenzo deu uma "abada" ao Futebol Clube do Porto.

Uma noite, no final dos anos 60, num jantar no Pedro dos Leitões, na Bairrada, tive o privilégio de assistir a uma rememoração dessa partida, feita por Gomes da Costa, que fora "avançado-centro" dos portistas nesse jogo e era médico em Vila Pouca de Aguiar, e o meu pai, testemunha de bancada.

Que fique claro que, aconteça o que acontecer, este é o meu único post sobre futebol neste fim de semana. E é porque o papa anda por cá.

sexta-feira, maio 12, 2017

GNR




Depois de uma palestra em que participei, em Mangualde, na noite de ontem, perdi-me na cidade... Passava da meia-noite, não se via vivalma, andei de carro às voltas, a tentar descobrir o hotel, sem o GPS à mão.

A certo passo, cruzei-me com uma viatura da GNR, pedindo indicações. Iniciaram uma explicação mas, de súbito, disseram: "Siga-nos!" E, com imensa simpatia, conduziram-me até ao hotel, uns quilómetros adiante.

Há meses, falei aqui da experiência de um tratamento impecável por parte dos Bombeiros e da PSP, em Vila Real.

Ontem, a GNR de Mangualde confirmou-me que há, nos dias de hoje, um Portugal muito diferente, em matéria de serviço público. Para bem melhor.

As luzinhas do presidente


São contraditórias as notícias que chegam de Angola, sobre o real estado de saúde do presidente José Eduardo dos Santos. Num país cujo quotidiano, desde há décadas, está marcado por aquele que é o mais resiliente líder de África, é normal que alguma ansiedade atravesse quantos, mais cedo ou mais tarde, para o seu bem ou para o seu mal, vão ter de encarar o futuro sem ele.

Lembrei-me há pouco dos tempos em que vivi em Luanda, com Angola em guerra civil, no início dos anos 80, a cidade de certo modo sitiada, com fortes precauções de segurança e recolher obrigatório durante a noite.

Eu tinha um cozinheiro chamado Alberto, uma figura curiosa que herdara do meu antecessor na embaixada. Nunca lhe consegui extrair uma palavra de simpatia para com o MPLA e o seu regime, apenas algumas ironias crípticas sobre figuras políticas mais em voga. No fundo, sempre desconfiei que fosse simpatizante da Unita.

Um dia, fui com o Alberto buscar já não sei o quê à Corimba, no caminho para o Futungo de Belas, o complexo onde então vivia o presidente. A certo passo, ao longe, em nossa direção, vimos surgir um grande movimento de viaturas. A Luanda dessa época era muito diferente da de hoje, sem o tráfego rodoviário infernal que é o seu atual quotidiano. Um reboliço desse género era, à época, muito pouco comum.

Vi então Alberto, em geral seráfico, ficar muito agitado e dizer: "Doutor, cuidado!, são as luzinhas do presidente!" Eu estava há poucos meses em Luanda, pelo que demorei uns instantes a perceber o que ele queria dizer. O Alberto referia-se, percebi então, às dezenas de luzes, bem visíveis naquele fim de tarde com o sol a pôr-se, que se destacavam das motos dos batedores e dos carros da segurança, que precediam o cortejo de viaturas negras onde, com plausível certeza, viajava José Eduardo dos Santos.

A aproximação das "luzinhas do presidente" significava, muito simplesmente, a necessidade de qualquer viatura com que aquele aparato se cruzasse ter de encostar à berma e, mais do que isso, que o condutor colocasse as mãos sobre o volante, na posição "dez-e-dez", por forma a não criar a mais leve dúvida sobre a sua inocuidade para a segurança do líder do país. Vim a saber, mais tarde, que um cidadão português, menos atento a esta indispensável coreografia, teria sido morto, tempos antes, com disparos de uma das viaturas da segurança do cortejo.

Por que é que me lembrei disto? Porque estou numa área de serviço da autoestrada, perto da base de Monte Real, onde o papa aterrará daqui a pouco, e, embora em faixas diferentes, vislumbrei já algumas viaturas oficiais, precedidas de batedores, cheias de "luzinhas". 

E senti que é muito bom viver num país onde, felizmente, não somos obrigados a ter calafrios sempre que nos cruzamos com as "luzinhas do presidente".

O papa


Sendo nós um país cuja população se assume maioritariamente como católica, é natural que por cá seja sempre acolhido com gosto o chefe da respetiva igreja, cuja relação histórica com Portugal data da fundação da nossa nacionalidade.
Acresce que o atual papa é uma figura simpática, que projeta uma imagem de humanismo que passa muito para além das fronteiras religiosas.
Por tudo isso, e pelo que me toca, seja muito bem vindo a Portugal, papa Francisco!

O outro 25

Se a manifestação dos 50 anos do 25 de Abril foi o que foi, nem quero pensar o que vai ser a enchente na Avenida da Liberdade no 25 de novem...