Há dias, fui convidado a fazer uma palestra sobre a Europa a dezenas de membros de um "global master of arts program" da universidade americana Fletcher School, dedicada a "mid-to-senior level international affairs professionals". Acho sempre muito estimulante falar a pessoas oriundas de outros mundos, embora acabasse por encontrar no grupo alguns participantes idos de países europeus, o que aliás suscitou um interessante cruzamento de perspectivas.
No termo do debate, que durou quase duas horas, dirigiu-se-me um indonésio, perguntando se não me recordava dele. A cara dizia-me alguma coisa, mas não conseguia enquadrá-la no tempo. Lembrou-me que tinha sido um dos meus três vice-presidentes, quando, em 2001/2002, eu presidira, em Nova Iorque, à 2ª Comissão da Assembleia Geral da ONU (na imagem). Esta Comissão, que trata de assuntos económicos, financeiros e ambientais, é a maior das sete em que se subdivide a acção da Assembleia Geral e, frequentemente, uma daquelas em que a obtenção de consensos se revela mais complicada. Recordo-me de longas semanas de debate, até altas horas, com os Estados Unidos (já então, a administração Bush) e o Irão a polarizarem algumas das polémicas. Quando concorri à eleição para a respectiva presidência, estava longe de supor o que me esperava...
O meu amigo indonésio trouxe então para o grupo uma história que, essa sim!, eu recordava bem. No termo dos trabalhos da Comissão, era tradição a delegação indonésia oferecer, nas instalações da sua missão em Nova Iorque, uma recepção às várias centenas de delegados. Convidado para dirigir algumas palavras aos presentes, fiz então notar que, poucos anos antes, se alguém tivesse aventado a ideia de um representante diplomático português poder vir a falar numa Embaixada indonésia teria, com toda a certeza, sido considerado um lunático. Ora bem, as coisas tinham mudado e ali estávamos nós a trabalhar conjuntamente, com toda a serenidade, agora que as nuvens entre Jacarta e Lisboa se tinham dissipado definitivamente, graças à resolução da crise de Timor-Leste.
O meu amigo indonésio trouxe então para o grupo uma história que, essa sim!, eu recordava bem. No termo dos trabalhos da Comissão, era tradição a delegação indonésia oferecer, nas instalações da sua missão em Nova Iorque, uma recepção às várias centenas de delegados. Convidado para dirigir algumas palavras aos presentes, fiz então notar que, poucos anos antes, se alguém tivesse aventado a ideia de um representante diplomático português poder vir a falar numa Embaixada indonésia teria, com toda a certeza, sido considerado um lunático. Ora bem, as coisas tinham mudado e ali estávamos nós a trabalhar conjuntamente, com toda a serenidade, agora que as nuvens entre Jacarta e Lisboa se tinham dissipado definitivamente, graças à resolução da crise de Timor-Leste.
Um dos aspectos mais gratificantes da experiência diplomática é a possibilidade de sermos capazes de superar divergências que, em certos momentos, parecem intransponíveis e, no final, conseguirmos colaborar construtivamente em causas comuns de interesse colectivo.