domingo, janeiro 10, 2010

Encontros diplomáticos

Há dias, fui convidado a fazer uma palestra sobre a Europa a dezenas de membros de um "global master of arts program" da universidade americana Fletcher School, dedicada a "mid-to-senior level international affairs professionals". Acho sempre muito estimulante falar a pessoas oriundas de outros mundos, embora acabasse por encontrar no grupo alguns participantes idos de países europeus, o que aliás suscitou um interessante cruzamento de perspectivas.

No termo do debate, que durou quase duas horas, dirigiu-se-me um indonésio, perguntando se não me recordava dele. A cara dizia-me alguma coisa, mas não conseguia enquadrá-la no tempo. Lembrou-me que tinha sido um dos meus três vice-presidentes, quando, em 2001/2002, eu presidira, em Nova Iorque, à 2ª Comissão da Assembleia Geral da ONU (na imagem). Esta Comissão, que trata de assuntos económicos, financeiros e ambientais, é a maior das sete em que se subdivide a acção da Assembleia Geral e, frequentemente, uma daquelas em que a obtenção de consensos se revela mais complicada. Recordo-me de longas semanas de debate, até altas horas, com os Estados Unidos (já então, a administração Bush) e o Irão a polarizarem algumas das polémicas. Quando concorri à eleição para a respectiva presidência, estava longe de supor o que me esperava...

O meu amigo indonésio trouxe então para o grupo uma história que, essa sim!, eu recordava bem. No termo dos trabalhos da Comissão, era tradição a delegação indonésia oferecer, nas instalações da sua missão em Nova Iorque, uma recepção às várias centenas de delegados. Convidado para dirigir algumas palavras aos presentes, fiz então notar que, poucos anos antes, se alguém tivesse aventado a ideia de um representante diplomático português poder vir a falar numa Embaixada indonésia teria, com toda a certeza, sido considerado um lunático. Ora bem, as coisas tinham mudado e ali estávamos nós a trabalhar conjuntamente, com toda a serenidade, agora que as nuvens entre Jacarta e Lisboa se tinham dissipado definitivamente, graças à resolução da crise de Timor-Leste.

Um dos aspectos mais gratificantes da experiência diplomática é a possibilidade de sermos capazes de superar divergências que, em certos momentos, parecem intransponíveis e, no final, conseguirmos colaborar construtivamente em causas comuns de interesse colectivo.

8 comentários:

Anónimo disse...

Em cada texto que escreve registo a forma apaixonada com que exerce a sua actividade Profissional.

Um abraço caro Embaixador,

Pedro Dâmaso

Helena Sacadura Cabral disse...

Senhor Embaixador, permita-me que acrescente que essa missão "de colaborar construtivamente em causas comuns de interesse colectivo" devia fazer parte de um juramento por parte de todos aqueles que desempenhem funções políticas de relevo, que o mesmo é dizer, relativas ao bem comum. Como acontece na medicina e na enfermagem, por exemplo!

Julia Macias-Valet disse...

"AVENTAR"...que palavra deliciosa !
É utilizada vulgarmente no alentejo. Mas em Lisboa, nao. Os lisboetas atiram as coisas. Nao as aventam.
Mas sera ou nao sera poético "deitar as coisas ao vento" ?

Anónimo disse...

"Colaborar construtivamente em causas comuns de interesse colectivo".

In COSTA,Francisco Seixas (2010)"Encontros Diplomáticos"Ed. Europa,Paris/Portugal Duas ou três coisas.Blogue.Pt

A minha Sugestão... (se alguém me ligasse...)

Era...

Porta de entrada da Assembleia da República;

Sr. Deputado já Leu, Interiorizou, Digeriu a essência do Seu Mandato Social descrita sabiamente e supracitada em Epigrafe...

Ai Não!...
Então ou não recebe este mês, ou vai para o seu lugar, Caladinho de preferência, leva este caderno tipo João de Deus e escreve nas linhas e entrelinhas quinhentas vezes a expressão idiomática que não deve esquecer, e mais se tiver tempo, ninguém votou em si ...pelo menos de consentimento devida e claramente informado, ou seja se os arrependidos se salvassem, OK... Se for católico reze o acto de contrição...

Enfim pelo menos recriar um espaço de ilusão de pensamento reflexivo, trabalho árduo e seriedade como o expresso na expressão Feliz...
Eu também acredito Nela...
Isabel Seixas

Julia Macias-Valet disse...

Uma frase desapareceu do fim do meu post :

È que o vento tem essa grande força de empurrar as nuvens...

Helena Sacadura Cabral disse...

Júlia, essencial esse vento nesta terra de neblina...

Anónimo disse...

Encontros diplomáticos...

Um dia encontrei-me a braços com uma sapateira para fazer um paté ...

Ainda na fase de dissecação fiquei impressionada com o interior da carapaça e sem saber o que poderia aproveitar(Tudo me parecia excremento,e pensei, meu Deus será que tenho andado a comer isto nas marisqueiras?).
Bem decidi aproveitar tudo o que se assemelhava ao interior das patas desfiado, que me pareceu comestível e com um ar limpo.

Fiz um béchamel com 250ml de leite gordo, um pacote de natas e uma colher de sopa de farinha normal tipo 55, sem manteiga, juntei a sapateira,
6 delicias do mar desfiadas e cortadas, fui mexendo até deixar ferver, de forma a tomar o gosto da sapateira e formar um creme espesso.

Fiz a maionese com um ovo inteiro óleo em fio, sal grosso qb batendo o creme da maionese com a varinha mágica até à quantidade aproximada de 300ml sempre a bater com a varinha e a juntar o óleo, quando a quantidade e a textura espessa é suficiente tempera-se a gosto com sumo de limão e vinagre.

Juntei numa molheira "do serviço de jantar" , o creme de sapateira e a maionese e fiz o tempero final com acréscimo de limão e vinagre a gosto...

Servi com tostas pequenas redondas e rectangulares finas
( cx pequena destinadas ao queijo da serra "bimbo")e quadradas pequenas e de dimensões normais, marca pingo doce /mini preço...

Boa degustação...promove encontros
Diplomáticos.
Isabel Seixas

Anónimo disse...

Creio que um dos grandes méritos da sua pessoa, Senhor Embaixador, é gostar de partilhar as suas experiências e a sua visão do mundo com o outros, algo que faz de forma extremamente eloquente.

Neste caso os prendados foram um grupo de docentes e de alunos da Fletcher School of Law and Diplomacy, da Tufts University de Boston.

Um grande abraço e os sinceros agradecimentos em nome de todos os GMAPers

Ah! Leão!

Quantos pontos poderia o Sporting ter poupado se tivesse havido uma decisão mais ponderada na escolha do sucessor de Amorim?