segunda-feira, março 17, 2025

Português

O professor Jorge Miranda, uma grande figura do Direito, que há dias disse que todos os imigrantes que cá chegam deveriam saber falar português, deveria refletir no facto de, ao longo dos séculos, aos muitos portugueses que emigraram pelo mundo, em busca de uma vida melhor do que aquela que o seu país lhes proporcionava, ninguém perguntou que língua falavam.

9 comentários:

Carlos disse...

Eu acho que a leitura das palavras do Prof Jorge Miranda é demasiado literal (eu apenas consegui ler um breve resumo que cita umas quantas frases …o que não é uma transcrição completa). Da minha leitura o que ressalta para além duma mensagem humanista sobre a imigração é a afirmação de que o conhecimento da língua do país de acolhimento constituir um fator que facilita a integração social dos imigrantes na comunidade do país de acolhimento e que por isso deveria ser privilegiado para uma integração mais bem sucedida.

Eu que vivi mais de uma década num país com uma importante comunidade portuguesa (o Luxemburgo) constatei que quando foi estabelecido o primeiro acordo de emigração (ainda nos tempos de Marcelo Caetano) um dos fatores que pesou na decisão das autoridades luxemburguesas foi o facto dos portugueses serem conhecidos como “gente em geral pacífica, almas católicas e tementes a Deus que respeitavam a ordem e a família” nas palavras dum amigo luxemburguês que acompanhava os contingentes de trabalhadores portugueses. Para garantir a manutenção da ordem os portugueses eram acompanhados por padres e elementos ligados à DGS para evitar que o contágio por “agitadores”.

Mesmo 20 anos depois da chegada dos primeiros contingentes de trabalhadores portugueses, o português era ainda uma língua de trabalho em muitos serviços da administração pública como por exemplo a Segurança Social. O português era também uma das línguas em quer eram publicados os boletins informativos do CFL (caminhos de ferro do Luxemburgo). Quan deixei o Luxemburgo há quase 20 anos os portugueses continuavam a enfrentar problemas na escolarização das crianças pois o ensino luxemburguês sendo ministrado em várias línguas (alemão, luxemburguês, francês e salvo erro inglês) pois a comunidade lusófona tinha dificuldades com o luxemburguês e sobretudo o alemão. Não se tratava do ensino destas línguas mas lecionar algumas matérias numa destas línguas. Isto tinha sérias consequências no sucesso escolar e no futuro destas crianças que eram quase sistematicamente encaminhavas para a “via das escolas profissionais” perdendo o acesso ao ensino universitário.

O exemplo acima mostra que a língua é indubitavelmente importante para a integração social das comunidades imigrantes. Claro que não é o único fator nem constitui por si só uma garantia de uma bem sucedida integração. Há outros fatores de natureza sócio-cultural que contribuem para o efeito todavia a língua é um elemento que não pode ser menosprezado.

PS - Lamentavelmente constatei no X uma série de comentários que vilipendiavam o Prof Jorge Miranda (“senil” foi o termo usado por vários intervenientes). Eu só raramente comento nesse esgoto a céu aberto mas acho chocante a falta de urbanidade demonstrada por muitas pessoas (o Embaixador protege-se restringindo a um grupo de eleitos os comentários … eu, por exemplo, não estou autorizado)

Carlos disse...

Eu acho que a leitura das palavras do Prof Jorge Miranda é demasiado literal (eu apenas consegui ler um breve resumo que cita umas quantas frases …o que não é uma transcrição completa). Da minha leitura o que ressalta para além duma mensagem humanista sobre a imigração é a afirmação de que o conhecimento da língua do país de acolhimento constituir um fator que facilita a integração social dos imigrantes na comunidade do país de acolhimento e que por isso deveria ser privilegiado para uma integração mais bem sucedida.

Eu que vivi mais de uma década num país com uma importante comunidade portuguesa (o Luxemburgo) constatei que quando foi estabelecido o primeiro acordo de emigração (ainda nos tempos de Marcelo Caetano) um dos fatores que pesou na decisão das autoridades luxemburguesas foi o facto dos portugueses serem conhecidos como “gente em geral pacífica, almas católicas e tementes a Deus que respeitavam a ordem e a família” nas palavras dum amigo luxemburguês que acompanhava os contingentes de trabalhadores portugueses. Para garantir a manutenção da ordem os portugueses eram acompanhados por padres e elementos ligados à DGS para evitar que o contágio por “agitadores”.

Mesmo 20 anos depois da chegada dos primeiros contingentes de trabalhadores portugueses, o português era ainda uma língua de trabalho em muitos serviços da administração pública como por exemplo a Segurança Social. O português era também uma das línguas em quer eram publicados os boletins informativos do CFL (caminhos de ferro do Luxemburgo). Quan deixei o Luxemburgo há quase 20 anos os portugueses continuavam a enfrentar problemas na escolarização das crianças pois o ensino luxemburguês sendo ministrado em várias línguas (alemão, luxemburguês, francês e salvo erro inglês) pois a comunidade lusófona tinha dificuldades com o luxemburguês e sobretudo o alemão. Não se tratava do ensino destas línguas mas lecionar algumas matérias numa destas línguas. Isto tinha sérias consequências no sucesso escolar e no futuro destas crianças que eram quase sistematicamente encaminhavas para a “via das escolas profissionais” perdendo o acesso ao ensino universitário.

O exemplo acima mostra que a língua é indubitavelmente importante para a integração social das comunidades imigrantes. Claro que não é o único fator nem constitui por si só uma garantia de uma bem sucedida integração. Há outros fatores de natureza sócio-cultural que contribuem para o efeito todavia a língua é um elemento que não pode ser menosprezado.

PS - Lamentavelmente constatei no X uma série de comentários que vilipendiavam o Prof Jorge Miranda (“senil” foi o termo usado por vários intervenientes). Eu só raramente comento nesse esgoto a céu aberto mas acho chocante a falta de urbanidade demonstrada por muitas pessoas (o Embaixador protege-se restringindo a um grupo de eleitos os comentários … eu, por exemplo, não estou autorizado)

Anónimo disse...

O Professor Jorg Miranda não faz ideia do que é a emigração. Nunca navegou nesses mares.

Luís Lavoura disse...

Exatissimamente.
Deevria também saber o professor Miranda que muitos migrantes, tal como muitas outras pessoas, são pouco dotadas para línguas e têm muita dificuldade em aprendê-las. O que não quer dizer que sejam burros ou inúteis - veja-se o caso de Albert Einstein, que emigrou para os EUA mas nunca chegou a conseguir falar bem inglês.
Os imigrantes devem ter a liberdade de não serem capazes, ou até de não quererem, aprender a falar português.

João Cabral disse...

Cada país tem os seus requisitos para a entrada de estrangeiros. Não entendo sempre estas comparações com os portugueses que saem de Portugal. Quando chegam a qualquer país têm requisitos a cumprir. Ou teremos de deixar entrar toda a gente sem critério? Isto é um absurdo.

Flor disse...

Eu entendi o que o Sr. Professor quis dizer foi que os imigrantes que entrassem no nosso País deveriam ser só os que falassem português das antigas colónias e do Brasil.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Exatamente!
Quanto ao falar português, é curioso ninguém se incomodar com o facto de imigrantes do Centro e Norte da Europa viverem há anos em Portugal e mal saberem dizer duas palavras.
Já se a tez de pele for mais escura, é cobras e lagartos de que não "se dignam" a aprender português. A trabalhar de sol a sol deve haver imenso tempo para aprender português em meia dúzia de meses.

Anónimo disse...

Por acaso, os imigrantes do "Centro e Norte da Europa" até se dão ao trabalho de aprender português. Agora, há que distinguir os que vêm para cá com 60 anos gozar uma reforma ao sol e aqueles que vêm para cá "viver e trabalhar". Basta ir ao Algarve e há imensos imigrantes "maus" (os brancos vindos de países desenvolvidos), que falam português e cujos filhos são tão fluentes na nossa língua como nós.

Chamo a atenção para a viúva do Saramago - tão querida da nossa Esquerda -, que, sendo cidadã portuguesa, "escolhe" só falar espanhol, mesmo perante as mais altas individualidades do Estado. Ora, aqui está um exemplo de uma imigrante do "Sul da Europa" (e que não tem pele nada escura), que não respeita um princípio básico da integração no país de acolhimento. Mas o pessoal gosta, o pessoal gosta...

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Imigrantes bons e maus? Isso para mim isso não existe!
Efetivamente, vivo no Oeste, e conheço bastantes pessoas que cá vivem há anos e apenas dizem duas ou três coisas (pun intended) que não dá para uma conversa. Pessoalmente, não me incomoda nada, que gosto de exercitar o meu pobre francês e o meu razoável inglês, o que me incomoda são os dois pesos e duas medidas - perante uns está mais ou menos tudo bem, perante outros é "esta gente, isto e aquilo".

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