Sou pouco dado a ir a filmes que estão na berra. Faço mesmo gala de não correr a ver os que tiveram Óscares, antes de passarem uns bons tempos sobre o início da sua exibição. Às vezes, acabo por só os ver na televisão.
Pratico o mesmo com a leitura de autores a quem tiver saído, na rifa de Estocolmo, o Nobel da literatura. Só os leio, quando os leio, mais de um ano depois. Idem com os restaurantes ditos imperdíveis. Só lá vou quando já quase não se fala deles e ninguém lhes liga. É isso: em toda a minha vida, sempre mantive uma forte rejeição às modas. É claro que isso me coloca um pouco à margem nos jantares "en ville" ou nas almoçaradas em tertúlias. Mas cada um é como é, não é?
Ontem, porém, uma circunstância muito pontual, por cancelamento de outro compromisso, deu-me a possibilidade de ir ver o filme brasileiro "Ainda estou aqui". Não escondo que algum viés político me fez privilegiar a ida a essa "fita". Um filme contra uma sinistra ditadura como foi a brasileira é, para mim, algo interessante. Não me arrependi: filmes como este, ainda por cima nos tempos que correm, oferecem boas lições históricas. Resta saber se alguém as aprenderá, ou melhor, se elas têm alguma eficácia para trabalhar as consciências e conseguir mudar o curso das coisas.
Já agora, deixo a minha opinião sobre o filme. Tem belos pormenores de realização, com apelativas imagens de época, embora os saltos no futuro quebrem e não acompanhem o ritmo narrativo anterior, acabando por "documentarizar" uma parte significativa da obra. Achei pena! Fernanda Torres revela-se uma magnífica atriz.
No final do filme, rodeado de pipoqueiros, tive a cobardia de não abrir uma salva de palmas. Teria sido instrutivo saber se haveria muita gente a seguir-me. Provavelmente não teria. Mas o facto é que não tive a coragem de ser coerente com o que estava a pensar.
4 comentários:
confesso o mesmo pecado ... nao bati as palmas que gostava, também porque o filme está para além do documentário militante
Vi o filme em Aveiro. No final o silêncio era absoluto: nem os pipoqueiros o quebraram.
E o nível do som? Não era ensurdecedor?
Isso mesmo! Ficam as memórias de tempos difíceis, os exemplos de coragem silenciosa, muitas vezes anónima, (mas nem por isso menos valorosa).
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