Naquela noite de dezembro de 2008, num belo jardim da casa de um casal amigo, sobre o lago Paranoá, em Brasília, o jantar reunido para a nossa despedida teve algumas dezenas de pessoas, distribuídas por várias e divertidas mesas. O dono da casa, uma pessoa de extrema simpatia de quem eu tinha ficado um bom amigo, era uma das figuras proeminentes da vida social da capital brasileira. Em sua casa, eu tinha conhecido o "tout Brasília", logo após a minha chegada. A sua mulher era uma anfitriã fantástica. Toda a noite correu extremamente bem... até um certo momento.
Já nos aproximávamos da meia-noite e alguns convidados iam abandonando o jantar. A certa altura, a mulher de um dos nossos amigos deu por falta da sua carteira Chanel. Depois de uma busca sem resultados, e com base em alguns indícios, deduziu-se que ela tivesse sido levada, eventualmente por engano, por uma outra convidada, que já tinha saído com o marido, uma figura então muito conhecida e com público destaque.
Entretanto, alguém do serviço da casa alertou para o facto de terem desaparecido vários talheres do faqueiro de prata, que estavam numa das mesas. E aí começaram a somar-se dois mais dois: alguns tinham notado que, no termo do jantar, a mulher dessa destacada figura tinha mantido embrulhado, junto de si, no que veio a apurar-se ser uma toalha de linho entretanto retirada da casa de banho, um volume que continha, manifestamente, os tais talheres desaparecidos.
O grupo dos convidados que restavam, onde havia políticos e outras personalidades de topo da vida brasileira, partilharam então as impressões de memória recente sobre o que tinham observado no comportamento, que a diversos outros títulos se mostrara bizarro, que a referida senhora tivera durante o jantar. E a conclusão foi unânime e inequívoca: fora ela a autora dos furtos. A nossa amiga que tinha ficado sem a caríssima bolsa, além de furiosa, estava inconsolável: com ela tinham ido também as chaves de sua casa...
Chamar a polícia estava fora de questão. Nas horas e dias seguintes, diligências particulares foram levadas a cabo junto da tal figura pública, que acabou por ter um comportamento curioso: nunca admitou expressamente a culpabilidade da sua mulher, nem sequer assumindo uma eventual cleptomania como justificação, mas acabou por compensar, com um cartão e a oferta de uma outra carteira, a nossa amiga a que a sua desaparecera. As pratas, contudo, foram levadas pelo vento...
Na ventanosa noite de ontem, durante um jantar, desta vez em nossa casa, em Lisboa, a simpática anfitriã de há 17 anos contou, com deliciosos pormenores, esse atípico jantar de despedida que ela e o marido nos tinham oferecido em Brasília. À distância, diga-se, tudo pareceu bem mais divertido.
1 comentário:
Suponho que a cleptomania é uma doença do foro psiquiátrico. Os cleptómanos precisam de tratamento. Por isso antipatizo com os comentários de gozo com um deputado que parece sofrer disso (apesar de pertencer a um partido que detesto). Não merece gozo mas sim tratamento e soa-me muito mal o gozar-se com quem é doente. Acho mesmo inadmissível.
Zeca
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