sábado, março 29, 2025

Um abraço ao Marcos, desde Lisótima


Neste tempo em que os amigos se vão como as cerejas, uns atrás dos outros, sei que arrisco converter este espaço num somatório de notas necrológicas. Mas não posso nem quero deixar de fazê-lo. O meu mundo, que por aqui anoto ao sabor do impulso, sem rotina de diarista*, é o que é e, por muito que procuremos agarrar o futuro, o passado e os seus mortos fazem parte integrante da nossa vida.

Chega-me agora a notícia de que morreu, no Recife, aos 85 anos, Marcos Vilaça, um magistrado, escritor e destacada figura da cultura brasileira, que por duas vezes ocupou o cargo de presidente da Academia Brasileira de Letras. E que era meu e nosso amigo - nosso, isto é, de Portugal, que o distinguiu oficialmente. Por aqui era também académico correspondente da Academia das Ciências. 

Marcado na existência pela prematura morte de um filho e, muitos anos mais tarde, pelo desaparecimento de Maria do Carmo, a sua simpática mulher, Marcos, que à primeira vista afivelava um carão grave e enganador, tinha um humor magnífico e uma cultura exuberante, com que sabia alegrar os convívios e entreter os amigos. E tinha muitos.

Marcos Vilaça não visitará nunca mais Lisótima, nome que, desde sempre, ele dava a Lisboa.

* Lembrei-me agora de que, no dizer brasileiro, "diarista" significa "mulher/ homem a dias".

2 comentários:

Flor disse...

Os meus pêsames. Que descanse em Paz.

João Cabral disse...

Uma pessoa cultíssima e distinta, e com a qual raramente concordava, especialmente quanto ao famigerado Acordo Ortográfico. Mas isso nunca me impediu de reconhecer em Marcos Vilaça um homem cosmopolita no melhor sentido do termo. Requiescat in pace.

Xenofobia

O diretor da PJ, Luís Neves, cometeu um lapso ao deixar-se ficar na imagem ao lado de Fernando Gomes. A extrema-direita, que nunca lhe perdo...