Tive muito gosto de participar ontem no Congresso "Da minha Lingua vê-se o Mundo", organizada pelo jornal "Público", no seu 35° aniversário e nos 500 anos de Camões. Foi um debate animado com Álvaro de Vasconcelos, moderado pelo jornalista Manuel Carvalho.
Aa minhas intervenções centraram-se no estatuto internacional da língua, nos limites da sua projeção e no grau razoável de ambição que é possível ter para a sua contínua promoção. Falei do papel do Brasil e do futuro da língua em função do ascendente demográfico previsível de Angola e Moçambique, no final do século. Procurei ser realista, tentando não ser voluntaristicamente eufórico nas perspetivas futuras do Português no mundo. O patrioteirismo linguístico não faz o meu estilo.
1 comentário:
Prometi a mim mesmo, depois da reabertura dos comentários, não voltar a fazê-lo.
Enfim, e sobretudo em tudo o que diz respeito a África e Moçambique, não resisti e perante esta publicação do Senhor Embaixador que não embarca e bem no “patrioteirismo linguístico”, julgo importante referir que já não é só no Brasil que se fala um idioma que será no futuro (se não é já) denominado de “brasileiro” e não de “língua portuguesa”.
Também em Moçambique a realidade se aproxima de uma nova língua portuguesa, o “moçambicanismo”.
Podem achar ridículo ou exagerado, mas aí vai um trecho de um relato de um moçambicano, aquando da minha última visita ao meu Moçambique natal, num convívio na cidade da Beira – curiosamente a cidade colonial da escola primária e do liceu de Álvaro de Vasconcelos – mas também a minha colonial, e à qual volto sempre para conviver com os meus amigos (“chamuares”) moçambicanos que a lei da vida ainda não levou:
«Depois de apanhar o machibombo para ir ao chunga moio, comprar um camarão médio, o que depois de bichar demoradamente, desconsegui. Voltei de tchopela à flat do Maquinino, onde numa grande banga com os meus brada e umas chunguilas catorzinhas, nos limitamos a tchilar e a beber as bazucas que tinha deixado a refrescar na geleira.»
Se conseguirem traduzir para o português de Portugal, significa que também já dominam o “moçambicanismo”.
Como bem realça o Senhor Embaixador ao recusar o “patrioteirismo linguístico”, e como acontece com outras línguas, a língua portuguesa local (Brasil, mas também em Angola e Moçambique) não se ficou pela aceitação dos termos (normas e estilos) vindos da origem ou do passado.
Estão a criar “novas falas” (não tanto na escrita, como se vê em Cabo Verde onde no quotidiano os cabo-verdianos comunicam sobretudo em “crioulo”, mas depois o português é dominante em todas as situações formais), sabendo que falar com eloquência “o português de Portugal” vira ridículo quando nos diversos mundos dos Palop´s se vão espalhando novas línguas de comunicação.
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