Ver televisão? Oh Senhor Manuel Campos; Serà esta a sua velha história? " Há já alguns anos, e se recordo bem quando a rainha Elisabete de Inglaterra foi coroada, apareceu lá por casa uma desconhecida. Desde o princípio, toda a gente ficou fascinada com esta encantadora personagem e, em seguida, foi convidada a viver com a nossa família. A estranha aceitou e, desde então, esteve sempre connosco e tinha um lugar muito especial Quando deixei a minha casa parental, e que os meus pais desapareceram, ela seguiu-me para a minha. Instalou-se sem dificuldade como se sempre tivesse vivido connosco. Durante anos, a estranha era nossa narradora. Mantinha-nos enfeitiçados por horas e horas com aventuras, mistérios e comédias. Tinha respostas para qualquer coisa que quiséssemos saber : - de política, história ou ciência. Conhecia tudo do passado, do presente e até podia predizer o futuro! Levou-me frequentemente ao futebol. Fazia-me rir, e quase me fazia chorar. As blasfémias, os palavrões, por exemplo, não eram permitidas em nossa casa…nem por parte nossa, nem dos nossos amigos ou de qualquer um que nos visitasse. E nós calávamo-nos. Entretanto, a nossa visitante de longo prazo usava sem problemas a sua linguagem inapropriada que às vezes …passava a linha! E tinha muitos vícios! Até nos incitava a beber álcool. e a fazê-lo regularmente. Fez com que o cigarro parecesse fresco e inofensivo, e que os charutos e os cachimbos fossem distinguidos. Falava livremente (talvez demasiado) sobre sexo. Os seus comentários eram às vezes evidentes, outros sugestivos, e por vezes vergonhosos. Os meus conceitos sobre relações nunca foram influenciadas fortemente pela estranha, mas ela fez tudo o que podia e faz, para nos mudar. Repetidas vezes a criticamos, mas ela nunca fez caso dos nossos valores, e, mesmo assim, permaneceu cá em casa. Passaram-se mais de cinquenta anos desde que a estranha veio para a nossa família. Desde então mudou muito; já não é tão fascinante como era no princípio. Não obstante, se hoje me visitarem, ainda a encontrarão sentada no seu canto, esperando que alguém queira escutar as suas conversas ou dedicar o seu tempo livre a fazer-lhe companhia... Mas eu, para a contrariar, comprei desde há muito, uma bela instalação de rádio, onde escuto concertos, óperas e outras músicas divinas! Acabei com o seu imperialismo, que é um nome que detesto. Há uns tempos para cá só nos fala de Guerras...Mortos...Caos...Miséria! O seu nome? Ah!.... O seu nome… Chama-se TELEVISÃO! É isso mesmo: TELEVISÃO! Agora tem um marido que se chama Computador, um filho que se chama Telemóvel e um neto de nomeTablet. Mas estes só têm direito à palavra quando quero, onde quero, ou escrevo no Facebook. A estranha agora tem uma família. Em muitas casas, esta família escorraçou a verdadeira família.
Uma história que gostei muito de ler, obrigado pela partilha. Mas não é essa a história de que falei, a minha é a de uma anedota, a bem dizer um chiste, em voga há muitos anos, algo que sempre foi considerado “de salão” mas entretanto os “salões” mudaram, apesar de não ter uma única palavra ou ideia censurável nunca se sabe. Quem a conhece a reconhecerá, quem não a conhece a imaginará. A televisão começou por transformar o círculo familiar num semi-círculo, a alegria de estarem juntos e falarem de tudo transformou-se no desespero de não poderem mudar de canal e já nem lhes apetecer falar de nada. Como modo de obstar a isso as pessoas foram distribuindo aparelhos por toda a casa, passaram a vários semi-círculos (avós, pais, adolescentes, crianças), alguns deles unipessoais. Com o tempo já nem os aparelhos de televisão são precisos, está tudo em frente deles a brincar com o smartphone, a partilhar chachadas e a dar “likes” a todas as futilidades possíveis. Aqui em casa há um pacote TV+Internet+Telefone fixo igual ao que tenho em Lisboa, uma TV igualzinha à que tenho em Lisboa, um 2º aparelho ligado a um leitor de DVD e com wi-fi igualzinho ao que tenho em Lisboa (até as impressoras são iguais), não quero que me falte nada. Mas minha mulher vê nas televisões séries e filmes e eu vejo no meu aparelho DVD e Youtube (este último é um “mundo”), não vejo televisão há 32 anos excepto jogos da selecção nacional. E é hoje que vou finalmente ver uma hora de televisão! Mais uma vez obrigado pelo texto. Cumprimentos
10 comentários:
"É hoje! É hoje!", como naquela velha história que não conto aqui.
Só que no meu caso particular se refere a "é hoje que eu vou ver televisão!"
Ver televisão? Oh Senhor Manuel Campos; Serà esta a sua velha história? " Há já alguns anos, e se recordo bem quando a rainha Elisabete de Inglaterra foi coroada, apareceu lá por casa uma desconhecida.
Desde o princípio, toda a gente ficou fascinada com esta encantadora personagem e, em seguida, foi convidada a viver com a nossa família.
A estranha aceitou e, desde então, esteve sempre connosco e tinha um lugar muito especial
Quando deixei a minha casa parental, e que os meus pais desapareceram, ela seguiu-me para a minha.
Instalou-se sem dificuldade como se sempre tivesse vivido connosco.
Durante anos, a estranha era nossa narradora.
Mantinha-nos enfeitiçados por horas e horas com aventuras, mistérios e comédias.
Tinha respostas para qualquer coisa que quiséssemos saber : - de política, história ou ciência.
Conhecia tudo do passado, do presente e até podia predizer o futuro!
Levou-me frequentemente ao futebol.
Fazia-me rir, e quase me fazia chorar.
As blasfémias, os palavrões, por exemplo, não eram permitidas em nossa casa…nem por parte nossa, nem dos nossos amigos ou de qualquer um que nos visitasse. E nós calávamo-nos.
Entretanto, a nossa visitante de longo prazo usava sem problemas a sua linguagem inapropriada que às vezes …passava a linha!
E tinha muitos vícios! Até nos incitava a beber álcool. e a fazê-lo regularmente.
Fez com que o cigarro parecesse fresco e inofensivo, e que os charutos e os cachimbos fossem distinguidos.
Falava livremente (talvez demasiado) sobre sexo. Os seus comentários eram às vezes evidentes, outros sugestivos, e por vezes vergonhosos.
Os meus conceitos sobre relações nunca foram influenciadas fortemente pela estranha, mas ela fez tudo o que podia e faz, para nos mudar.
Repetidas vezes a criticamos, mas ela nunca fez caso dos nossos valores, e, mesmo assim, permaneceu cá em casa.
Passaram-se mais de cinquenta anos desde que a estranha veio para a nossa família. Desde então mudou muito; já não é tão fascinante como era no princípio.
Não obstante, se hoje me visitarem, ainda a encontrarão sentada no seu canto, esperando que alguém queira escutar as suas conversas ou dedicar o seu tempo livre a fazer-lhe companhia...
Mas eu, para a contrariar, comprei desde há muito, uma bela instalação de rádio, onde escuto concertos, óperas e outras músicas divinas! Acabei com o seu imperialismo, que é um nome que detesto.
Há uns tempos para cá só nos fala de Guerras...Mortos...Caos...Miséria!
O seu nome? Ah!.... O seu nome…
Chama-se TELEVISÃO!
É isso mesmo: TELEVISÃO!
Agora tem um marido que se chama Computador, um filho que se chama Telemóvel e um neto de nomeTablet. Mas estes só têm direito à palavra quando quero, onde quero, ou escrevo no Facebook.
A estranha agora tem uma família.
Em muitas casas, esta família escorraçou a verdadeira família.
Excelente! Um comentário para copiar, guardar, e ler de vez em quando.
Muito bom texto!
Tony Fedup
Uma história que gostei muito de ler, obrigado pela partilha.
Mas não é essa a história de que falei, a minha é a de uma anedota, a bem dizer um chiste, em voga há muitos anos, algo que sempre foi considerado “de salão” mas entretanto os “salões” mudaram, apesar de não ter uma única palavra ou ideia censurável nunca se sabe.
Quem a conhece a reconhecerá, quem não a conhece a imaginará.
A televisão começou por transformar o círculo familiar num semi-círculo, a alegria de estarem juntos e falarem de tudo transformou-se no desespero de não poderem mudar de canal e já nem lhes apetecer falar de nada.
Como modo de obstar a isso as pessoas foram distribuindo aparelhos por toda a casa, passaram a vários semi-círculos (avós, pais, adolescentes, crianças), alguns deles unipessoais.
Com o tempo já nem os aparelhos de televisão são precisos, está tudo em frente deles a brincar com o smartphone, a partilhar chachadas e a dar “likes” a todas as futilidades possíveis.
Aqui em casa há um pacote TV+Internet+Telefone fixo igual ao que tenho em Lisboa, uma TV igualzinha à que tenho em Lisboa, um 2º aparelho ligado a um leitor de DVD e com wi-fi igualzinho ao que tenho em Lisboa (até as impressoras são iguais), não quero que me falte nada.
Mas minha mulher vê nas televisões séries e filmes e eu vejo no meu aparelho DVD e Youtube (este último é um “mundo”), não vejo televisão há 32 anos excepto jogos da selecção nacional.
E é hoje que vou finalmente ver uma hora de televisão!
Mais uma vez obrigado pelo texto.
Cumprimentos
Uma belíssima lição de História.
Um obrigado aqui deste dois.
Esteve muito bem. O Vítor Gonçalves é um bom entrevistador e isso ajuda. Por si e por ele, foi um bom momento de televisão.
Excelente. Muito obrigado por tantos esclarecimentos. Bem haja.
O meu comentário às 22.09 era obviamente dirigido ao Senhor Joaquim de Freitas, tendo eu falhado essa menção especifica.
Do facto lhe peço desculpa.
Joaquim de Freitas adorei o seu comentário/texto. Confesso eu estava entre a "telefonia" e o televisor. : )
Enviar um comentário