quarta-feira, dezembro 04, 2019

Tratado em Lisboa


Numa sessão organizada no Palácio das Necessidades, por ocasião da passagem do 10° aniversário da entrada em vigor do Tratado que gere a União Europeia, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, foi de opinião de que não tem o menor sentido a ideia, que anda por certas esquinas da Europa, de vir a encetar-se um novo processo de revisão dos tratados europeus. Com a ironia que se lhe conhece, deixou claro que não dizia isso apenas pelo facto de não querer mexer no que se chama Tratado de Lisboa, tanto mais que ele é do Porto...

Concordo, em absoluto, com o ministro e espero que essa venha a ser a posição do governo português, nas instâncias onde isso for abordado. O tratado tem insuficiências, algumas das suas soluções suscitam reticências e incertezas, como, a convite do ministro, tive o ensejo de elencar, na intervenção que, nessa sessão, antecedeu a sua. 

Porém, se olharmos as coisas com objetividade, não foi o Tratado de Lisboa o “culpado” pelos males da Europa, ao longo desta década. Pelo contrário, numa análise cuidada, como aquela que Santos Silva fez às crises que o projeto europeu atravessou nesse tempo, o documento assinado em Lisboa em 2007, e que, dois anos depois, entrou em vigor e tem vindo a regular o funcionamento da União, comportou-se de forma sólida e capaz. 

Como o ministro lembrou, nesse entretanto ocorreu uma crise financeira global quase sem precedentes, seguida de uma crise interna das dívidas soberanas, de um trágico surto de refugiados, cumulado com as pressões migratórias que tiveram impactos políticos internos muito fortes, houve o desafio colocado pelo desrespeito pelas regras do Estado de direito por parte de alguns parceiros, a Europa foi capaz de responder unida ao Brexit e, “last but not least”, do outro lado do Atlântico tem estado alguém que transformou a América, de amigo tradicional, num poder com regulares atitudes adversas. Nesse cenário, a que poderíamos somar a gestão difícil das relações com a “nova” Rússia, da crise da Geórgia à da Ucrânia, não foi o Tratado de Lisboa que “atrapalhou” a funcionalidade da máquina europeia. Bem pelo contrário. Sejamos claros: se há coisa que falta à Europa não é um novo tratado, é vontade política.

A Europa é regularmente atravessada por tropismos reformistas. Faz parte da sua ambição de procurar andar para a frente. Resistir à tentação de entrar numa nova polémica institucional, num tempo de tensões pontuais ainda não resolvidas, é uma atitude de meridiana sensatez.

7 comentários:

Joaquim de Freitas disse...

Nicolas Sarkozy, violou o "não" do povo francês ao tratado constitucional europeu. (55% de “não” no referendo de 2005)
O Tratado de Lisboa foi um estupro da vontade do povo francês. Como a integração na NATO.
Para tal, modificou a constituição francesa e votou no Congresso o Tratado de Lisboa para o texto da mesma espécie. por via parlamentar..

Um delinquente , finalmente, assinou o Tratado. Esta é uma das maleitas do Tratado que nao innspira confiança a ninguém./

Joaquim de Freitas disse...

A União Europeia foi um projecto comunitário, está cada vez mais reduzida a um mercado; Os líderes americanos estão cada vez mais interessados na Ásia, e cada vez menos no Velho Continente, ainda mais Donald Trump, que não se sente de forma alguma ligado por um projecto europeu mesmo se foi Washington que o tinha originalmente patrocinado; e, em terceiro lugar, China emerge ao ponto que a partida vai se jogar a dois, Washington-Beijing , e que a Europa será obrigada de se voltar cada vez mais para esta evidência que a Rússia faz parte do nosso continente, e não os EUA.

A Europa deve ultrapassar a postura de vassalo, e fazer esquecer a politica dos dois caniches. Sarkozy e. Hollande.

A NATO, esse guarda-chuva “idealizado” no tempo da guerra-fria, hoje só serve para comprar americano… E Trump é o representante de comércio das oligarquias industriais e nada mais : Buy American, Make America Great Again…

carlos cardoso disse...

É certo que o tratado foi imposto aos europeus (os holandeses também tinham votado contra). Concordo no entanto que não precisa de ser revisto.
Na minha opinião a Europa não "procura andar para a frente" mas sim tem o hábito de "fugir para a frente"

Anónimo disse...

"...A Europa é regularmente atravessada por tropismos reformistas....".

Tudo muito bem explicado. Mas não seria mais correcto escrever:
"Esta União Europeia tem sido regularmente atravessada por tropismos reformistas".
Aliás tal como já o reconheceram, publicamente, tanto Macron como Merckel (os donos da bola).

Anónimo disse...

Em 1917 o PR dos EUA Woodrow WIlson (Democrata) durante a 1ª Guerra Mundial, com sangue e meios do seu País salvou a Europa da invasão germânica. A União Europeia seria hoje uma realidade secular.
Em 1941 outro PR dos EUA Franklin Roosevelt (Democrata) durante a 2ª Guerra Mundial, com sangue e meios do seu País tornou a salvar a Europa de nova invasão germânica. Estariamos todos a falar alemão.
Os PR John Kennedy (democrata) e Ronald Reagan (republicano), por sua vez, conseguiram evitar que o russo fosse hoje o idioma dos americanos e dos europeus. Óbviamente.
Mais recentemente o PR dos EUA D. Trump (republicano) tenta evitar, a muito custo e com insólitos problemas internos e externos, que a curto prazo se fale, por aqui e por acolá, mandarin e se tragam apenas renminbis no bolso, em vez de dolares ou euros. A curto prazo?....
"Impeachment" é só, apenas, uma das formas de jogar política interna nos EUA.
Os democratas nos EUA (e as elites de esquerda em geral por esse mundo fora) neste momento estariam a submeter QUALQUER outro PR desde que republicano -por método ou mimetismo- esta rotina política.
Nada disto tem a ver com o personagem Trump. Acreditem.

Meninos, no recreio, com a típica miopia própria da idade, sempre dissem simploriamente mal dos Diretores ou dos Reitores, das figuras de autoridade. É da idade, fruta da época. Uns crescem. Outros, nem por isso.

Joaquim de Freitas disse...

O anónimo de 6 de Dezembro de 2019 às 01:34

Estudou muito mal as guerras na Europa . As perdas francesas da primeira guerra mundial foram de 1,5 milhão de mortos. As perdas americanas 110.000. Se pensa que os EUA salvaram a Europa da invasão germânica, é que não tem a noção do que foi esta guerra.

As perdas da URSS durante a segunda guerra mundial foram de 26 milhões de mortos. As perdas americanas 405 000… Se pensa que foram os Americanos que ganharam a guerra e nos salvaram de falar alemão…

Quando escreve : Os PR John Kennedy (democrata) e Ronald Reagan (republicano), por sua vez, conseguiram evitar que o russo fosse hoje o idioma dos americanos e dos europeus, então é o “bouquet”.

Aparentemente não conhece a geografia nem o poder militar de uns e de outros. E para que os americanos falassem russo era preciso que os russos o desejassem e os americanos fossem capazes de aprender línguas…

Na realidade, morreram mais americanos na Guerra de Secessão americana que em todas as guerras mundiais e todas as outras fora das fronteiras americanas.
Creio que deve tratar da sua própria miopia e consultar o Wikipédia .

Anónimo disse...

Curioso. Quem tem mais mortos prevalece.

O futuro