quinta-feira, dezembro 12, 2019

Parabéns, Presidente


Ao ler hoje os jornais (os que ainda sobram...), dei-me conta de que, desde este dia do ano e por algumas semanas, comungamos regularmente a mesma idade. 

E pus-me a pensar que, ao longo dos já muitos anos em que nos conhecemos, em que estivemos bastantes vezes em polos bem opostos, em que tivemos mesmo alguns desencontros, em que talvez só por acaso tenhamos conjugado as nossas escolhas na urna do voto, em que nunca fomos íntimos, acabámos por criar, entre nós, uma relação que saiu da cordialidade para um terreno que me atrevo a colocar num registo de amizade. 

É esse percurso, um caminho de uma convergência que, no fundo, se baseia no respeito por valores e princípios que sei, de ciência certa, que hoje temos como comuns, que me leva a ousar escrever-lhe, nesta data que espero seja para si e para os seus um dia feliz, uma mensagem pessoal muito simples: de agradecimento e de simpatia. 

De agradecimento, pelo apaziguamento que a sua prestação à frente do país, que tão bem sabe encarnar e representar, conseguiu trazer a Portugal, na forma algo atípica como soube desenhar o seu modo de se ligar aos portugueses. Muitos podem não ter apreciado o estilo que imprimiu a alguns desses seus gestos e, aqui entre nós, algumas vezes também eu fui sensível a essas críticas. 

Mas, contraditoriamente, é também nesses “erros” que assenta muita da simpatia que sinto pelo modo genuíno como tem atuado. E se há algo que gostava de destacar, agora que entramos num período do ano em que o isolamento dos que caíram fora da roda da sorte se torna mais chocante, esse é, precisamente, o sentido solidário que sempre demonstrou para com esse Portugal a quem o 25 de abril trouxe muito menos do que tínhamos sonhado.

Um forte abraço de parabéns pelo dia de hoje, caro Presidente.

2 comentários:

Joaquim de Freitas disse...

«esse Portugal a quem o 25 de abril trouxe muito menos do que tínhamos sonhado.”, escreve o Senhor Embaixador.

É porque por todo o lado, os políticos a quem fizemos confiança um dia, quando votamos, não “fizeram mais” ou pelo menos não “fizeram o que tínhamos sonhado”, aquilo , insuficiente, que fizeram, arrisca de se desmoronar como um castelo de cartas, se não fizerem um grande esfouço no bom sentido.

Há quem espere por esse momento, em que os povos perdem toda a esperança, para apanhar as rédeas do poder.
Impor como único horizonte as palavras “orçamento” e “equilíbrio” até à exaustão leva ao suicídio.

Anónimo disse...

O 25 de Abril trouxe, com o 25 de Novembro, democracia. Mas também trouxe uma indecente partidocracia, que está na génese do nosso subdesenvolvimento. Trouxe uma classe política incompetente, formada, na sua maioria, por carreiristas sem profissão conhecida. E uma das sociedades mais desiguais da Europa. O sonho tinha, afinal, os gérmens do pesadelo que vivemos.

Poder é isto...

Na 4ª feira, em "A Arte da Guerra", o podcast semanal que desde há quatro anos faço no Jornal Económico com o jornalista António F...