Não sei se os portugueses apreciam este mais do que lamentável espetáculo de reuniões entre líderes partidários, que deviam ter lugar num ambiente de discrição e mútuo compromisso de confidencialidade, serem de imediato comentadas, em contexto público, pelos próprio líderes e por figuras das direções dos partidos.
Não me parece sério, e muito menos eficaz, efetuar conferências de imprensa no termo de rondas negociais. Por este andar, qualquer dia vale mais a pena transmitir as conversações em direto. Se é total transparência o que se pretende...
Também me parece triste que se tenha banalizado a mútua divulgação de correspondência trocada. É por demais óbvio que o objetivo destas cartas já não é informar os destinatários das intenções dos remetentes, mas apenas jogar para a plateia mediática e, em particular, para o seu próprio serralho de prosélitos.
Como é do bê-á-bá de qualquer negociação, o conhecimento público das propostas rigidifica as posições, impede recuos, mesmo que táticos, e vai destruindo o terreno de compromisso possível.
Não adianta apontar o dedo a quem tem a culpa original deste striptease negocial. Este é um triste episódio onde não há inocentes, só há culpados. E eu lamento ter alguns amigos no seio deles.
2 comentários:
Presumo que o Sr. Embaixador se refere às conversações entre a PàF e o PS. Era claro desde o início que um acordo não interessa a nenhuma das partes. Ao PS porque está à procura de uma solução alternativa e porque mesmo que deixe passar o programa de Governo da PàF (na ausência dessa dita alternativa) não quer estar constrangido por acordos de longo prazo, até pelo sinal que daria à sua Esquerda, à PàF porque deseja governar com o seu programa e admitirá negociações limitadas no caso da aprovação dos Orçamentos, que são no fundo o que interessa. Estas 'negociações' servem às duas partes para cada uma mostrar, como diz, firmeza à sua legião de prosélitos, e para não serem acusadas pela outra perante a opinião pública de total falta de flexibilidade. Se estivessem genuinamente interessadas em negociar, não faziam este teatro. Dadas as clivagens e dado o que os respetivos líderes disseram relativamente à indisponibilidade em negociar com a outra parte durante a Campanha Eleitoral, nada disto é de espantar. Repare que as negociações à Esquerda têm sido bem mais discretas, com uma ou outra fuga convenientemente colocada para forçar o parceiro a concessões...
Penso que a situação se tem arrastado um pouco, apesar de estarem a ser cumpridos todos os passos determinados pela Constituição. Lamento este impasse e acredito que existem alguns Partidos que procuram uma maior exposição mediática com as famosas Conferências de Imprensa depois das reuniões com o Presidente da República.
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