MNE, há mais de 30 anos.
O diretor-geral, à secretária, de óculos na ponta do nariz, lia lentamente a informação de serviço que o adido de embaixada tinha preparado. De pé, o chefe de repartição e o jovem autor do texto mantinham-se num reverente silêncio, esperando o veredito.
Acabada a leitura, o diretor-geral levantou os olhos, deu um leve suspiro, olhou para o adido e disse: "Deixe ficar o papel", com uma implícita indicação de que o funcionário poderia retirar-se.
Quando ficou a sós com o chefe de repartição, este último, pressentindo algum desagrado no modo como o seu superior tinha acolhido o texto, perguntou: "Não gostou da informação? Posso mandar refazê-la...".
O diretor-geral não respondeu logo. Levantou-se, caminhou para a janela e ficou a ver a ponte sobre o Tejo. Segundos depois, voltou-se, encarou o chefe de repartição, deu um suspiro ainda mais longo e inquiriu: "Você sabe quando é que este tipo entrou na carreira?".
- Julgo que foi no concurso de há cerca de dois anos. Porquê?
- Por nada. Ele não tem culpa nenhuma, é apenas um incompetente que não sabe escrever português e que vai demorar alguns anos até se tornar num funcionário sofrível. Até lá, quem sofre é o Estado. O que eu gostava de saber é quem foram os cretinos dos membros do júri de admissão que o não chumbaram...
(Reedição de historietas da diplomacia por aqui já publicadas)
5 comentários:
Caro Embaixador
Sendo um leitor assíduo dos seus interessantes textos queria desta vez felicitá-lo pela escolha sistematicamente adequada das imagens que os ilustram. Estes dourados sobre vermelho foram a gota de água que me levaram a escrever este elogio, mas tem havido imensas outras ocasiões!
Por isso é que o Estado tem sofrido tanto. Por isso é que nós continuamos a sofrer, sabe-se agora.
Há que revelar quem era esse jovem autor do texto e responsabilizá-lo. Isto não pode ficar impune!
Ou então... os membros do juri.
Mas há mais de trinta anos... talvez ainda não. É melhor ser só o jovem, se não estou errado nas contas.
Um abraço
GS
Esse jovem é a prova de que o acordo ortográfico devia ter sido adotado 30 anos mais cedo. Assim, o Diretor Geral, não teria argumentos para o considerar um prejuizo para o Estado português.
Pior ainda é ter quem temos como PM, que não fica atrás desse ex-Adido, com a agravante de os estragos serem mais devastadores não só para o Estado, mas, sobretudo, para o País em geral!
a)Claustros
destino traçado...
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