quarta-feira, maio 02, 2012

Fernando Lopes (1935-2012)


Olá, Fernando.

Acabo de saber que, para si, já “Era uma vez... amanhã". O seu "Gérard, fotógrafo", que nestes dias se mostra aqui por Paris, não poderá assim “Matar Saudades” suas, porque é, ele também, um “Encoberto” nesse “Voo da Amizade”, a uma "Altitude 114", por onde, há muito, já andava o “Belarmino”, esse seu “Delfim” de uma “Lisboa” da qual, como ninguém, você desenhou a “Crónica dos Bons Malandros”, aqueles que andam por aí, “Ela por ela”, a atirar aos outros: “Tomai lá do O’Neill”!

Todos sabemos que você não era muito dado a olhar “O Fio do Horizonte", mas a verdade é que se fechou agora o semáforo, Fernando, aquele “Vermelho, Amarelo e Verde” que durante tanto tempo lhe abria o caminho, entre “As Palavras e os Fios” das conversas na barra do Gambrinus, para a “Rota do Progresso”, que você percorria a “98 octanas”, retribuindo "Os Sorrisos do Destino" que queria para todos nós, com que numa longa noite sonhámos, em Viena, com outros amigos, até vermos o  "Cruzeiro do Sul" aparecer no fundo de uma garrafa de JB.

Para trás, fica a criação entusiasmada desse seu “Cinema” magnífico, essa sua representação dos "Sons e Cores de Portugal", qual "Domingos Sequeira" da película, onde registou, para sempre, “As Pedras e o Tempo” deste seu "Habitat", deste Portugal que, “Se Deus Quiser”, ainda há-de ser “A Aventura Calculada” pela qual você sempre lutou, embora sem "As Armas e o Povo" na rua, que "Este Século em que Vivemos" já dispensa mobilizar de novo.

Parte agora, meu caro, para um eterno "Interlude", como “Uma Abelha na Chuva” que hoje a todos nos encharca de tristeza. Você que, entre muito poucos dessa sua arte, era daqueles em que, ao ler-se no jornal “Hoje, Estreia”, ao lado de "Marçano, precisa-se", se podia ter a certeza de ter como “Nacionalidade: português”. Bem mais do que alguns que, de "The Bowler Hat" na mão para os subsídios, andam por aí a mimar o que se faz "Lá Fora"

“Nós por cá todos bem”? Não, Fernando, nós ficamos, "The Lonely Ones", em "Câmara Lenta", muito mais pobres, sem si e sem o seu cinema.

Com um beijo amigo à Maria João, deixo-lhe um abraço, já em “contre plongée”   

8 comentários:

ARD disse...

Conheci o Fernando Lopes, o “Flopes”, nos anos 60, no então glorioso Vavá, mergulhados no ecletismo dialético “associativos-cineastas”, entre conversas conspirativas e anárquicas, deambulações pela rota noturna Vavá, Monumental e Montecarlo, Ribadouro, Gambrinus. Eram noitadas inesquecíveis, ferrenhas disputas de bilhar – o Fernando era um virtuose da carambola – discussões épicas.
Mas o Vavá era a permanência, onde ganhávamos horas de convívio e amizade, sob o olhar industrialmente interessado do senhor Petrónio e a bononomia paternal do senhor Pinheiro.
Mantivémos, como, aliás, aconteceu com quase todos os integrantes do “grupo do Vavá”, um contacto, por vezes marcado de longas intermitências, sempre renovado ao sabor de reencontros em Lisboa, Estrasburgo, Belgrado, Viena (vejo que se lembra, senhor Embaixador).
Era o nosso génio à nous; “ó génio, orienta p’ra cá a cornadura”, vociferava o João Rodrigues, exigindo-lhe a atenção, no Gambrinus, vigiados pelo sorriso oblíquo e galego do senhor Teodoro, que antecedeu o senhor Brito da “barra” enquanto fornecedor dos “álcoois” ao Lopes.
Entre nuvens de fumo de tabaco e lagos de whisky, alternando verrinas antigas e generosidades comovidas, pontuadas pelas gargalhadas casquinadas que eram um dos seus sinais sonoros, ele funcionava como um íman social, pontífice da tertúlia e da conversa.
Vai fazer falta a Portugal e ao cinema; isso importa-me menos do que a falta que me vai fazer e aos outros que o estimavam e amavam.

Anónimo disse...

Caramba Embaixador, que virtuosismo em dia de debate presidencial. Agora percebo porque fez parte dos "homens sem sono".

Anónimo disse...

Primavera tempestuosa, esta.

Maria Helena

Anónimo disse...

O Senhor Embaixador lembrou-nos a longa obra cinematográfica de Fernando Lopes. Será sem dúvida a mais importante.

Permito-me, por isso, lembrar o muito que os portugueses também lhe devem pela seriedade e bom gosto com que dirigiu, há mais de trinta anos, a RTP2.

Pessoalmente, fui especialmente marcado pela ternura, pelo orgulho e fidelidade às raízes que exalam do seu "Nós por cá todos bem" . E, razão deste testemunho, pela afabilidade e delicadeza que pôs no curto relacionamento profissional que tivemos em meados dos anos 90.

antónio m. fernandes

Isabel Seixas disse...

Sem Palavras...
Quase desejo fenecer antes para ter a probabilidade da possibilidade do privilégio de ser homenageada numa rememoração Assim...

Anónimo disse...

Memórias de um antigo produtor audiovisual

in Artur Castro Neves, POLÍTICAS PÚBLICAS E REFORMAS NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO , Porto, AFRONTAMENTO, 2007, pps. 382

“Também em Portugal existiu um Departamento de Co-produções Internacionais
na RTP com independência editorial que se preocupou em criar um
catálogo de obras portuguesas. O modelo de funcionamento deste departamento
era a participação como coprodutor e difusor nacional, além de mobilizar
os seus esforços para encontrar parceiros internacionais para os produtores
portugueses.(*)

(*) O nome de Fernando Lopes, cineasta, antigo director de programas do célebre Canal
2, nos tempos de boa memória de Soares Louro, que incluem ainda nomes prestigiados da
cultura portuguesa como Vasco Graça Moura, está indissociavelmente ligado a esta política da
televisão para o cinema. Todos aqueles que lidaram – e berraram – com Fernando Lopes,
recordam-no com saudade e admiração.“

(Nota: Texto escrito num período em que o FL já havia deixado a RTP)

MGR disse...

Mas que bonita homenagem a um Homem tão importante da nossa geração.

Muito obrigada, Senhor Embaixador

MGR

Helena Oneto disse...

Belissima homenagem a Fernando Lopes.
Ele tinha um sorriso tão meigo, tão bonito.

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Não, não é "dos Pintores": é do Pintor. Onde fica? Fica em Santo Antão do Tojal. Não sabe onde é? Ó diabo! Conhece A-das-Lebres? T...