A "Inglaterra", nome por que comummente entre nós costuma ser tratado o Reino Unido (*), é o mais velho aliado de Portugal, por virtude da existência do Tratado de Windsor, de 1386, tido como o mais antigo no mundo. De facto, embora sempre por um elevado preço (muitas vezes, económico e financeiro), foi a regular associação a Londres que, por mais de uma vez, permitiu a manutenção de Portugal como um Estado autónomo - já hesitaria em dizer "soberano" ou "independente".
Ao longo de séculos, na cultura estratégica portuguesa, o laço privilegiado com Londres esteve sempre presente e condicionou toda a nossa postura à escala internacional. A dependência face aos britânicos faz, assim, parte integrante da nossa história diplomática, prolongando-se pelo século XX, com o salazarismo a não escapar a este tropismo, quando a isso foi obrigado.
As Necessidades alimentaram e desenvolveram, naturalmente, essa linha de relação próxima. Quando entrei para o MNE, a perspetiva da existência de um entendimento privilegiado com Londres prevalecia no DNA de setores então dominantes da nossa diplomacia. Creio que ela dava mesmo origem a um certo "comodismo" seguidista, que, inicialmente, chegou a ter um prolongamento na condução de certas políticas sectoriais dentro da União Europeia. Mas, há que ser realista, com exceção dos temas e segurança e defesa, essa "tradição" perdeu-se hoje, quase que por completo. Sem querer com isto lançar uma teoria, mas apenas constatar um facto, sou levado a pensar que a total "naturalização" da nossa atual relação com a Espanha, somada a uma "europeização" da nossa atitude externa que a isso não é alheia, ajudou à diluição do laço específico que foi mantido com o Reino Unido, durante tanto tempo. O que só prova a importância da contribuição britânica, enquanto se mantiveram acesos os alertas "aljubarroteanos".
Uma outra questão, para a qual ainda não tenho uma resposta completa, é visão que Londres foi tendo dessa mesma relação com o nosso país. O declínio colonial de Portugal, com a saída do Brasil e com o diktat britânico na crise do "mapa cor-de-rosa", bem como a estabilização dos seus equilíbrios estratégicos no espaço intraeuropeu, que levaram o Reino Unido a aliar-se à França nos dois conflitos mundiais, terão desvalorizado progressivamente a importância do vetor de "controlo" sobre Lisboa. Complacente com a ditadura de Salazar (**), Londres soube escapar ao dilema que este lhe colocou aquando da invasão da Índia "portuguesa", ao procurar invocar a "Velha Aliança". Mais tarde, foi com incomodidade que os britânicos reagiram quando pretenderam obter facilidades logísticas para a sua operação de retoma das Falkland/Malvinas. Nessa crise, o MNE, pela hábil mão do secretário de Estado Leonardo Mathias, sugeriu que Londres o fizesse à luz do Tratado de Windsor...
Um dia, no início dos anos 90, quando trabalhava na nossa Embaixada em Londres, foi-me perguntado, durante uma palestra na "Canning House", se eu ainda acreditava na validade desse tratado. Respondi, com a maior sinceridade, que acreditava nele tanto como os ingleses...
Interessante para mim foi, mais tarde, verificar que, em certos meios internacionais, permanecia a ideia residual de que a diplomacia portuguesa ainda "dependia" essencialmente de Londres. Recordo-me, num contacto com jornalistas estrangeiros em Bruxelas, creio que em 1997, a propósito de uma iniciativa qualquer que eu tinha promovido no âmbito comunitário, alguém me perguntar se tinha "coordenado" a nossa posição com Londres, antes de a apresentar aos restantes parceiros. Fiquei siderado! Aliás, os tempos viriam a provar que, em muitas áreas comunitárias, as posições dos dois países viriam a afastar-se de forma muito significativa, por uma simples e natural divergência de interesses. Tenho presentes alguns momentos complexos, dos quais não esteve ausente a sensível questão timorense.
Tudo isto não significa que o Reino Unido não seja, nos dias que correm, um Estado com o qual Portugal mantém um excelente relacionamento, com o qual trabalhamos em forte identidade de ideias em muitos domínios - de que, como disse, o da defesa e segurança é, muito provavelmente, o mais significativo. Partilhamos imensos valores e princípios comuns, mantemos uma leitura próxima da importância do laço transatlântico e, frequentemente, estamos juntos em certas linhas de política face a África. Mas tudo isto sem exclusivismos nem necessidade de relações de privilégio.
É na estabilidade deste quadro de relações que, às vezes, um embaixador pode fazer toda a diferença, trazendo para o país onde está acreditado a imagem de alguém que, não deixando de defender os interesses do seu país, sabe entender o dos outros, tendo sobre ele um olhar externo e simpático, o que acaba por se refletir de forma muito positiva sobre as relações bilaterais.
É esse o caso de Alex Ellis, o embaixador britânico que agora nos deixa, de quem já aqui havia falado, e que, há dias, deixou no "Expresso" esta lindíssima lista de "Coisas que nunca deverão mudar em Portugal":
É esse o caso de Alex Ellis, o embaixador britânico que agora nos deixa, de quem já aqui havia falado, e que, há dias, deixou no "Expresso" esta lindíssima lista de "Coisas que nunca deverão mudar em Portugal":
"Portugueses: 2010 tem sido um ano difícil para muitos; incerteza, mudanças, ansiedade sobre o futuro. O espírito do momento é de pessimismo, não de alegria. Mas o ânimo certo para entrar na época natalícia deve ser diferente. Por isso permitam-me, em vésperas da minha partida pela segunda vez deste pequeno jardim, eleger dez coisas que espero bem que nunca mudem em Portugal.
1. A ligação intergeracional. Portugal é um país em que os jovens e os velhos conversam - normalmente dentro do contexto familiar. O estatuto de avô é altíssimo na sociedade portuguesa - e ainda bem. Os portugueses respeitam a primeira e a terceira idade, para o benefício de todos.
2. O lugar central da comida na vida diária. O almoço conta - não uma sandes comida com pressa e mal digerida, mas uma sopa, um prato quente etc, tudo comido à mesa e em companhia. Também aqui se reforça uma ligação com a família.
3. A variedade da paisagem. Não conheço outro pais onde seja possível ver tanta coisa num dia só, desde a imponência do rio Douro até à beleza das planícies do Alentejo, passando pelos planaltos e pela serra da Beira Interior.
4. A tolerância. Nunca vivi num país que aceita tão bem os estrangeiros. Não é por acaso que Portugal é considerado um dos países mais abertos aos emigrantes pelo estudo internacional MIPEX.
5. O café e os cafés. Os lugares são simples, acolhedores e agradáveis; a bebida é um pequeno prazer diário, especialmente quando acompanhado por um pastel de nata quente.
6. A inocência. É difícil descrever esta ideia em poucas palavras sem parecer paternalista; mas vi, no meu primeiro fim de semana em Portugal, numa festa popular em Vila Real, adolescentes a dançar danças tradicionais com uma alegria e abertura que têm, na sua raiz, uma certa inocência.
7. Um profundo espírito de independência. Olhando para o mapa ibérico parece estranho que Portugal continue a ser um país independente. Mas é e não é por acaso. No fundo de cada português há um espírito profundamente autónomo e independentista.
8. As mulheres. O Adido de Defesa na Embaixada, há quinze anos, deu-me um conselho precioso: "Jovem, se quiser uma coisa para ser mesmo bem feita neste país, dê a tarefa a uma mulher". Concordei tanto que me casei com uma portuguesa.
9. A curiosidade sobre, e o conhecimento, do mundo. A influência de "lá" é evidente cá, na comida, nas artes, nos nomes. Portugal é um pais ligado, e que quer continuar ligado, aos outros continentes do mundo.
10. Que o dinheiro não é a coisa mais importante no mundo. As coisas boas de Portugal não são caras. Antes pelo contrário: não há nada melhor do que sair da praia ao fim da tarde e comer um peixe grelhado, acompanhado por um simples copo de vinho.
Então, terminaremos a contemplação do país não com miséria, mas com brindes e abraços. Feliz Natal."
Com muitos embaixadores como o Alex, por cá e por lá, a "oldest alliance" tem sérias hipóteses de ainda ser credível.
(*) Às vezes, faz bem lembrar estas coisas: a Inglaterra, com a Escócia e o País de Gales, constituem a Grã-Bretanha. Londres (que é capital da Inglaterra) é, também, a capital do "Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte"
(**) Sobre este tema, publiquei, já há muito: “The Opposition to the ‘New State' and the British Attitude at the End of the Second World War: Hope and Desillusion”, in “Portuguese Studies”, Vol. 10, King’s College, London, 1994
17 comentários:
Procurei sempre acompanhar as crónicas do Embaixador Alexander Ellis escritas com inteligência e sentido de humor.
O seu amor pelo nosso país é impressionante, ao qual não será, certamente, alheio estar casado com uma portuguesa.
A lista de "Coisas que nunca deverão mudar em Portugal" é, como refere o Senhor Embaixador FSC, "lindíssima", mas o final é simplesmente tocante:
"Então, terminaremos a contemplação do país não com miséria, mas com brindes e abraços. Feliz Natal."
Espero que as crónicas "Um bife mal passado" continuem... escritas a partir de Londres!
Bom Ano de 2011 para todos,
Isabel BP
Portugal é sem dúvida um dos melhores países do mundo para um estrangeiro passar uma temporada profissional, numa fase intermédia/avançada da carreira, numa posição que permita um belo salário e outras regalias.
Para um jovem português que pretenda crescer profissionalmente e obter condições de vida razoáveis/boas, Portugal com toda a certeza não é o país certo.
Senhor Embaixador,
Eu vejo-me, tal qual como o senhor embaixador se encontra em relação ao relacionamento entre os ingleses e portugueses.
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Na escola primária o meu velho mestre doutrinava a “canalha” a não gostarem dos ingleses e o seu patriotismo levava-o a dizer que os ingleses tinham sido os maiores g******** de Portugal. Isto ficou-me na mente desde os bancos da escola primária.
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De quando a II Guerra Mundial, Portugal recebeu uma larga quantidade de crianças de várias nações da Europa. Uma foi recebido por uma família que possuía uma ourivesaria na Rua da Flores, no Porto.
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Ora o miúdo inglês, logo nos saltava à vista que não era da casta lusitana pelo rosto e cabelo, ondulado.
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Eu tinha-me iniciado na vida com 11 anos, na Queijaria Arcozelo, na rua do Loureiro (uma casa acima da Agência Abreu) e o miúdo andava por ali, rua abaixo e acima, sem proferir uma palavra sequer de português.
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Um dia colocou-se em frente à queijaria e em voz alta: Shit for your!
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Mas dentro havia um meio-caixeiro que estudava comércio, pela noite, na Oliveira Martins na rua do Sol e percebeu que o miúdo inglês nos estava a mandar à m******.
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Saiu de trás do balcão com uma vassora de piassaba a gritar: for you,for you!
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Enquanto o miúdo corria pela Loureiro abaixo, em direcção à Almeida Garrett, a bater com os calcanhares no traseiro.
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Mais tarde e de quando o miúdo articulava algumas palavras portuguesas, fomos amigos.
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Porém, já adulto, trabalhei com ingleses na ex-Rodésia e depois nos países árabes e nunca me falaram (nem eu tão pouco) sobre a velha aliança entre Portugal e o Reino Unido.
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Tive, uns poucos bons amigos, mas também senti na pele a segregação de alguns que me parecia que dentro deles vivia, ainda, a época vitoriana.
Saudações de Banguecoque
José Martins
Imagine...
O desejo de Bom ano de 2011
Com a partilha dos saberes emanados pelos Livros FSC(Que presumo estatisticamente nos conferem uma ascensão enviesada na literacia)
Uma injeção com uma toma diária tipo"Sargenor..."do augúrio de HOpe implicito neste texto... De FSC
Uma carta de alforria ao fado , sem lamechas...
Uma análise do nem e do bom a partir do que Temos do que Somos (Deixando de querer ser o outro ou pior não o deixar Ser)
Promover os dez mandamentos do embaixador Inglês como mandato e regulamento a ser entregue a cada cidadão Português para que não haja dúvidas da auditoria isenta de um observador externo e credível para já domina o inglês...
O duas ou três coisas leitura obrigatória nas salas de Professores...
Bom fim de ano
Isabel Seixas
entrada para ler, reler e pensar.
Ps.gostei da palavra aljubarroteanos que não sei se é criação de FSC ou se vem nalgum dicionário.
se é criação, deveria entrar nas próximas edições dos dicionários portugueses.
Oportuníssimo este texto. The Oldest Ally tem toda a razão de ser. Uma vez mais, o Francisco Seixas da Costa demonstra que é, hoje, o melhor embaixador português. Para mim, naturalmente, mas penso (e ouço) para muita gente mais.
O alinhamento que faz dos principais factos dessa Aliança de 1386, por virtude da existência do Tratado de Windsor não é exaustivo, mas é indicativo do conhecimento que o Autor tem dos meandros da diplomacia. E não apenas da portuguesa.
Por seu turno, a carta do embaixador Alex Ellis é bem a demonstração do que ele sente por Portugal. Por algum motivo, quanto mais não fosse por sua esposa Maria Teresa.
Conheci pessoalmente ambos nos inícios dos anos 90 e pude aperceber-me do que então começava a ser a sua paixão pelo nosso País. Desta feita, se dúvidas me subsistissem, elas seriam eliminadas sumariamente.
Por isso, dois obrigados sinceros: ao Francisco Seixas da Costa e ao Alex Ellis.
JN 26DEZ2010 - O fato usado do presidente
Três dias antes do Natal, assistia calmamente ao Telejornal da RTP1 quando vi a grande notícia da noite. Entre os atentados em Bagdade e as agências de rating, uma voz off anuncia o que as câmaras filmam: o presidente da maior empresa pública portuguesa a levar dois saquinhos de papel com roupa usada e um brinquedinho (usado) para uns caixotes de cartão, cheios de coisas usadas para oferecer no Natal. Fiquei comovida. Que imagem de boa pessoa, que gesto bonito: pegar num fatinho usado do seu guarda-vestidos que deve ter uns 200 e num pequeno brinquedo de peluche, e depositar tudo no caixote de cartão para posteriormente ser redistribuído? À administração da empresa? Não, a notícia explica que é para oferecer aos pobrezinhos, que estão a aumentar com a crise. A RTP, Telejornal à hora nobre, filma o comovente gesto. Em off, o locutor explica o sentido dizendo que alguém vai ter no sapatinho um fato de marca. Olhando para os sacos de papel, percebe-se que esse alguém também receberá umas meias usadas e talvez mesmo uma camisa de marca usada.
Primeiro, pensei que estava a dormir e um pesadelo me fizera voltar ao tempo de Salazar, à RTP a preto e branco ou à série da Rita Blanco «Conta-me como foi».
Mas não, eu estava acordada e a ver o presidente da EDP no Telejornal da RTP 1 (podem ver o filme na net) posar sorridente para as câmaras, a levar um saquinho a um caixote, que não era de lixo, mas de oferta. Por acaso, estava à porta da EDP a RTP a filmar o gesto. Iam a passar e filmaram, certamente, porque para os pobres os fatos em segunda mão de marca assentam como uma luva. Um velhinho num lar de Vila Real vestido Rosa & Teixeira sempre é outra coisa. Ou o homeless na sopa dos pobres com Boss faz outra figura, ou o desempregado com Armani numa entrevista do fundo de desemprego... Mentalidade herdada do Estado Novo, foi a minha primeira análise, teorizando imediatamente que os ricos em Portugal, os que recebem prémios de milhões em empresas públicas e ordenados escandalosos e que puseram o mundo e o país como se vê, são os mesmos com a mesma mentalidade salazarenta. Mas nem é verdade, pois, mesmo nesse tempo, as senhoras do regime organizavam enxovais novos nas aulas de lavores do meu liceu para dar no Natal aos pobres que iam nascer.
Tantos assessores de imprensa na EDP, tantos assessores na Fundação EDP, milhões de euros gastos em geniais campanhas de marketing, tantas cabeças inteligentes diariamente pagas para vender a imagem do presidente da EDP, tudo pago a preço de ouro, e não concebem nada melhor do que mandar (!?) filmar, no espaço do Telejornal mais importante do país, um gesto indigno, triste, lamentável, que envergonha quem vê. Não têm vergonha? Não coraram? E a RTP que critérios usa no Telejornal para incluir uma notícia?
Há uns meses escrevi ao presidente da EDP e telefonei-lhe mesmo, a pedir ajuda da empresa para reparar a velha instalação eléctrica, gasta pelo uso e pelo tempo, de uma instituição, onde vivem 40 adultas cegas e com deficiências e que têm um dos mais ricos patrimónios culturais do país. A instituição recebeu meses depois a resposta: a Fundação EDP esclarecia que esse pedido não se enquadrava nas suas atribuições. Agora percebi. Pedia-se fios eléctricos, quadros eléctricos novos e lâmpadas novas. Devia-se ter escrito ao senhor presidente da maior empresa (pública) portuguesa, com os maiores prémios de desempenho, cujo vencimento é superior ao do presidente dos Estados Unidos, para que oferecesse uma lâmpada em segunda mão, que ainda acendesse e desse alguma luz. Talvez assim mandasse um dos seus motoristas, com um dos geniais assessores de imprensa e um dos fantásticos directores de marketing, avisar a RTP (a quem pagamos uma taxa na factura da luz) para virem filmar a entrega da lâmpada num saquinho de papel.
2011 anuncia-se um ano duro para os portugueses e sê-lo-á tanto mais quanto os responsáveis pelo estado a que se chegou não saírem da nossa frente.
AO DOMINGO COM ... ZITA SEABRA
Senhor Embaixador
Sei que não perderá tempo com certos blogues, nos quais o meu se inclui. Mas, por uma vez, esta sua admiradora, falou do assunto antes de si.:))
O que, não partilhando do seu permanente otimismo - apesar de estar longe de ser pessimista -,
não deixa de confirmar que sei elogiar quem merece. E, ainda, que "les bons esprits se rencontrent toujours"!
Bom 2011 Senhor Embaixador. Carregado de boas notícias. Para si e para nós.
Faça-se justiça, também li isso que Alex Ellis escreveu no Expresso, mas antes, no Blogue "Fio de Prumo", de HSC, recentemente.
P.Rufino
Não tendo o prazer de o conhecer, sou leitora compulsiva do seu blogue. Agradeço os bons momentos que me proporciona e desejo um feliz Ano Novo. Uma Avó
Há poemas que são alibis...
Defendem-nos
Explicam-nos
Inocentam
Legitimam a nossa defesa
Tornam-nos aceitáveis
Compreensíveis num contexto,
O Nosso
Diferente de todos os outros
Simplesmente libertam-nos
Mesmo dos nossos próprios ardis
Isabel seixas
Bom ano com
Martha Medeiros
A Morte Devagar
Morre lentamente quem não troca de idéias, não troca de discurso, evita as próprias contradições.
Morre lentamente quem vira escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto e as mesmas compras no supermercado. Quem não troca de marca, não arrisca vestir uma cor nova, não dá papo para quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru e seu parceiro diário. Muitos não podem comprar um livro ou uma entrada de cinema, mas muitos podem, e ainda assim alienam-se diante de um tubo de imagens que traz informação e entretenimento, mas que não deveria, mesmo com apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço em uma vida.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pingos nos is a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não acha graça de si mesmo.
Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio. Pode ser depressão, que é doença séria e requer ajuda profissional. Então fenece a cada dia quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda, e na maioria das vezes isso não é opção e, sim, destino: então um governo omisso pode matar lentamente uma boa parcela da população.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe. Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante.
Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia.
Já que não podemos evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar.
Martha Medeiros(Poeta/Poetisa Brasileira)
Citada com admiração
Isabel Seixas
Cara Dra. Helena Sacadura Cabral: quem, como eu, procura escrever neste modesto blogue (pelo menos) um post por dia tem grande dificuldade em dedicar muito mais tempo à blogosfera. Mesmo assim, há aí uma dezena de blogues (não mais, confesso) por onde, com uma regularidade quase sempre semanal, vou passando, entre os quais está o "Fio de Prumo". Não tinha ainda lido a sua menção ao texto do AE, mas, devo confessar, ele foi o pretexto que encontrei para dizer algumas coisas sobre essa interessante relação luso-britânica, assunto que sempre me apaixonou e que tratei aqui com a clareza que pude.
Senhor Embaixador
Inchei de orgulho. Merecer uma leitura sua é como receber um belo presente de Natal. Muito obrigada!
Isabel só há uns meses descobri Martha Medeiros e este poema é lindíssimo. E faz pensar. Obrigada por o relembrar!
Que delícia de texto. A 'ditadura da sandes' em Londres ia-me causando um conflito com a entidade patronal. Quando me perguntaram se o 'almoço' oferecido em determinado evento tinha sido bom, disse que foram sandes. O 'boss' perguntou se eram boas, eu respondi que sandes ao almoço nunca é bom. Ele ficou com cara de parvo, excedi-me...
Esta entrada de fôlego do blogue que releio é uma interessante e séria análise das relações luso-inglesas e dos sentimentos subjacentes à nossa politica externa em relação à inglaterra. FSC tem tambem a vantagem de estar por dentro do assunto.
Bons tempos em que a politica e relações internacionais incluiam casamentos negociados entre casas reais e tratados de aliança entre dois estados como consequeência desses casamentos. Não no sentido em que eram tempos melhores, creio que a paz, a guerra, os interesses, os conflitos violentos sempre existiram iguais e as alianças nasciam ou mudaram ao correr das conveniências expansionistas ou comerciais, defensivas ou ofensivas contra terceiros, etc.
Está já tudo em heródoto, tucidides ou tácito.
Quanto ao decálogo do embaixador do RU, sem duvida simpático e sinal de amor por portugal e pelos portugueses, parece-me no entanto uma peça idealizada, especie do mito do bom selvagem aplicado aos portugueses, escrita numa noite de nostalgia.
Todas as "virtudes" que lá estão parecem como aumentadas à lupa, o que faz dessa lista uma peça humana, cortês, etnográfica, mas donde os "defeitos" estão ausentes.
Enfim, portugal é um país de brandos costumes, é no fundo o que diz Ellis, mas que mais poderia ele dizer? Outras coisas que teria ou tivesse profissionalmente dito já seriam matéria para "wikileaks"!
Mas voltando à aliança luso-inglesa, certamente que foi positiva e benéfica para portugal.
Estas coisas que segundo o embaixador britânico não devem mudar em Portugal são privilégios que os estrangeiros e os portugueses que vivem longe do pais observam com mais evidencia do que os portugueses que vivem aqui. Estou de acordo com as nove primeiras. Quanto à décima, quando nos diz que em Portugal “o dinheiro não é a coisa mais importante”, não me parece tão consensual. Até sou de opinião que para muita gente o dinheiro está à frente de tudo. E mais: sou de opinião que para corrigir certos abusos, a corrupção por exemplo, seria necessário uma justiça mais célere e para corrigir algumas injustiças necessitávamos de uma assembleia mais representativa e sensível para legislar leis que não permitissem aqueles salários mínimos e máximos com o distanciamento que conhecemos e que são uma vergonha que ultrapassa os limites do suportável.
Estas desigualdades levam os mais desprotegidos a ressentirem a perda do sentido de cidadania que acaba por se exprimir na abstenção do voto e no definhar da democracia.
Estou plenamtente de acordo; a relação entre os nossos dois paises tem mudado porque o contexto (Espanha, UE) mudou. Nota-se o parallelismo de Portugal/Espanha e Irlanda/Reino Unido dentro do contexto da UE. Além das relacões políticas, há relações humánas, que são profundas - nos somos dois paises que "know each other well", para utilizar a frase que ouvi dum sábio portugûes. E isto vale mais que qualquer relação de Estado ou do Governo.
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