Ontem à noite, um amigo dizia-me que, na leitura deste blogue, achava dispensáveis algumas notas feitas por ocasião do desaparecimento de pessoas. Disse-lhe então que essa era uma forma que eu tinha de comemorar vidas que tinham valido a pena.
Há minutos, ao olhar a televisão, dou-me conta da morte de Eduardo Azevedo Soares. Conheci-o quando ele era secretário de Estado da Cooperação, em meados dos anos 80. Lembro-me do modo sereno como aturou algumas desnecessárias impertinências da minha parte, por altura da negociação da entrada de Portugal para a Convenção de Lomé III, num tempo em que eu andava algo agastado com a "casa".
Foi depois ministro e passámos a ver-nos a espaços. Mais tarde, nas minhas idas como membro do governo à Assembleia da República, e embora colocado do outro lado da "barricada", Azevedo Soares foi de uma exemplar elegância e simpatia para comigo. Mantivémos sempre uma excelente relação pessoal e tive o privilégio de ter a sua palavra amiga num momento menos fácil da vida, a que se somou a sua ostensiva presença num certo ato público, quando a prudência lhe recomendaria a ausência.
Eduardo Azevedo Soares era um "gentleman" na política, que exercia de modo sério e rigoroso. Talvez porque era, acima de tudo, um homem de bem e de bem com os outros e com a vida, sempre com um sorriso aberto, um amigo com quem trocava fortes abraços quando, como frequentemente acontecia, nos encontrávamos n' "O Comilão", esse campodouriquense lugar do nosso comum amigo Cardoso, que sei que sentirá muito a sua ausência.
Talvez este post ajude a pessoa com quem ontem falava sobre estas notas de despedida a perceber porque as não posso dispensar. Os mortos também fazem parte da nossa vida.
4 comentários:
Senhor Embaixador, concordo plenamente com esse ponto de vista.
Não conheci pessoalmente o Comandante Eduardo Azevedo Soares, mas considero que era um grande Senhor da política portuguesa que transmitia seriedade e educação.
Não me lembro de o ver ser arrogante, uma característica que começa a escassear nos políticos nacionais.
O ano de 2010 fica marcado pela morte de várias personalidades que fazem muita falta a Portugal.
Isabel BP
Tem toda a razão, Senhor Embaixador. Longe, acabei de saber.
Malfadado ano de 2010 que nos trouxe tantas mortes cujas vidas fazem falta!
Por mim, então, nem falo. Se 25 de Dezembro já era mau, o 2010 não lhe ficou atrás. Ufa!
"Vidas que tinham valido a pena.
Fazem parte da nossa vida."In FSC
Meu Deus se concordo
São as nossas referências.
Como Não?
Precisamos Saber
Quando acolher em definitivo
Os nossos espíritos condutores
Despertar para a vida da morte
Num luto necessário de Amor/Amizade
O ciclo vital não encerra
Inicia já com tolerância da ternura
Com a valorização final da essência
Neutralização última do acessório
Mas basicamente
Reconhecer com consideração a Vida do Outro
é erigir uma vida de reconhecimento
Isabel Seixas
A mais bonita maneira de começar um luto é a de relembrar o(a) desaparecido(a).
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