sexta-feira, dezembro 31, 2010

Olá, Bartolomeu!

Há uns anos, por estas horas, estaríamos a caminho das sintrenses escadinhas da Fonte da Pipa. A Fernanda já se tinha encarregado de preparar as sólidas vitualhas que alegrariam o nosso colesterol e, pela enésima vez, eu ter-te-ia pedido perdão por uma dessas noites te ter presenteado com um Chivas "marado". Depois, entraríamos na descoberta desse ambiente, sempre igual mas sempre diferente, que o teu incontável grupo de amigos constituía - da família aos que nela entravam, dos cineastas aos arquitetos, dos pintores aos senhores das letras, dos professores às "troupettes" da Slade, dos fotógrafos aos muito fotografados, dos simples mortais (como eu) aos generais (de abril, sempre!) e tantos e tantos outros, de alguns dos quais não conheci mais do que o sorriso. Pela meia-noite, no terraço, sobre o palácio da Vila, iríamos brindar e comentar o artifício dos fogos da autarquia, antes de passarmos ao sagrado momento do desvendar das papeladas do teu implacável arquivo, onde figurava o cartão com a "cunha" para o Spínola entrar no Colégio Militar (o que a história não teria sido, se a "cunha" não tivesse funcionado!). Depois, confiantes em que a BT da GNR se tivesse distraído na passagem de ano, lá rumávamos a Lisboa, já bem dentro do 1º de janeiro. Eram assim as mudanças de anos, há alguns anos, quando nós também tínhamos outros anos.

Mas isso era quando tu estavas por cá. Agora, a casa mudou de donos, tu mudaste de mundo e nós mudámos de saudades. Sei que a Fernanda deve continuar a dar-te notícias do que por aqui se passa, pelo que, como diria o Chico Buarque, só te quero dizer que "a coisa aqui está preta" (embora eu me interrogue sobre se ainda é politicamente correto utilizar expressões destas). Mas, e em linguagem que tu perceberás, estamos (quase) todos nos lugares do costume. E, embora os "amanhãs" agora por aqui já só assobiem, "a luta continua, a vitória é certa", para que lado é que não se sabe...

A imagem representa uma obra de Bartolomeu Cid dos Santos.

3 comentários:

Anónimo disse...

Que bonita a Saudação...
Prosa poética e figura de estilo diplomática...
Isabel Seixas

manuel augusto araujo disse...

meu caro Francisco Seixas da Costa, o Bartolomeu era um catalizador de grupos de trabalho e de amigos. Neste fim de ano também não resisti a assinalar datas marcantes do calendário em que eramos mais os que, em simultaneo, partilhavam essas horas com esse nosso amigo.
Um abraço

bhttp://pracadobocage.wordpress.com/2010/12/31/em-memoria-de-bartolomeu-cid-dos-santos/

Anónimo disse...

Comovida com o post "A Roma de Samarra". Este ano a dita roma encontra-se na sala em Londres em cima do frigofrofico. Cada vez que abro a porta do dito vejo a roma que tanto tem viajado e e uma das "caixas" do Bartolomeu que prefiro. Por isso viajou mais uma vez de Tavira para Londres. Ja li ao Bartolomeu o teu post e o do M.A.Araujo. Mantenho-o ao corrente como sempre fiz. Na Passagem do Ano mantive o melhor possivel a tradicao e das vitualhas do costume fiquei-me por dois pastelinhos de bacalhau e um copo de vinho tinto do Alentejo, seguidos de tangerinas com saudades de familiares e amigos, lembrando sempre o dito do Bartolomeu que subscrevo: 'O que temos de melhor sao os amigos e na maior parte dos casos os familiares e amigos coincidem'

De qualquer maneira: Um 2011 o melhor possivel para a Gina e para ti. Ate breve, ate sempre, em Londres, Paris, Lisboa, por esse mundo!

Beijos e abracos

Fernanda

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o sempre a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma extraor...