Em tempos, ficou famosa a frase do chefe da diplomacia americana, Henry Kissinger, o qual, queixando-se da profusão dos interlocutores que sempre encontrava deste lado do Atlântico, dizia que gostaria de conhecer "o número de telefone da Europa". Na realidade, o que, com essa frase, ele pretendia realmente significar era a "inexistência" política da Europa e o facto de alguns dos seus integrantes se arrogarem o direito de tentar representá-la, muitas vezes de modo conflitual entre si. O que, vale a pena notar, nem sempre desagradou aos americanos.
Há alguns anos, para tentar ultrapassar esta debilidade, Javier Solana, o alto-comissário para a Política externa e de Segurança comum europeia, passou a funcionar como o interlocutor europeu para o exterior. Mais tarde, a criatividade institucional europeia - para utilizar um piedoso eufemismo, neste dia em que o Tratado de Lisboa faz um ano - acabou por gerar, não uma, mas quatro personalidades com responsabilidades partilhadas em matéria de relações externas europeias: o presidente permanente do Conselho Europeu (Van Rompuy), o presidente da Comissão Europeia (Durão Barroso), a alta-representante da União para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança (Catherine Ashton) e o presidente rotativo semestral (o chefe do governo europeu a quem cabe a Presidência).
Ontem, num momento em que o tema veio à colação, aqui em Paris, alguém notou que a jornalista do "Público", Teresa de Sousa, terá um dia escrito que, com este Tratado e com este modelo, a Europa deixava de ter um telefone e passava a ter um "switchboard"...
Esta graça foi então adubada por outras testemunhas da conversa, tendo resultado, da parte de uma delas, uma ideia curiosa, mas bem prática: aquelas personalidades do novo estrelato europeu deveriam passar a ter exatamente o mesmo número de telefone, disponível para os seus interlocutores estrangeiros, com uma gravação (que deve ser entendida pela ordem atrás referida). O atendimento poderia ser assim: "Aqui Europa! Se quer falar com alguém que representa os Estados que mandam na União, marque 1; se quer tentar obter algum dinheiro dos cofres da União, marque 2; se quer discutir declarações inóquas sobre política externa da União, marque 3; se quer passar algum tempo a conversar com alguém sobre a União, marque 4".
Acho esta versão muito pérfida e não tenho a certeza que o sentido de humor bruxelense lhe ache graça. Mas porque já passei o tempo em que isso me poderia preocupar, não resisti a deixá-la aqui, neste dia 1º de dezembro, em que nós, os portugueses, comemoramos a restauração da nossa independência, em 1640, dia que deveríamos aproveitar para refletir sobre o futuro possível da mesma, 370 anos depois.
5 comentários:
Já nos hbituámos a este tipo de textos que fazem bém ao nosso estado de alma.
Neste dia, para além das festividades estudantis do Liceu, lembro-me sempre de um episódio anual que pelos anos 50 acontecia no Nordeste Transmontano, e que já contei inúmeras vezes.
Nessa altura, as vilas como Macedo de Cavaleiros, Mogadouro ou Moncorvo eram abastecidas de energia elétrica produzida localmente, por geradores que funcionavam por norma apenas de noite, e só até uma certa hora.
Em Mogadouro, creio que no Inverno era até às 22horas, e no Verão até à meia-noite. Uns minutos antes de "apagar", o eletricista do gerador dava três sinais, desligando e ligando. Era um ritual diário, que marcava a hora para as pessoas irem para a cama, ou acender um candeeiro a petróleo. Macedo era mais evoluída, tinha um gerador de 100KVA (para quem sabe o que isso é) e tinha eletricidade toda a noite, se ainda me lembro.
Havia contudo uma exceção - talvez devido à influência das importantes figuras locais de então (Sarmento Rodrigues, por exemplo, que foi Governador Geral de Moçambique e ministro do "Ultramar" de Salazar), Freixo de Espada à Cinta, uma pequena vila manuelina, tinha eletricidade permanente, que era produzida em barragem... espanhola.
Um dia 30 de Novembro, eu era garoto e estava com o meu Pai num daqueles estabelecimentos que vendem tudo, e nesse dia havia um movimento inusitado de pessoas a comprarem... petróleo.
- "É que amanhã não vai haver luz" - explicava o comerciante. No dia 1 de Dezembro - os Espanhóis cortam-nos sempre a luz.
Sabe-se lá porquê...
Um abraço
Pois eu acho-lhe bastante graça. Só temo que um dia apareça uma nova hipótese: "se quer falar com quem realmente manda marque 5. Mas tenha atenção ao indicativo da Alemanha, por favor"!
A graça e a adenda da Dr.ª HSC são pertinentes, mas duvido que os alemães lhes achem piada.
António Mascarenhas
“não resisti a deixá-la aqui, neste dia 1º de dezembro, em que nós, os portugueses, comemoramos a restauração da nossa independência, em 1640, dia que deveríamos aproveitar para refletir sobre o futuro possível da mesma, 370 anos depois”
Senhor Embaixador,
Mas, naquilo que eu li, as comemorações, da restauração, só tiveram lugar, entre uns “maduros”, com procissão, em Guimarães. Um silêncio abismal na comunicação social e da parte do Governo.
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Com tal mal “murcho” de patriotismo segue pelo nosso país acabo por não saber se vamos, no futuro, gramar a “canga” mais 60 anos e o aguilhão dos nuestros hermanos.
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Claro que eu já não irei ver isso... a minha idade não o permite.
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Começo a recear que sigam por aí uns Condes Andeiros que tanto se lhes dá como se lhes deu que sejamos, no futuro, a ré da “Jangada de Pedras”.
Saudações do Rio Kwai – Tailândia
José Martins
telefone europeu de modelo antigo, mas muito eficiente. Que pena já não haver discos para marcar o número com a ponta do indicador e ir ouvindo a musica do disco a voltar para trás.
O napeon branco de renda à medida da base na rustica mesa,só acrescenta garantia da eficiência do telefone europeu.
Afinal, henry kissinger é que não percebe nada do que é a europa.
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