Uma greve é um gesto coletivo de protesto que resulta do usufruto dos direitos que a democracia a todos concede. Quem a faz fá-lo por razões que considera importantes e, só por isso, essa sua atitude deve ser respeitada e ponderada.
Desde que cheguei a Paris, há mais de um ano, esta é a terceira vez em que a Embaixada quase se esvazia, pelo exercício do direito à greve do pessoal administrativo.
Esta nota não se prende com as razões invocadas, liga-se ao efeito sobre o quotidiano do serviço.
Esta nota não se prende com as razões invocadas, liga-se ao efeito sobre o quotidiano do serviço.
Para quem não tem razões para fazer greve, a Embaixada, nestes dias, muda completamente de perfil, nos seus corredores instala-se um silêncio ou um mero rumor, como que se os passos dos que ficam fossem dados sobre veludo.
10 comentários:
Senhor Embaixador, não me leve a mal, mas este seu retrato de uma greve é o mais impressivo que conheço. Parece que estou a "ver" o vazio dos corredores!
Há uns largos anos atrás, meados de 80, registou-se uma greve idêntica, afectando também os serviços das Embaixadas e Consulados. Recordo-me de por razões de trabalho ter de ligar para o Consulado-Geral em Madrid e, para meu espanto, ter atendido o próprio C-G. Perguntei-lhe: “então não está aí mais ninguém para o apoiar?”
Resposta daquele meu colega: “ninguém, pá, estou aqui sozinho, numa confusão que nem imagina. Tenho de fazer de porteiro, telefonista, escriturário, secretária, arquivista e de mim mesmo! É muita coisa junta! E já não tenho idade para isto! E a fazer atendimento ao público! Logo de me havia de cair uma coisa destas em cima! E ainda nem almocei!” Sosseguei-o dizendo que pelo ministério as coisas também não estavam muito melhores, tentando consola-lo: “é ao preço da Democracia! Não se preocupe! Quanto ao almoço, olhe, é da maneira que perde uns quilos!”
Ripostou logo: “Nah! Ficar sem comer é que me dana, pode crer! É o que me custa mais! Bolas!”
Adido de Embaixada
Às vezes, há cada coincidência ! O chefe do sindicato que organiza a greve nas Embaixadas e nos Consulados chama-se Jorge Veludo. Precisamente a última palavra utilizada pelo Senhor Embaixador nesta postada. Coinciência, claro...
ATF
notável a perspicácia de ATF em reparar na polissemia com a palavra "veludo". e notável a coincidência, pois é disso, obviamente, que se trata...
Meu caro Sr. Embaixador:
Com todo o respeito pelo seu trabalho, que é muito e que acompanho desde que desempenhou até há bem pouco tempo no Brasil, não posso deixar de lhe transmitir um comentário de um velho funcionário consular português:
"São estes que justificam os 14,1% de adesão - os inúteis - aqueles que, quer estejam em serviço, quer não, em nada mudam o verdadeiro valor dos que efectivamente trabalham. O governo ou mente em relação aos números, ou a realidade é que na administração pública cerca de 80 % dos funcionários estão no grupo dos inúteis, porque se mais de metade dos Serviços públicos comprometem o decurso normal de funcionamento ou têm mesmo que fechar portas com apenas 14,1% de trabalhadores a menos, é necessário repensar a posição e utilidade dos "passos (mudos) dos que ficam" e que, a serem reais os números do governo, colocam cerca de 80% dos funcionários públicos numa situação delicada! "
Dá que pensar Sr. Embaixador.
Os melhores cumprimentos,
Jorge da Paz Rodrigues
Bem partilho do Seu conceito de Greve, essencialmente como grito reivindicativo, ultimamente parece o único com efeitos operacionais efectivos de sensibilização dos governos para as sempre quase mudanças desejadas no percurso estrutural e salarial das carreiras profissionais.
Também achei a imagem reveladora...
Gostava era de saber como activou a sua inspiração,de que forma para Si,Sr. embaixador, uma vez que partilho a opinião da Dra. Helena.
Fui entretanto por os óculos e o que inicialmente me pareciam tijolos (metáforas de alicerces mão de obra)e caixinhas bordeaux simulando embrulhos de jóias, daquelas grandes essências que se guardam em reservatórios pequenos...Parece-me uma decoração
de um recanto para arrecadação...
Acho as greves cada vez mais braços de ferro onde a negociação pressupõe "alguém" que pede de forma inflacionada face ao exequível e se persegue o
"Paloma buscando cielos más estrellados
Donde entendernos sin destrozarnos Donde sentarnos y conversar"
Isabel Seixas
Compreendo que o tema seja, digamos, delicado.
Sobretudo para quem tem responsabilidades públicas.
Eu não tenho.
E sou geniosa, por isso afirmo desassombradamente que estas greves são injustificadas face às novas realidades com que o nosso país (e o mundo) se debatem.
E não simpatizo com o governo. Nem sequer com a oposição (Bem! estou aqui estou a descobrir-me anarquista!). Isto tudo maça de tão repetido; de tão pobre.
É preciso trabalhar!
É preciso compreendermos que temos muito face a imensos que pouco ou nada têm!
É necessário negociar muito e não amuar (e fala quem sabe do tema) e fazer birra!
As greves só prejudicam o povo. Esse 'povo' com quem tanto os sindicalistas enchem a boca para defender as mordomias dos seus associados.
Isto agora levava-nos tão longe...
Deixem-se de mimalhices e metam as mãos à obra que o país não se levanta sozinho!
E dêem graças a Deus (ou a Marx, ou a quem quiserem) por terem emprego. Segurança. Perspectivas de algum futuro.
Porque a esmagadora maioria tem isso tudo e "protesta" de barriga cheia.
Talvez seja porque tive antepassados que 'trabalhavam de sol a sol por uma côdea', como contavam em casa.
Ee fizeram-se à vida; e singraram. E não foi com 'greves' e quejandos...
Ou porque 'a minha política é o trabalho' foi algo que se me inculcou.
Defender princípios, sim; debatermo-nos por direitos razoáveis, concerteza, preguiçar e pedir impossibilidades enquanto se incomoda o próximo, nem pensar!
Sei de quem faça 'greve' para 'não se cansar' por um dia.
Aliás, todos sabemos de muita coisa pouco edificante sobre os 'trabalhadores' e os dependentes dos subsídios e por aí fora.
Continua a velha história de que 'sobra sempre para os mesmos'.
Nem mais.
E qual é o motivo deste "Mouvement Social" ?
Preferi, de longe, a foto que ilustrou o post sobre a greve (do pessoal administrativo) que prececeu a de ontem (aliás os comentários feitos nessa ocasião ao colo e à elegância da suposta funcionaria em greve são uma delicia...!:).
Nesta terceira greve, as curvas deram lugar a linhas paralelas e a angulos rectos! Nestes cubos, onde o "bordeaux" das cadeiras não chega para confortar os animos, o ambiente é mais tenso diria mesmo no limite do desconfortável...
Boa Tarde Sr. Embaixador.
Hoje deu-me para isto, ler os seus posts, e encontrar em alguns dos comentários que lhe fazem saudosistas do Estado Novo, possivelmente pessoas que não tiveram o ingrato "prazer" de suportar as prepotências de um Salazarismos que nos amordaçava a boca, tal como o "nosso Primeiro", José Sócrates, tentaria fazer se lhe dessem essa hipótese de se tornar no "paizinho da nação" como o fez Salazar ao derrubar a República democrática.
Cada vez tenho mais a impressão de que temos o Povo que merecemos assim como os Políticos que deixamos dirigir o nosso destino, ingrata sina minha que não voto no centro esquerda/direita, o chamado centrão.
Junto para os mais ignorantes a definição do termo GREVE:
Greve é a cessação colectiva e voluntária do trabalho realizada por trabalhadores com o propósito de obter benefícios, como aumento de salário, melhoria de condições de trabalho ou direitos trabalhistas, ou para evitar a perda de benefícios. Por extensão, pode referir-se à cessação colectiva e voluntária de quaisquer actividades, remuneradas ou não, para protestar contra algo.
A palavra origina-se do francês grève, com o mesmo sentido, proveniente da Place de Grève, em Paris, na margem do Sena, outrora lugar de embarque e desembarque de navios e depois, local das reuniões de desempregados e operários insatisfeitos com as condições de trabalho. O termo grève significa, originalmente, "terreno plano composto de cascalho ou areia à margem do mar ou do rio", onde se acumulavam inúmeros gravetos. Daí o nome da praça e o surgimento etimológico do vocábulo, usado pela primeira vez no final do século XVIII.
Originalmente, as greves não eram regulamentadas, eram resolvidas quando vencia a parte mais forte. O trabalho ficava paralisado até que ocorresse uma das seguintes situações: ou os operários retornavam ao trabalho nas mesmas ou em piores condições, por temor ao desemprego, ou o empresário atendia total ou parcialmente as reivindicações para que pudessem evitar maiores prejuízos devidos à ociosidade.
Ainda para os mais distraídos, não esquecer que por cada trabalhador que faz greve além de perder um dia de ordenado ajuda o Estado a minimizar o "DÉFICE" ..... ingrata sina do trabalhador grevista.
Pessoalmente farei GREVE sempre que sentir, tal como acontece nos tempos correntes, os meus direitos, os direitos conquistados com o 25 de Abril de 1974 em causa.
Enviar um comentário