segunda-feira, março 15, 2010

Reunião

"Uma reunião acaba, normalmente, ao final de 20 minutos... só que ninguém dá conta e todos insistem em repetir, nas horas seguintes, embora de forma diferente, os argumentos que os outros já disseram e que estiveram na base das decisões que há muito já foram tomadas".

Quem nos disse isto, hoje à tarde, na Fundação Calouste Gulbenkian, foi o professor Peter Magrath, um especialista de educação americano que, em muito boa hora, o meu querido amigo professor Marçal Grilo convidou para vir a Lisboa falar aos reitores e presidentes dos Conselhos Gerais das universidades públicas portuguesas.

Desta vez, Magrath desmentiu-se a si próprio. Nas cerca de três horas em que o ouvimos e com ele discutimos, nem um minuto foi perdido e todos saímos muito mais conhecedores, não apenas dos exemplos de gestão universitária dos EUA, mas igualmente do modo como cada um de nós, na sua universidade, interpreta o novo modelo de gestão que está em vigor em Portugal. Este é o único caminho para nos ajudar a tornar mais eficaz tal modelo.

10 comentários:

ricardo disse...

Dou a seguinte sugestão(já implementada em algumas empresas japonesas) para resolver este problema:
Retirem as cadeiras das salas de reunião e vão ver como tudo o que é importante se resolve rápidamente.
Consta que é remédio santo.

Santiago Macias disse...

20 minutos parece-me exagero. Mas mais do que 45 / 50 minutos são, em geral, uma perda de tempo. A reunião com Peter Magrath fez, decerto, parte das excepções. E o professor americano tem, no essencial, razão.
Na Câmara Municipal onde desempenho funções costumo marcar a hora não só de início mas também de fim das reuniões internas. Uma prática que, de início, causou algum "frisson"... Mas que é a única forma de evitar perdas de tempo, o andar em círculos ou, pior ainda, o transformar da reunião em quatro ou cinco conversas paralelas.
Estou pessimista em relação do futuro da Universidade em Portugal, senhor embaixador. Não tanto por causa dos novos modelos de gestão, mas devido ao processo de Bolonha. Se na altura em que foi lançado tinha as maiores reservas agora, e face ao que se me depara semana após semana, a reserva deu lugar à quase amargura.

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Santiago Macias: com o tempo, aprendi a só me atrever a falar daquilo que sei. E como, em matérias de universidades, eu me considero ainda um "caloiro", em muitos dos aspetos relacionados com o respetivo funcionamento e com o ensino que promovem, estou numa fase em que ainda não tenho opinião "assente" sobre Bolonha.

Amadeu Magalhães disse...

Pelos Estados Unidos fala-se em reuniões de 22 minutos para aumentar a rentabilidade.

http://www.scottberkun.com/blog/2010/the-22-minute-meeting/

margarida disse...

O professor Marçal Grilo é muito convincente quando discursa sobre 'Bolonha'...
Ou é o seu douto tom e a sua elegante serenindade que encantam e... hipnotizam.
Dons de alguns...
:)
...E numa reunião desse calibre, eu ficava de bom grado horas 'perdidas' a ouvi-lo(s)...

José Barros disse...

No sector social, uma semana de 35 horas que não tenha 40 horas de reunião não é semana. Nem tanto nem tão pouco!

Anónimo disse...

Essas reuniões sucintas aglutinam Senhoras?!... Mulheres mesmo, na verdadeira essência!?...São janelas de oportunidades de debate ou só se permite detentores de verdade absoluta que de forma magistral e narcisica digam, tenho dito... e sejam permissivos em deixar os mudos escravos do tempo em sair calados.

Sr. Embaixador, concordo com os barómetros da pertinência...
Mas... Não conte comigo nessa castração... Prefiro a videoconferência ou o telegrama.

Mesmo na possibilidade de ser eu a dirigir a reunião não é aliciante sem feedback.Sendo que olhares inibidores de obcecados do tempo me limitam o discurso fluente e metem-me nervos.

Cada um é igual a si próprio e às suas circunstâncias...

Adorei a Placa... Então com a redução da acuidade visual a aproximar-se dos cinquenta... Hum! um bónus.
Isabel Seixas

Helena Sacadura Cabral disse...

Santiago Macias
Nem calcula quanto me sinto identificada com o seu post, nomeadamente no que ao processo de
Bolonha se refere.É que vejo diariamente as consequências...

Helena Sacadura Cabral disse...

Margarida
Tenho pelo Prof. Marçal Grilo uma enorme admiração, a juntar ao facto de ele ser tio de quem foi, durante anos, o meu editor de eleição, o António Lobato Faria.
Mas nem a sua capacidade de me hipnotizar, conseguiria vencer a ignorância a que tal processo tem conduzido. Felizmente já não será nas mãos - espero - de médicos de Bolonha que irei parar. Porque, se assim for, duvido que a cura seja prémio garantido...

causa vossa disse...

É curioso, muito curioso e aplaudo a sua cautela, embaixador Seixas da Costa. A sociedade Portuguesa tem este nefasto dom de ter um capacidade infinita de sobre tudo opinar, mesmo quando conhece só uma face. Tenho uma grande amizade pela Helena Sacadura Cabral, pela sua forma de estar na vida. Mas sobre Bolonha e a outra Universidade, deixe-me dar-lhe a minha opinião. Como enta resolvi cursar Bolonha, depois de ter já cursado in illo tempore uma outra universidade pública com os seus cinco aninhos. Da comparação das duas não fica afirmação da outra melhor que esta, mas fica a diferença de um tempo em que olhávamos para a vida como um percurso de conhecimento acabado. Desta, a genuína certeza que ela é o início de um tempo continuado e sem fim à vista de formação e actualização.O tempo da outra era diferente, mais calmo, espaçado, quantas vezes recorrente e repisado. Esta é mais frenética,comprimida no tempo que é hoje o nosso tempo, mas igualmente exigente. Sobre Medicina e Bolonha em Medicina que não haja pavores.É que a extensão temporal é idêntica. Os médicos de Bolonha só poderão pecar por termos adicionado à necessária vocação, um tempo de exclusão. Mas, aí, a responsabilidade não é de uma Bolonha em que já não nos queremos identificar, mas de uma sociedade por nós construída com demasiadas exclusividades!

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