sexta-feira, março 12, 2010

Jospin

Lionel Jospin foi primeiro-ministro socialista da França (1997-2002), em "coabitação" com o presidente Jacques Chirac. Afastou-se da política ao ser derrotado na primeira volta das eleições presidenciais de 2002, onde ficou atrás de Jean-Marie Le Pen.

Jospin assumiu, a partir de então, uma postura bastante discreta, não obstante ter publicado alguns livros e, aqui e ali, ter feito algumas declarações públicas, quase sempre ligadas à defesa da sua "herança" governativa. Já sem ambições para as eleições presidenciais de 2012, publicou, há algum tempo, o seu livro "Lionel raconte Jospin", uma conversa com dois jornalistas que pretende ser o seu inventário de memória política.

O livro traz poucas surpresas, para quem seguiu com algum cuidado o percurso de Jospin. Porém, traz a sua versão sobre a sua polémica permanência na órbita trotskista já como militante do PSF, adianta alguns dados às relações entre os socialistas e os comunistas franceses nos anos 80, introduz elementos interessantes sobre as tensões que emergiram na "coabitação" e, muito em particular, revela a sua quota de desilusão quando foi confrontado com aspetos do passado de François Mitterand. Uma novidade, pelo menos para mim: Jospin só por falta de apoios expressos não foi tentado a ser o "challenger" socialista contra Nicolas Sarkozy, nas eleições presidenciais de 2007.

5 comentários:

Helena Sacadura Cabral disse...

Senhor Embaixador
Vá-se lá entender a política e os políticos. Jospin exercia sobre mim um certo fascínio. Mas nunca consegui, de facto, perceber a sua atracção pelos trotskistas.
Creio que só um politico com a envergadura do senhor Barroso mo conseguiria explicar...
Embora, claro, nada garantisse que eu percebesse!

Helena Oneto disse...

Lionel Jospin foi, para mim, o melhor leader do PSF. Difícil missão quando não se tem o carisma de François Mitterrand. Foi um bom PM e muito foi feito no plano social durante o seu mandato e não mereceu, mesmo se cometeu alguns erros, ficar, por escassos milhares de votos, atrás de JM Le Pen nas eleições presidenciais de 2002 marcadas, aliás, por uma forte abstenção. Jacques Chirac foi reeleito com mais de 82% dos votos. Foi uma derrota monumental para o PS que ainda hoje sofre, hélas, as consequências.

Santiago Macias disse...

Lionel Jospin cometeu bastantes erros, sim. Por essa altura (2001-2002) passei algumas temporadas em França e pude ver como Jospin, ao mesmo tempo que se ía saindo bem como PM revelava uma certa falta de "swing" quando era confrontado em público com situações menos agradáveis. E foi, se não estou em erro, o único candidato a não dar uma entrevista à Rádio Alpha. Há pequenos tiques de arrogância que, em política, não são nada bom sinal.
Não mereceu o resultado? Em política, por norma, merecemos aquilo que temos.

Julia Macias-Valet disse...

Tal como a Helena também Jospin exerceu sobre mim um certo fascinio e acreditei que seria o Presidente da Républica Francesa.
Foi uma grande decepçao da qual ainda hoje nao me consegui recompor.

Tera Lionel Jospin sofrido do "Principio de Peter" ?

ARD disse...

O trotskismo tem muito que se lhe diga.
Ao contrário da Drª Helena Sacadura Cabral, eu percebo bem o fascínio que o trotskoismo exerceu sobre largas faixas da "intelligentzia", não só europeia mas também americana (leia-se México, Brasil e EUA), orfãs de Lenin e Stalin.
Sobre o trotskismo, podem escrever-se livros (e, de resto, escreveram-se).
A essa "orfandade" psico-ideológica juntaram-se a tragédia da Guerra Civil de Espanha, o drama do assassinato por Mercader, o "glamour" do intelectualismo minoritário e, acima de tudo" a ilusão de acção útil que o "entrismo" (o primitivo, o do próprio Trotsky e não o "sui generis", o de Michel Pablo) que Jospin executoum magistralmente ao atacar por dentro o PSF.
A mim, que nunca fui trotskista, o que mais me atraía na tribo era aquela atitude ultraminoritária.
Como se dizia na esquerda "soixante-huitard", "se há um trotskista há um partido trotskista, se há dois há uma organização internacional, se há três organiza-se uma cisão".
O "entrismo" de Jospin e a sua capacidade de o manter e levá-lo ao seu completo êxito, ao conseguir ser Primeiro Secretário do PSF e Primeiro Ministro de França, só acrescenta à sua biografia.

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