quarta-feira, março 10, 2010

Partidas

A morte de um familiar que há muito não visitava projetou-me na memória um filme rápido com todas as recordações que sobre ele alimento. São imagens de tempos diversos das nossas vidas, nas quais se cruzam, entretanto, várias outras figuras do passado, mais próximas ou mais distantes, que estes momentos acabam inevitavelmente por convocar. Nestas ocasiões, atravessa-me sempre uma sensação de um tempo que se desperdiçou, de conversas que poderia ter tido e deixei de ter, de um convívio que poderia ter alimentado, de outra forma e com outra intensidade. Sei tudo isso, como também sei, muito bem, que outros familares e amigos estão precisamente nas mesmas circunstâncias e que, por esta inércia e comodismo que me marca os dias, em alguns casos acabarei por os não rever. E sei também que, quando desaparecerem, terei uma reação em tudo idêntica. Às vezes, dou comigo a desculpar-me de tudo isto com a vida errante que levo, quando se trata apenas de um imperdoável descuido com os afetos. Mas regresso sempre à justificação auto-complacente: não acontece isto a toda a gente?

9 comentários:

Helena Sacadura Cabral disse...

Acontece sim Senhor Embaixador. Mas é uma pena. Só quando já não temos os amigos mas temos o tempo todo é que damos por isso.
Desde a morte de um grande grande amigo passei a seguir a máxima"não deixes, nunca, as palavras por dizer, nem os gestos por fazer".
Infelizmente, com ele isso não aconteceu. E não me perdoo por isso!

Anónimo disse...

Obrigada
Se acontece...

Adorei o Primeiro perfil de paisagem... Até consegui ver subjacente o cruzeiro...

AnCoragens

As lágrimas secas
Jazem vigis
No caudal de flores

A autenticidade
Dor onde Pecas
Sobre silêncios Subtis
Somos Nós Teus Amores
Na única verdade a de liberdade

Capturamos o testemunho
Em cada estafeta
Impulsionadas do Teu Murmúrio
Leve sorriso de Profeta

As Nossas paragens
Retomam agora o fôlego
Finalmente Unidos no consolo
Retido na serenidade das AnCoragens
Isabel Seixas



Isabel Seixas

Guilherme Sanches disse...

Diz-se em terras do sol nascente - "Nunca deixes criar erva nos caminhos da amizade".
E há tanta erva que não pisámos, nesses caminhos das amizades que mantemos apenas no imaginário das nossas recordações...
Tanta que às vezes oculta o próprio caminho, que já não conseguimos encontrar.
Tanta, que às vezes os caminhos já nem sequer vão dar a lado algum, e quando o descobrimos, ficamos assim,
"num vazio silencioso
que nos molha os olhos
que nos seca a boca
que nos gela a alma"
porque quando uma amizade se vai, com ela vai também um pouco de nós, com ela morre também um pouco de nós
...
São por isso, estas palavras.
Um abraço

Anónimo disse...

Acontece. Mas é precisamente essa intensidade e peso da falta agora irremediável que melhor homenageia os que estão por detrás desse sentimento.
De certa forma, a importância das pessoas que nos morrem mede-se melhor pelo desgaste que nos provoca esse arrependimento que, na verdade, ter, com elas, as contas em dia.
Esta a forma do auto-indulto, a outra é deixarmo-nos de justificações e comprar logo o bilhete...
Mas o Embaixador Seixas da Costa sabe bem disso.
Rien de nouveau est tout est nouveau.

Rita

Anónimo disse...

Verdade. Queria eu medir, e saber, a falta que as pessoas me fazem antes do momento de elas partirem.

Anónimo disse...

Acontece também que as palavras homónimas nos pregam "Partidas"...
Dessas que trazem recordações...

Não sei a quem teríamos que pagar os direitos de autor...

Sei que também era uma brincadeira operacionalizada no "Preiro", quando havia visitas importantes, e se pretendia tornar memorável o encontro entre Amigos.

Para além de que está patente aquele sorriso só de Si ternurento e "Trocista" ...
Dos Primos

Bolo "Dissimulado"

1 caixa de Sapatos
6 ovos
200gr de farinha com fermento
200gr de açúcar
4 colheres de sopa de água
Creme
125 gr. de manteiga
125 gr. de açúcar

Batem-se as gemas com o açúcar até fazer uma massa branca junta-se a farinha e as claras batidas em castelo com 4 colheres de sopa de água.

A massa de torta vai a cozer em forno brando sensivelmente 180º, num tabuleiro rectangular previamente barrado com manteiga e polvilhado com farinha durante aproximadamente 20/30 minutos, faz-se o teste do palito para verificar a cozedura.

Faz-se o creme de manteiga batendo bem a manteiga com o açúcar, até fazer um creme bem aveludado.

Barra-se a caixa de sapatos com uma fina camada de creme de manteiga para colar a massa do bolo.
Depois de forrada a caixa com o bolo, barra-se o bolo dissimulado com o creme de manteiga e termina-se a decoração a gosto, sendo que não fica nada mal, um slogan criativo"Aos Anjinhos"...

Convém salvaguardar que tem que ser partido pelos amigos Incautos convidados, e que obviamente tenham sentido de humor...

À dimensão trocista do Meu Pai...
Que eu venerava e agora recordo.
Isabel Seixas

Helena Oneto disse...

Gostava de poder dizer, com estas mesmas palavras, o que hoje sinto por não ter tido (ou sabido ter) uma relação mais próxima com o meu Pai.

Nuno Sotto Mayor Ferrao disse...

É verdade, as partidas de entes próximos, em particular as partidas inesperadas, geram em nós um sentimento de estranheza e uma sensação de vulnerabilidade da natureza humana perante as incertezas. Mas o essencial como nos diz a Senhora Drª Helena Sacadura Cabral é não deixar nada por fazer de acordo com a nossa consciência e os nossos sentimentos! Contudo, as incógnitas do mundo podem ceifar vidas que deixam em nós uma sensação de vazio que não obstante a memória afectiva nos deixam uma insatisfação íntima como nos diz Senhor Embaixador Francisco Seixas da Costa.

Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt

Anónimo disse...

Olá Pai

Agora
Que És Agora
O meu livro em branco Nú
Sempre acessível
No coração
Ocupas a minha mente
Em parceria
Com o meu homúnculo de Penfield
Tu sabes
Quem É...

A flora
Da mãe és Tu
Toda a tua dimensão
Num jardim
Que Ela rega e nutre religiosamente
Com a Vossa Alegria
Aquela que transfundiste Humilde
Conclaves
A vossa Fé

Beijo, eu estou e volto
Isabel

Isabel seixas

Livro