domingo, março 07, 2010

Costa Martins (1938-2010)

Morreu José Costa Martins, um dos grandes heróis da madrugada de 25 de Abril. Com um fantástico "bluff", tomou sozinho e neutralizou o funcionamento do aeroporto da Portela, convencendo tudo e todos que tinha imensas tropas sob o seu comando. As quais só chegariam bem mais tarde.

Era um figura seca e determinada. Conheci-o mal. Recordo-me apenas de ter estado em algumas reuniões com ele, no Palácio da Cova da Moura, em Agosto/Setembro de 1974, quando eu era assessor da Junta de Salvação Nacional e ele confrontava, com coragem, o general Galvão de Melo, com o (hoje general) José Manuel Costa Neves, chefe de gabinete deste último, a procurar construir entre ambos cada vez mais impossíveis pontes. 

Viria a ser ministro do Trabalho, cargo em que foi alvo de um miserável processo de calúnias, que a justiça viria a desmontar, mas de que, na opinião pública, nunca se libertaria, situação que ele sofria com estoicismo.

Na sequência dos acontecimentos de 25 de Novembro de 1975, episódio durante o qual teria um comportamento no mínimo muito controverso, fugiu para Angola, onde acabou por envolver-se nos conflitos de 27 de Maio de 1977. Escapou então, por muito pouco, a ser fuzilado.

Morreu ontem num acidente com um monomotor, ele que tinha sido um orgulhoso oficial da nossa Força Aérea.

21 comentários:

Helena Sacadura Cabral disse...

Senhor Embaixador
Há realmente umas "pequenas" discordâncias entre nós.Conheci Costa Marins. Fico-me pela "figura controversa" para o descrever!

Francisco Seixas da Costa disse...

Dra. Helena Sacadura Cabral: Confesso que, desta vez, não entendo que discordâncias possa ter, num post tão neutro como este. O que digo no texto que não possa aceitar? Não acredito que partilhe a tese do "dia de trabalho para a Nação"...

Helena Sacadura Cabral disse...

Não Senhor Embaixador, não acredito. E até fui das que generosamente nele participou. Tenho experiência suficiente da política para não embarcar em certas teses.
Mas o papel de Costa Martins em todo o processo revolucionário teve outras vertentes que aprecio menos. Digamos que ele não está, para mim, entre os capitães de Abril que mais respeito. E creia que respeito muito alguns, como por exemplo, Melo Antunes.

Francisco Seixas da Costa disse...

Dra. Helena Sacadura Cabral: Costa Martins está longe de ser uma figura da Revolução que mereça a minha simpatia. Não escrevi isso. Reconheço, contudo, a sua coragem na noite do 25 de Abril, a sua frontalidade face a Galvão de Melo e a sua tragédia pessoal nas acusações injustas de que foi alvo. Quanto ao resto (25 de Novembro, 27 de Maio, etc) ou a sua atuação como Ministro do Trabalho, não me viu expressar nenhuma opinião. Olhe que divergimos menos do que pensa...

José Cavalheiro disse...

Bom dia
Ao contrario do que possa parecer fui criado politicamente entre duas datas fulcrais para da liberdade política em Portugal, 25 de Abril de 1974 e 25 de Novembro de 1975, período que passei como militar na Polícia Militar.

Quero perguntar-vos se estamos melhor agora?
ou se os ideais desses homens como o General Costa Martins, ou mesmo Campos de Andrada, que foi ostracizado pelo exercito, não tendo que eu saiba até hoje sido reintegrado no exercito, assim como muitos outros que pura e simplesmente tinham uma visão diferente da democracia que seria imposta, ai sim, pela via das armas, não nos tinham levado a percorrer outros caminhos de democracia, por ventura mais honestos.

Quem saberá, pois morreu á nascença, já que quem entravou todo o processo do PREC foram personagens que jamais abdicaram do que aprenderam no Estado Novo.

Pergunto mais uma vez se democracia é termos mais de 500 mil desempregados, 2 ou 3 milhões de população a viver á beira da miséria, classe média a desaparecer, políticos onde a convivência com privados é mais que muita, segundo a Vossa(Helena Sacadura Cabral e Francisco Seixas da Costa)opinião estes de agora não serão muito diferentes do de então, como devem entender não é essa a minha visão, os de agora são bem piores.

Parece-me que não será necessário dar exemplos, visto que todos conhecemos os que saem da política para os privados e vice-versa, ou os casos das habilitações, ou os sucateiros privados e da política, havia muito que escrever, abates de sobreiros ou centros comerciais em zonas de reservas naturais ....

Seria bom analisar, a ser verdade, o porque do General Vasco Lourenço ou mesmo da associação 25 de Abril não se associar ás exequias fúnebres deste capitão de Abril.

Talvez eles não os quisesse lá ....

Ruaz disse...

Gostava de saber quantos daqueles que viveram o PREC não têm remorsos de algum excesso do seu comportamento? Também se não sorriem com alguma candura do modo como viam o Mundo nesses anos.Então vir agora outra vez com a polémica do "dia de trabalho para o país" é no mínimo despropositado. Não esqueçam: um país que não sabe respeitar os seus mortos não merece ser país.

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Ruaz: Somos o presente e todo o nosso passado. Todo: com erros, ingenuidades e as coisas positivas. Diz bem: um país que não sabe respeitar os seus mortos não se respeita a si próprio. O mesmo funciona para as pessoas: quem não assume, e pleno, o seu passado desacredita o seu presente.

Helena Oneto disse...

..."quem não assume, e pleno, o seu passado desacredita o seu presente."

Aproveito esta maxima do Senhor Embaixador para, neste dia 8 de Março, saudar as mulheres que sempre assumiram o seu passado e que dignificam, no seu dia-a-dia, o estatuto da Mulher no Mundo.

José Cavalheiro disse...

Boa tarde
Ruaz quem se esconde por detrás de tão pouca informação:
Sexo: Masculino
Indústria: Agricultura
Local: Cidade da Bruma : Bélgica
É bem pior que os mais mal comportados do tal PREC, não os que estavam nele mas os que instrumentalizados atentaram contra as sedes dos partidos de esquerda, e deixa de ter direito a qualquer tipo de comentário credível.
Faça como os presentes identifique-se condignamente e respeite quem lhe deu direito a estar como está e a divulgar as suas baboseiras por detrás do anonimato.
Fique bem

José B. Costa Martins disse...

Exmos. Srs.

Certamente que todos nós temos virtudes e defeitos. É essa a essência humana. A diferença está na forma como lidamos com eles. Poderão concordar ou discordar com a actuação em vida do meu pai, mas certamente que, ao contrário de alguns, nunca após a morte de alguém com que ele pudesse ter uma divergência lhe apontaria o dedo pelo simples facto que essa pessoa não teria defesa possível. Agora sim, era nestas atitudes do meu pai que me levam a concordar com o termo "figura controversa" pois vivemos numa sociedade de tal forma invertida em valores em que a palavra honestidade se confunde com controvérsia. Agradeço o respeito à sua memória assim como esperariam dele o mesmo tratamento.

Obrigado

José B. Costa Martins

Guilherme Sanches disse...

"de mortuis aut bene aut nihil"

José Barros disse...

Todos aqueles que participaram para que o 25 de Abril vingasse merecem o meu respeito e estima. E não podemos fazer uma leitura daquele período sem ter presente as emoções de então e o facto dos intervenientes terem de agir sem tempo de reflexão porque a história se escrevia no dia-a-dia...
Fazer hoje uma leitura daquele período, ou de pormenores daquele período, sem ter presente as emoções de então será correr o risco de alguns atropelos. Não esquecer também o permanente confronto ideológico entre os dois blocos (América/união soviética) presente em todas as áreas de conflitos, e a ameaça da América ao largo da costa que poderia intervir, com as suas noções de democracia e os riscos de fuzilamento de muitos homens de abril.

Helena Sacadura Cabral disse...

Senhor Costa Martins
Figuras controversas na política, houve e há imensas. E isso não é uma acusação de carácter. Ninguém aqui falou em questões de honestidade.
Que um filho defenda a memória de seu Pai só merece o meu respeito. Mas isso não deve levar a confundir os dois conceitos, porque nem eu nem o Senhor Embaixador o fizemos.

Ruaz disse...

Agradeço a simpatia e a urbanidade do José Cavalheiro. Contudo que garantias tenho eu que você seja o José Cavalheiro? se a fotografia é verdadeira ou alguma fotomontagem? Com todo o respeito , não tenho evidência de que não seja um daqueles provocadores que se infiltrava no movimento, naqueles anos distantes..
Isto, claro, com todo o respeito e agradecimento ao "proprietário" deste blog, com quem tive o privilégio de trabalhar em aventuras europeias.

Anónimo disse...

Caro Sr.José B. Costa Martins

Não sei se estou a desprove-lo de alguma identidade académica, só porque a desconheço...
De qualquer forma quero endereçar-lhe as minhas respeitosas condolências e desculpas pessoais pela falta do meu sentido de oportunidade, no meu comentário a este post.
Peço encarecidamente ao Sr. embaixador que o retire deste espaço e faça Dele o que achar melhor.
Com todo o respeito, também sou filha e como o compreendo...
Isabel Seixas

José B. Costa Martins disse...

Exmo. Sr Embaixador, Exmas. Sra. Dra. Helena Sacadura Cabral, caros participantes do blog,

Agradeço os comentários e a possibilidade que me deram de participar no blog. A minha participação teve apenas o intuíto de deixar claro os valores pelos quais o meu se guiava e com que me/nos educou. Contudo, não tem sido fácil lidar com as injustos comentários que tenho visto nalguns espaços de opinião pública (não neste blog, diga-se) sobre a pessoa do meu pai. A seu tempo será tudo publicado e esclarecido com base em documentos que assumirão um carácter histórico. Apenas a título informativo, a minha entidade académica é Engenheiro. Respeito os títulos utilizados pelas pessoas, os quais foram adquiridos com o seu próprio esforço e dedicação, mas para mim é irrelevante num debate de ideias.

Mais uma vez agradecido ao Sr. Embaixador pela publicação das minhas palavras.

José B. Costa Martins

Francisco Seixas da Costa disse...

Sr. Engº Costa Martins

Aproveito para lhe endereçar, por este meio menos formal do que deveria ser, as minhas condolências pelo falecimento de seu Pai.

O seu Pai foi um herói do 25 de Abril e, quanto mais não fosse por essa razão, mereceria o meu grande respeito e consideração. Era essa, aliás, a motivação principal que julgo que ressaltava do meu post.

Estive sempre solidário com o seu Pai, em face daquela que foi a vergonhosa campanha caluniadora que, por décadas, o atingiu - e que também tinha o 25 de Abril por alvo indireto. Respeitei sempre muito o modo como se defendeu.

Como referi, conheci mal o seu Pai, pessoalmente. Reconheço a genuinidade do seu empenhamento político, mas, como também notei, não foi uma figura que me suscitasse particular simpatia, porque divergi de algumas das opções que tomou, por razões que seria longo explicar aqui. Muitas dessas divergências não são, contudo, da mesma natureza de alguns dos seus críticos, porque isso dependia, naturalmente, da posição em que cada um estava, à época. Tudo isto é normal na vida. Só não acontece a quem não assume atitudes.

Ser qualificado como uma pessoa "controversa" é algo que acontece a muito de nós. Foi o que ocorreu com o seu Pai, que teve a ousadia das grandes ruturas e que, com coragem e frontalidade, soube defender o seu passado e as ações que decidiu empreender, pelas quais é elogiado ou criticado.

Julgo que ele teria ficado orgulhoso com a resposta que o Filho entendeu dar a quem comentou a sua vida depois da sua morte.

Receba um abraço de quem tem pena de não poder ter estado no funeral deste capitão (neste caso, deste major) de Abril.

Francisco Seixas da Costa

José B. Costa Martins disse...

Exmo. Sr. Embaixador

Em nome da nossa família agradecemos as suas condolências e a atitude que demonstrou perante a morte de meu Pai, que certamente as apreciaria e retribuiria. Por conhecer o Homem por detrás da figura pública é que sei o bom coração que morava por detrás da figura corajosa que apresentava. Mais uma vez um muito obrigado ao Sr. Embaixador.

José Cavalheiro disse...

Boa tarde.
Sr Embaixador deixe-me dizer ao Sr. Ruaz de que realmente não sou o provocador que ele imagina eu ser.
Sou na realidade um filho de Abril tal como digo no meu blog, como deve perceber sou de esquerda.
Mas, devemos dar sem medo a nosso modesta opinião sem nos sentirmos encobertos pelo anonimato.
Fiquem bem.

Francisco Seixas da Costa disse...

Se não se importam, vamos encerrar este debate. As posições já estão claras e ficou dito quanto deveria ser dito.

Unknown disse...

Discordo, senhor Embaixador, não foi tudo dito! É um mito que Costa Martins tenha tomado o aeroporto de Lisboa no 25 de Abril. Além de mito, não corresponde de todo à verdade!

Quem tomou o aeroporto de Lisboa foram as tropas da EPI (Mafra) capitaneadas por Rui Rodrigues.

A verdade histórica acima de tudo!

GM

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