Não deixa de ser impressionante a importância que a agricultura mantém ainda no imaginário francês. A realização do Salon de l'Agriculture, que termina este fim-de-semana em Paris, é a mostra de um mundo com uma identidade fortíssima, cujo peso político, embora de declínio, é ainda considerável. O modo como os políticos, com natural favorecimento dos setores conservadores, exercitam a sua coreografia entre os agricultores presentes, é prova de que, por aqui, a "lavoura" está viva e recomenda-se, não obstante também alimentar um recorrente discurso de queixas.
Como português e como europeu, continuo a ter sérias dúvidas sobre o equilíbrio, racionalidade e justiça do atual desenho da Política Agrícola Comum (PAC) da União Europeia, até porque ela foi estruturada num outro contexto histórico-económico, ligado às preocupações de autonomia alimentar europeia, bem presentes no pós-guerra. E estas minhas dúvidas, estendem-se, bem entendido, ao modo como as ajudas da PAC se distribuem pelos bolsos portugueses que delas beneficiam. Devo, porém, confessar que, ao viajar pela França e ao verificar que o ordenamento do seu território e os estímulos à fixação da sua população devem muito aos apoios dados à agricultura, questiono hoje algumas das minhas antigas objeções à aplicação da PAC.
Nada disto implica que não devamos debater, com seriedade e firmeza, a questão da hierarquização e do posicionamento relativo das despesas agrícolas dentro do orçamento comunitário. Não podemos admitir que, por supostos e contestáveis direitos históricos adquiridos, seja o dinheiro europeu a contribuir para a existência de duas Europas agrícolas.
2 comentários:
Belissima fotografia esta de Carlos Monteiro.
A qual associo um pouco mais de sul :
http://www.youtube.com/watch?v=mdQRcUsohbo&feature=related
"Nada disto implica que não devamos debater, com seriedade e firmeza, a questão da hierarquização e do posicionamento relativo das despesas agrícolas dentro do orçamento comunitário."(FSC in Aqui: 2010)
Eu não tenho obviamente a Sua tarimba para entrar neste debate com saber adquirido...Mas esta imagem fascinante faz-me lembrar outra imagem também fascinante mas da nossa posse de terra aos retalhos, que quando houve tentativas de aglutinação se revelou perversa dada a impossibilidade humana de consensualizar a perda do pouco que se tem em detrimento de uma... "Ilusão" de optimização de recursos que obriga à crueza do não ser nada Meu "nem a capacidade autónoma de decidir pelo menos em casa", facto que se afigura como uma expropriação de dignidades e sacrifícios herdados dos ancestrais...
Provavelmente do ponto de vista político este tipo de semântica é irrelevante macroscópicamente, mas acredite que é um determinante nas opções de voto do nosso povo...
Como assim a identidade /essência direita esquerda diluiu-se... Eu própria, que modéstia à parte, acho que leio algumas entrelinhas
Fico mesmo baralhada é por isso que despindo-me de qualquer preconceito do ter de tomar partido
Voto em projectos que me seduziram...Faço normalmente uma digressão desde a direita à esquerda e ou vice versa passando sempre pelo centro no cariz de voto útil, mesmo assim, sempre confiando e duvidando e desconfiando... de tudo e de todos não vá o Diabo tece-las...
De agricultura comecei mal,logo aos quatro anos enquanto o meu Pai plantava alfaces eu ia por trás arranca-las, o que me valeu uma espécie de fuzilamento de olhar que o Pai não era de bater explicitamente, mas que me ficou de emenda...
Olho com inveja ternurenta as couves, as favas,os tomates, as cebolas... Da horta do sr. aqui ao lado.
O meu marido e o meu cunhado tentam imitar o Sr., mas o profissionalismo da actividade terciária acho que não lhes dá grandes competências pois tudo o que plantam parece sofrer de raquitismo...
Para além, do que me impressionou uma oferta do Sr. com uma expressão de satisfação " Olhe minha senhora ponha aqui os olhos e mostre ao seu marido isto é que são tomates"
Enfim...Já estou quase por tudo.
Isabel Seixas
Enviar um comentário