Claude Allègre é um cientista e político francês que não teme a polémica. Ministro da Educação no governo socialista de Lionel Jospin, saiu em conflito com o setor. Recentemente, foi dado praticamente como certo que poderia integrar o governo do presidente Sarkozy, mas isso acabou por não ter lugar.
O carácter mais polémico de Claude Allègre advem, contudo, da sua posição altamente reticente em aceitar alguns dos pressupostos vulgarmente avançados sobre o tema do aquecimento global. Não sendo necessariamente um "negacionista", Allègre tem dúvidas sobre o bom fundamento das teorias de relação causa-efeito que estão em moda e, recentemente, expô-las num livro.
Hoje, no "Le Monde" (de amanhã...), sintetiza em cinco pontos o que pensa:
- o painel da ONU designado GIEC (grupo intergovernamental de peritos sobre as alterações climáticas) é culpado por "erros científicos graves" e o seu método de decisão por consenso, que silencia as opiniões minoritárias, é "incompatível com a ética da ciência".
- o planeta pode estar ameaçado de um aumento a 1 ou 2 graus centígrados de temperatura... mas dentro de um século. Mas pode, igualmente, estar ameaçado de uma baixa das temperaturas.
- o CO2 é uma ameaça quando "em excesso", porque acidifica os oceanos e também porque é de boa política economizar as energias fósseis. Mas é errado imputar-lhe todos os males.
- há uma "ideologia do aquecimento climático" promovida pelos ecologistas. É necessário reencontrar, neste tema, as leis elementares do debate científico - aberto, contraditório sem apriorismos.
- em Copenhague, a "rebelião" dos países emergentes ficou a dever-se à recusa de um "neocolonialismo rastejante, encostado a interesses financeiros de que um dos principais porta-vozes é Al Gore", representando um "ecobusiness" que também existe em França.
Este é um debate sobre o qual não tenho conhecimentos que me levem a dar a menor opinião, mas que sigo com interesse. Tenho, contudo, uma curiosidade: há quantos dias terá sido enviado este artigo para o "Le Monde"? Posso estar enganado, mas suspeito que terá sido antes das recentes cheias...
3 comentários:
Talvez o aquecimento global seja controverso e o seu enquadramento científico discutível até certo ponto.
Mas a credibilidade de Allègre quanto à sua sua contestação das posições da maioria da comunidade científica parece-me bastante abalada.
Claude Allègre, o político mas também o cientista, na sua alegre caminhada para a direita, elegeu há muito os "esquerdistas" como alvo de diatribes destemperadas.
Como me recordava vagamente de outras polémicas do foro científico em que a personagem esteve envolvida, recorri à net para reavivar a memória.
Em 1996, negou que o amianto tivesse efeitos cancerígenos e acusou os "esquerdistas" de alarmismo e de criarem "um ambiente de psicose" em relação àqueles efeitos.
Em 99, defendeu publicamente que dois objecto (no caso, uma bola de pétanque e uma bola de ténis, lançadas simultaneamente de uma torre atingem o solo ao mesmo tempo, esquecendo-se de precisar que isso só acontece em ambiente de vácuo. Nessa ocasião acusou os professores de ensinarem conceitos erróneos às crianças.
Na discussão sobre o aquecimento global, o alvo são os "ecologistas que fazem do aquecimento global" um negócio.
Já agora: é doutor "honoris causa" pela Univ. de Évora.
Truculento, agressivo e radical, não é flor que se cheire.
Excelente!... fiz, naturalmente!, link.
Muito obrigado.
Um abraço.
Belo retrato Gil. E ainda dizem que o clima não é propício...
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