quinta-feira, abril 14, 2022

“A Arte da Guerra”


Esta semana o meu podcast com o jornalista António Freitas de Sousa, para o “Jornal Económico”, aborda a situação na Ucrânia, das eleições presidenciais em França e da nova crise política no Paquistão. 

Pode ver aqui.

Pão-de-ló


Já não é distribuído nestas caixas, mas paro em Alfeizerão, todas as Páscoas, no Café Ferreira, logo à saída da auto-estrada, para “recolher” o pão-de-ló. Ainda hoje por lá estive! Ah! E os outros doces da casa são excelentes. É que… eu é mais bolos!

quarta-feira, abril 13, 2022

Maldonado Gonelha (1935-2022)

 


França - é fazer as contas

                         

Emmanuel Macron, presidente e candidato, “centrista radical”, obteve, na primeira volta das eleições de domingo, 27,84% dos votos expressos. A conseguir preservar, no segundo turno, a 24 de abril, estes mesmos eleitores (e nada indica que venha a perder esses votos), para ser reeleito terá de conseguir mais 22,17% de votos.

As mesmas contas, naturalmente, estará a fazer Marine Le Pen, a candidata de extrema-direita que tem vindo a “dulcificar” o seu discurso, cuja tarefa parece um pouco mais difícil, porquanto necessitará de mais 26,86% de votos, isto é, de mais 4,69% do que o seu adversário.

Para ambos, os votos em falta poderão vir da abstenção (26,31%) ben como de quantos, no primeiro turno, escolheram votar em outros candidatos. 

Embora o eleitorado que, na primeira volta, escolheu um candidato derrotado não tenha, necessariamente, de seguir o seu “conselho” para a segunda volta, naturalmente que esse fator tem alguma importância.

Neste caso, em tese, Marine Le Pen tem um maior potencial teórico de crescimento. Quer o candidato de extrema-direita radical Éric Zemmour, com 7,1% de votos, quer o soberanista Dupont-Aignan, com 2,1%, recomendaram o voto em Le Pen. Se essa indicação for seguida, ela contará, por essa via, com mais 9,2%.

O candidato “verde” Yannick Jadot (4,6%), o comunista Fabien Roussel (2,3%) e a socialista Anne Hidalgo (1,8%) recomendaram também o voto em Macron, o que, em teoria, poderá garantir ao atual presidente mais 8,7%. 

Há, no entanto, um pormenor importante a ter em conta. Enquanto a plausibilidade dos eleitores que votaram Zemmour e Dupont-Aignan se transferirem para Le Pen é muito elevada, pela forte proximidade ideológica, já a probabilidade dos eleitores que, na primeira volta, escolheram Jadot, Roussel e Hidalgo se inclinarem para Macron oferece bastantes mais dúvidas, porque partem de áreas políticas bastante diversas da do atual presidente, pelo que só por um raciocínio tático serão levados a votar nele. Embora seja improvável que algum desses votos possa ir para Le Pen, não é de excluir que a abstenção possa vir a ser o refúgio de parte desses votantes.

Pondo de lado Jean Lassalle, um candidato com um programa que podemos designar de populismo simplista, que obteve 3,1% e que já informou que, pessoalmente, iria votar em branco (o que está muito longe de significar que os seus eleitores venham a fazer o mesmo), há que refletir sobre o destino dos votos de Valérie Pécresse e de Jean-Luc Mélenchon.

Pécresse representou o “Les Républicans”, um partido herdeiro de uma das mais poderosas famílias políticas de França, desde De Gaulle, passando por Pompidou, Chirac e Sarkozy, que mantém uma imensa rede pelo país e detém postos importantes na administração descentralizada, bem como um significativo grupo na Assembleia Nacional. Nas eleições de 2017, o “Les Républicans” foi representado por François Fillon, que obteve 20,01%, maugrado escândalos pessoais de última hora que muito afetaram a sua esperada presença na segunda volta. O facto da candidatura do “Les Républicans” ter recuado agora dos 20,01% obtidos com Fillon para 4,48%, mesmo descontada a medíocre campanha de Valérie Pécresse, é considerado, pela generalidade dos comentadores, como significando que Emmanuel Macron terá já beneficiado, desde a primeira volta, do voto de muitos dos tradicionais apoiantes do “Les Républicans”.

Valérie Pecresse disse, na noite eleitoral, que iria votar Macron na segunda volta. Mas o “Les Républicans”, enquanto partido, apenas aconselhou um voto negativo, isto é, disse aos seus simpatizantes para não votarem Marine Le Pen. Várias figuras do partido, a título individual, disseram ter preferência por Macron, mas outros disseram que nunca escolheriam o atual presidente. O antigo presidente Nicolas Sarkozy, que mantém com o partido uma relação complexa mas que tem algum ascendente em certos setores, fez um apelo ao voto em Macron.

Convirá explicar que, no seio do “Les Républicans”, desde que Macron foi eleito em 2017, existe a sensação, porventura exata, de que o partido que apoia o presidente, o “La République en Marche”, tem vindo a crescer, essencialmente, à sua custa. E, aproximando-se as eleições legislativas em 12 e 19 de junho próximo, muitos, dentro do “Les Républicans”, devem temer que um apelo ao voto agora em Macron possa contribuir para “habituar” o seu eleitorado a seguir de novo o presidente em junho, desfalcando ainda mais o partido em termos de votos. E de futuro.

Em toda esta análise, quem resta? Jean-Luc Mélenchon, o candidato da “France Insoumise”, um carismático antigo ministro do socialista Lionel Jospin, que congrega alguma extrema-esquerda e uma ala mais radical dos socialistas democráticos. O destino dos 21,95% de votos que agora obteve (em 2017, já tinha tido 19,58%) permanece o grande mistério e vai ser, com toda a certeza, a chave desta segunda volta. 

Mas, antes de irmos por aí, vale a pena lembrar que, embora o Partido Socialista seja uma sombra do que já foi, não deixa, tal como o “Les Républicans”, de ter uma máquina nacional forte e muitos eleitos locais. E tudo parece apontar que muitos simpatizantes da área socialista terão abandonado Hidalgo e decidido votar Mélenchon (com outros a seguirem Macron), porque acreditavam que esse “polo popular” poderia aceder à segunda volta. Esteve perto: faltaram-lhe 2,1 % de votos. Se, tal como aconteceu em 2017, tivesse feito uma aliança com os comunistas, talvez isso tivesse sido possível: Roussel, o candidato comunista, teve 2,3% …

Como se dividirão os votos de Mélenchon, que, tal como já havia feito em 2017, recomendou o “não-voto” em Le Pen, sem no entanto endossar Macron? Embora o reflexo “republicano” de muitos votantes de esquerda os deva levar, maioritariamente, a votar Macron, para tapar o caminho de Le Pen para o Eliseu, esse deve ser um “esforço” muito grande para parte significativa de um eleitorado que fez da crítica acerba ao quinquenato do presidente a sua palavra de ordem. Devemos pensar que, nos votos de Mélenchon, estão muitos “gillets jaunes”, que colocaram a França “a ferro e fogo” durante meses, com a diabolização da gestão de Macron no centro da sua agenda (outros “gillets jaunes” foram já, com toda a certeza, para o apoio a Le Pen). 

A doutrina dos analistas divide-se, nas últimas horas, sobre o destino dos votos em Mélenchon. Há quem diga que eles se dividirão, em partes mais ou menos idênticas, por Macron e pela abstenção, com outra parte significativa a querer “castigar” o presidente, votando Le Pen.

Serve isto para dizer que, se numa lógica de bom sendo republicano, uma vitória de Macron sobre Le Pen, ainda que bastante menos folgada do que em 2017 (66,1%-33,9%), parece ser o cenário mais provável, permanece um conjunto de variáveis no terreno cuja quantificação é muito difícil de fazer. 

Por isso, as duas semanas de intensa campanha que está em curso, com o debate televisivo entre os dois candidatos, no dia 20 de abril, prometem ser determinantes. E o modo como os abstencionistas vierem a comportar-se pode ser a chave mestra da equação final.

terça-feira, abril 12, 2022

Sarkozy e Macron

“Je voterai pour Emmanuel Macron parce que je crois qu’il a l’expérience nécessaire face à une grave crise internationale plus complexe que jamais, parce que son projet économique met la valorisation du travail au centre de toutes ses priorités, parce que son engagement européen est clair et sans ambiguïtés”.

Uma bela e digna declaração de Nicolas Sarkozy. Ser apenas contra a extrema-direita é mais fácil.

segunda-feira, abril 11, 2022

O partido da raiva


A palavra “enragé” (enraivecido) marcou, historicamente, a memória da revolta do Maio 68, o desafio a De Gaulle que viria a ditar o seu afastamento, um ano mais tarde. A França tem demonstrado ser a democracia europeia onde, à margem dos poderes eleitoralmente consagrados, surgem, com regularidade, formas de expressão reivindicativa que desafiam esses mesmos poderes, frequentemente de modo inorgânico e sempre de difícil controlo. O movimento dos “Gillets Jaunes” (coletes amarelos), que Emmanuel Macron teve de enfrentar durante o quinquenato que agora termina, foi a mais recente expressão desse fervilhar conjuntural de revolta popular. 

Na prática, o que essas movimentações revelam é que há uma parte significativa da população francesa que entende que as resultantes políticas do voto não esgotam a representação da vontade políticaj. Mais do que isso: esses surtos, com expressões por vezes violentas, traduzem a ideia de que há pessoas e camadas da população que se consideram sem voz ou à qual os poderes organizados não conseguem dar a devida expressão. A legitimidade do sistema é, claramente, posta em causa por esta atitude.

Se olharmos para o saldo político da primeira volta das eleições presidenciais francesas, fica patente que esse grande “partido da raiva”, com expressão diferenciada, representa hoje uma percentagem de votos que se aproxima da metade do eleitorado. À direita, Marine Le Pen e Éric Zemmour, tal como, à esquerda, Jean-Luc Mélenchon, somam votos de muitos milhões de cidadãos que atravessam um tempo de desencanto face às políticas moderadas e reformistas, sendo, ao invés, seduzidas por agendas radicais, embora, curiosamente, de sentido político contraditório.

Cinco anos de gestão política da França por Emmanuel Macron não contribuíram para atenuar este crescente sentimento de rejeição, que revela alguma desfuncionalidade do sistema. Se, em 2017, Macron era uma novidade e uma esperança, nos dias de hoje, a sua imagem, desgastada pela desilusão que diluiu muita dessa mesma esperança, tem mais dificuldade em assumir-se como mobilizadora. De certa maneira, foi essa governação sem chama e carisma, em que ao otimismo constante da mensagem não corresponderam resultados que apaziguassem as inquietações de muitos setores, que deu origem ao reforço dos extremismos, que se constata nestas eleições.

Emmanuel Macron pode, de acordo com a maioria das previsões, acabar por renovar o seu mandato, por mais cinco anos, nas eleições de 24 de abril. Mas o “partido da raiva”, essa conjugação negativa de diversas formas de mal-estar social e político, promete não se aquietar. E, de avanço em avanço, poderá, um dia, acabar por consagrar, num país com a dimensão e a importância da França, uma revolução política de inéditas proporções, com consequências no próprio futuro da Europa.

domingo, abril 10, 2022

Putin no voto

Vladimir Putin vai estar no centro dos debates da campanha para a segunda volta das eleições presidenciais francesas.

Respeito


Afixação de propaganda eleitoral em países que não gostam de poluir visualmente os espaços públicos. No mundo, além desses países, há outros.

sábado, abril 09, 2022

Futebol pelo futebol


Cada vez mais, gosto de ver, na televisão, jogos de futebol entre equipas pelas quais não tenho a menor afetividade ou antipatia. As emoções cansam-me! 

Tenho uma assinatura para ver futebol britânico e, algumas vezes por semana, não quero outra coisa. Se alguém mete um golo, “faço figas” para que a outra equipa empate, apenas para retomar o equilíbrio do jogo. E fico à espera de mais golos.

Canja!

Com os russos bem distantes de Kiev, a romaria política para ir lá ver Zelensky não deve ser lida como prova de coragem. 

Corajosa era a presença dos jornalistas na cidade sitiada. Agora, é “canja”!

Sanções

Lembrar: as sanções à Rússia não são mandatórias pelo ordenamento internacional. Foram unilateralmente decididas pela coligação política que se opõe à agressão à Ucrânia. Quem as dificultar sai das “boas graças” dessa coligação e, no limite, pode sofrer “sanções secundárias”.

Males que vêm por mal

Uma das “casualties” da guerra na Ucrânia é também a sobrevivência política de Boris Johnson.

A França que aí anda (em 1000 carateres)


As sondagens colocam Marine Le Pen com uma inédita proximidade a Emmanuel Macron, à porta da primeira volta das eleições presidenciais francesas, com desfecho a dia 24 de abril, a disputar entre os dois. Com um discurso social, protetor, de resposta às angústias do aumento do custo de vida, credíveis aos olhos dos eleitores, uma vitória da candidata da extrema-direita, agora travestida de moderada e já “dédiabolisée” pelos media, deixou de ser uma hipótese bizarra. Macron, presidente cada vez mais “sortant”, entrou tarde na campanha, convencido de que o país reconheceria o seu papel internacional e o dispensaria de debates. Isso foi lido como arrogância. O seu quinquenato parecia ter sido relativamente competente mas o seu projeto está a ser pouco mobilizador. Sofre agora da onda “tous sauf Macron”, ensanduichado entre a extrema direita (Le Pen e Zemmour) e a extrema esquerda (Mélenchon), com uma esquerda moderada inexistente e a direita tradicional pelas portas da amargura. E agora?

sexta-feira, abril 08, 2022

A Ucrânia, claro


Há pouco, na CNN, sobre a situação na Ucrânia e a credibilidade da Rússia.

Pode ver aqui.

Daniel Proença de Carvalho


Ontem, juntaram-se na Fundação Champalimaud muitos amigos e conhecidos de Daniel Proença de Carvalho, por ocasião do lançamento do seu livro de memórias “Justiça, política e comunicação social - memórias do advogado”. 

Manuel Alegre, seu amigo desde Coimbra, fez um retrato sentimental da sua relação com o autor, o que foi complementado por uma bela peça de Miguel Sousa Tavares, que aproveitou para “desancar” na justiça portuguesa e nos seus agentes - tema que, aliás, é central ao livro. 

Faço parte de quantos - e alguns, como eu, estavam naquela sala -, em momentos diversos do passado, nas últimas décadas, estiveram em “barricadas” opostas a Daniel Proença de Carvalho. No meu caso, sempre e só no plano político, onde creio que, desde sempre, nunca tivemos a felicidade de ver as nossas escolhas coincidirem. Coisa que a nenhum de nós minimamente interessa.

Dito isto, que é um facto, devo dizer que, ao ter vindo a conhecer melhor, nos últimos anos, Daniel Proença de Carvalho, acabei por nele encontrar uma pessoa muito diferente da caricatura que tradicionalmente às vezes dele se faz: descobri um homem livre, frontal, com opinião própria, dependente apenas de si próprio, com fortes preocupações de justiça. E também, o que apenas confirmei, uma pessoa superiormente inteligente, divertida, olhando de forma saudável alguns aspetos lúdicos da vida, que ambos comungamos. E, vale a pena dizer, apenas me relaciono com Daniel Proença de Carvalho no plano pessoal, não tendo nunca tido com ele a mais leve ligação profissional.

Sei que este retrato impressionista não convencerá quantos mantêm uma visão preconceituosa sobre Daniel Proença de Carvalho. Estou certo que essa é a última coisa que o preocupa, que vive bem com essas “idées reçues”, que o seu muito cheio percurso de vida ajudou a criar - na justiça, no jornalismo, na política. E até me permito especular que o seu permanente sorriso, a sua imagem de marca, de onde transparece o modo sereno como encara a vida, não agradará a muitos, como imagino que os comentários que aí virão vão revelar. É a vida!

Um forte abraço de parabéns pelo livro, caro Daniel!

Mais claro?

“Estarei cá mais quatro anos e seis meses à espera de si”, disse ontem António Costa numa resposta (provocatória) a Rui Rio. Se isto não significa que o primeiro-ministro português acabou por se comprometer assim a ficar até ao fim do mandato, então não sei o que ele deva dizer.

Jorge Coelho


“Então o meu querido amigo o que é que manda?”. A possibilidade de receber, do outro lado do telefone, esta bem disposta frase era muito elevada.

Jorge Coelho era assim, uma figura cordial, aberta, sem truques, imune à intriga, que nos desarmava pela franqueza. Quanto mais se conhecia o Jorge, mais gostávamos dele, melhor entendíamos a maneira de ser de um homem com um imenso bom senso, um forte sentido de interesse público e, acima de tudo, um amigo do seu amigo, muito respeitado por toda a gente, mesmo pelos adversários.

Faz hoje precisamente um ano que Jorge Coelho nos deixou. Ontem, Vitor Melícias recordou-o numa cerimónia religiosa que juntou mais de uma centena de pessoas. Um ano sem o Jorge é um peso imenso de perda para todos quantos o conheciam e admiravam.

quinta-feira, abril 07, 2022

“A Arte da Guerra”


Em “A Arte da Guerra”, o podcast do “Jornal Económico”, analiso esta semana, com o jornalista António Freitas de Sousa, a evolução da situação na Ucrânia, as consequências europeias da nova vitória esmagadora de Viktor Orbán na Hungria (lembrando também o caso da Sérvia) e o estado da arte na política brasileira, com Bolsonaro e Lula na “pole position” para as eleições presidenciais de novembro.

Pode ver aqui.

Oslo e o crime



Acabei de ler, há minutos, um romance policial, com o título “Sem Rasto”, escrito por Margarida Utne.

O nome ilude. Trata-se de um pseudónimo. Estamos perante um livro de Margarida Ponte Ferreira, uma economista portuguesa que conheci, em 1979, na capital da Noruega, cidade onde ambos então vivíamos. 

No dia 12 de abril, com Mário Mesquita, vou apresentar o livro. No ISEG, na rua do Quelhas, às 18 horas. Apareçam.

Há minutos, no Twitter, surgiu-me um fotógrafo de Oslo. Chega-se lá através de @MortenClicks . Deixo uma imagem sua.

quarta-feira, abril 06, 2022

A Ucrânia, ainda e por muito tempo


Hoje, na CNN, a comentar a situação na Ucrânia.

Aqui.

Ganda rabino!

Ao que atestou o rabino que apoiou a concessão de nacionalidade portuguesa a Roman Abramovich, ele tem uma ligação sentimental a Portugal e hábitos alimentares sefarditas. Deve ser isso: ele tem saudades da salada russa.

Avante…

É estranho o destaque dado ao voto negativo do PCP quanto à audição do presidente ucraniano no nosso parlamento. Notícia - isso sim! - seria a anuência dos comunistas a tal proposta. Mas como é preciso fazer notícias sobre tudo…

Viva o Brexit?

Com o traumatismo ucraniano, as instituições europeias podem ter encontrado um impulso para um salto federal, para um reforço da integração, coisa que, como é sabido, implica mais partilha/cedência de soberania. Se assim for, a ausência do Reino Unido facilita. Viva o Brexit?

terça-feira, abril 05, 2022

Gambozinos

Há pouco, telefonou-me um amigo, zangado pelo facto de eu ter afirmado ontem à noite, na CNN Portugal, que os russos não têm direito ao benefício da dúvida. quanto à autoria do massacre de Busha. Esse amigo defende a tese de que tudo não passou de uma encenação feita pelos ucranianos, para explorarem a indignação da opinião pública internacional.

Acho que os órgãos de comunicação social devem continuar a dar espaço e tempo a quantos, nesta guerra, se sentem mais próximos da Federação Russa, alimentando uma atitude negativa face ao governo de Kiev. Pode ser chocante para muitos, mas continuo a pensar que o 25 de Abril se fez para que ouçamos todas as opiniões, mesmo as mais abstrusas. Quem não concordar com elas que as combata, no terreno das tomadas de posição pública. Contudo, silenciá-las, abrindo uma espécie de “caça às bruxas”, não me parece digno de um país de liberdade. A censura à imprensa existe na Rússia, não a admito em Portugal.

Voltemos ao massacre de Bucha. Ontem, o embaixador russo na ONU disse que os russos não são responsáveis pela morte de qualquer cidadão ucraniano, ocorrida na cidade. O MNE russo e outras figuras do regime disseram coisas basicamente idênticas.

A Rússia, que é a única entidade agressora neste conflito, à evidente revelia do Direito Internacional, não tem um passado recente que lhe permita reivindicar o estatuto de um Estado “de bem”, antes pelo contrário. Violou flagrantemente as leis internacionais em 2008, na Geórgia, voltou a fazê-lo em 2014, ao “empochar” a Crimeia e alimentar o secessionismo no Donbass, colocou a “cereja no bolo” ao invadir agora a Ucrânia. A Federação Russa não tem um histórico mínimo de credibilidade que faça com que possamos acolher, com qualquer benevolência, as suas teses. No caso de Busha, tudo indica que a culpa lhe pertence.

Nos tempos que correm, e à luz das evidências do passado, tendo a duvidar, por sistema, das afirmações de Moscovo. Há muito que deixei de acreditar em gambozinos.

segunda-feira, abril 04, 2022

Luís Menezes Cordeiro

Há pouco, no “Público”, li que morreu Luís Menezes Cordeiro. Tinha 90 anos e foi embaixador.

Com muita pena minha, não consegui estar em Lisboa a tempo de ir prestar-lhe uma homenagem pessoal na basílica da Estrela, ao final da tarde de hoje.

Em 1977, Luís Menezes Cordeiro passou a chefiar uma repartição no setor económico do Ministério dos Negócios Estrangeiros, onde eu já trabalhava, como jovem diplomata, desde há um ano, com o pelouro das relações com os países do Magrebe e do Médio Oriente.

Era um homem baixo, com um permanente sorriso, que nunca falava alto e que, desde o primeiro dia, introduziu uma gestão suave naquele serviço. Tinha, ao que lembro, um especial talento para falar com as senhoras, que pareciam sempre sensíveis - no bom sentido, entenda-se - ao seu charme pessoal.

Dei-me lindamente com o embaixador Menezes Cordeiro, durante os quase dois anos em que trabalhei sob as suas ordens. Depois, a vida separou-nos pelo mundo. Chefiou várias embaixadas, de Bissau a Varsóvia, de Abidjan a Santiago do Chile.

Um dia, num contacto ocasional que tivemos, fez-me uma confissão: “Quando fui chefiar o serviço em que o meu amigo trabalhava, isso foi considerado uma “missão de risco”. Porquê? Porque você e outro colega estavam colocados por lá! Nem imagina os alertas que recebi! Que eram dois comunistas, gente perigosíssima, que era preciso vigiar com muito cuidado!” Para logo acrescentar: “Mal eu sabia que não iria ter o menor problema, que vocês eram funcionários dedicados e cumpridores, que tudo ia correr às mil maravilhas!”

Vale a pela recordar que, nesses tempos conturbados do pós-PREC, algumas figuras do extremo conservadorismo das Necessidades identificavam quem fosse um pouco mais à esquerda com o labéu comunista. 

Não resisti a perguntar-lhe: “E quando é que concluiu que nós não éramos comunistas?”. A resposta foi deliciosa: “Eu, de início, não cheguei a perceber se vocês eram ou não eram comunistas. Mas posso dizer uma coisa: por essa altura, no contacto convosco, cheguei a pensar que se todos os comunistas fossem como vocês, então os comunistas não eram assim tão maus...”

O outro “comunista” era o Mário Jesus dos Santos, um grande amigo com que ainda há dias jantei e cujo último posto como embaixador - imaginem! - foi Kiev.

Já um dia contei por aqui a história que deixo de novo registada. Repito-a hoje, no dia em que desaparece mais um dos meus “chefes” - e tenho um imenso orgulho de ter ficado amigo de todos, repito, de todos eles.

Deixo um abraço de pesar à família do embaixador Luís Menezes Cordeiro, em especial à sua filha Ana Paula, que comigo trabalhou em Brasília e que aí me proporcionou o último encontro com o seu pai.

Todas as razões são boas para vir ao Porto

 


Todas mesmo, é de justiça dizê-lo! 

Há locais que nem deviam vir no mapa…



 … não vá o pessoal descobri-los!

… e não vi por lá o abade!

 


Ainda há sítios assim em Portugal...


… conservá-los é quase um dever patriótico.

domingo, abril 03, 2022

O congresso do CDS ou a prova de como pode haver vida para além da morte

O tempo e a paciência não dão para tudo e, devo admitir, estou num radical “blackout” às rádio e televisões, que se prolonga desde quinta-feira, tema da Ucrânia incluído, fase que só tenciono encerrar ao final da tarde de amanhã, segunda-feira. (O que, de quando em vez, vou lendo, nesta A4 mais pequena e mais grossa em que agora escrevo, chega-me e sobra). Por isso, não ouvi nem uma palavra do que terá sido dito no Congresso do CDS, embora, sempre que passo perto de televisores, note que por lá pulula a imagem desengravatada de muitos “centristas”. (Chega a ser irónico, e espero que não seja considerado insultuoso, nos dias de hoje, usar para esta designação para o CDS). O culto que os portugueses têm pela sua História coeva terá levado o nosso complacente jornalismo a dar uma atenção desmesurada ao encontro do CDS. (Li que alguém do CDS nele disse este “bon mot”: “Não interessa como aqui chegámos, o que interessa é como daqui saímos”. Imagino que em bons carros, mas há que convir que é uma bela “trouvaille”). Por mim, tendo andado este fim de semana pelo Minho, obviamente por outras razões bem mais lúdicas, algumas vezes me cruzei (e cumprimentei, ora bem!), em casas de restauração e hotelaria, de cartãozinho ao pescoço, gente amiga e outra só conhecida do CDS, a meio desta sua romagem ao berço da pátria (e de Freitas do Amaral, já agora, embora creia que a maioria se reivindique mais de Amaro da Costa), na busca de um derradeiro e salvífico sopro de existência cívica para o partido ainda do Caldas, se a Remax não tiver de ser ali chamada. (Achei muita graça a alguém que escreveu que este congresso do CDS é mesmo a prova provada de que “há vida para além da morte”). Aliás, constatei, sem a menor supresa, que os congressistas do CDS se sabem bem amesendar e aboletar. Se conseguirem, como resultado dessa reemergência, vir a “limpar o sebo” eleitoral ao pessoal do senhor Ventura e à nefasta nuvem liberal, que a mão nunca lhes doa. Nesse caso, diria, sinicamente (eu não escrevi “cinicamente”, notem bem!), que mil CDSs floresçam, em lugar de quem agora anda em S. Bento em seu lugar! Mesmo que, para isso, tenham de ter a polémica liderança que agora lhes saiu na rifa! Mas isso já são as minhas embirrações a darem nota de si!

Quem muito mente…

Se Putin e a Rússia, ao longo dos últimos tempos - na guerra, a mentira sobre factos é vulgar, mas não tem necessariamente de ser “de regra” -, tivessem habituado o mundo a ser quase sempre é verdade aquilo que afirmam, a sua desresponsabilização pelo massacre que terá ocorrido em Busha poderia ser ponderada. Assim…

Lygia Fagundes Telles


2005. Almoço no restaurante “Navegador”, no Rio de Janeiro. Dia da atribuição do Prémio Camões à escritora brasileira Lygia Fagundes Telles. À minha direita, estava sentada a homenageada. À minha esquerda, tinha Agustina Bessa Luís.

Eu (confesso!) tinha lido então muito pouco de Lygia Fagundes Telles, mas agarrei aquilo que dela conhecia para ancorar a conversa. (Em voz não muito baixa, minutos antes, Agustina tinha sido franca: “Não gosto muito do que ela escreve!”). 

Lygia era uma figura pessoalmente muito interessante, com alguma doçura, nos 82 anos que então já tinha. Disse-me coisas muito simpáticas sobre Portugal e os seus amigos portugueses, que eram muitos. E, nunca mais o esqueci, repetiu uma frase que ouviu um dia ao seu pai, sumariando a sensação que ele tivera, numa viagem de barco a Lisboa: “Ir a Portugal é como atravessar a rua para ir visitar um parente”.

Lygia Fagundes Telles morreu hoje, aos 98 anos.

Acordar assim

 


sábado, abril 02, 2022

Lata 2

É fantástica a “lata” da Federação Russa: destroi, a ferro e fogo, infraestruturas por toda a Ucrânia e, em face de uma isolada ação militar de retaliação de Kiev sobre uma instalação russa, afirma que isso põe em causa o processo negocial. Se isto não fosse trágico era apenas ridículo!

Lata 1

No “Expresso da Meia Noite”, assistiu-se a um espetáculo extraordinário: o assessor (português) de Viktor Orbán, que se distinguiu a promover a candidata búlgara contra António Guterres, na defesa “patriótica” da ida de António Costa para a Europa. E ninguém lhe lembrou o passado!

sexta-feira, abril 01, 2022

Assim, é fácil…

Gente que combateu ferozmente e disse “cobras e lagartos” de António Costa como primeiro-ministro, surgiu, prestimosa, a elogiar as suas qualidades para altos voos europeus, mas apenas quando constatou a quase impossibilidade de isso vir a acontecer a curto prazo.

Entretanto, em Cartago…

Enquanto o mundo se distrai com a Ucrânia, há quem não perca tempo. O novo ditador tunisino deu a última machadada na representação democrática e assumiu todos os poderes. Quando alguém referir as “primaveras árabes”, que esqueça a Tunísia.

Lembrar

O presidente da República tem uma visão muito própria dos seus poderes - e julgava que isso tivesse já fosse óbvio. O sistema político português, para quem o tenha esquecido, é semi-presidencialista. Com Marcelo, quem tente sublinhar a vertente parlamentar não terá muita sorte.

Brasil

Sérgio Moro e João Dória desistem das candidaturas à presidência do Brasil. Moro corria quase por si próprio. Dória fora eleito numas primárias do declinante PSDB. Estará a criar-se o ambiente para o surgimento de uma nova candidatura de “terceira via” - nem Lula nem Bolsonaro? 

quinta-feira, março 31, 2022

“A Arte da Guerra”


A evolução da situação na Ucrânia, as eleições presidenciais francesas e a crise no Partido Popular espanhol, na edição desta semana de “A Arte da Guerra”, o podcast do “Jornal Económico”, uma conversa minha com o jornalista António Freitas de Sousa. 

Pode ver clicando aqui.

Vai ser assim?

Devo ser eu, com certeza, quem está enganado, mas tenho a firme convicção de que António Costa, pessoa por quem tenho o maior apreço, e que merece todo o meu apoio neste seu início de novo mandato, comete um imenso erro ao deixar pairar a ideia da sua eventual candidatura, daqui a dois anos e meio, ao lugar de presidente do Conselho Europeu. 

Esse erro tem duas dimensões. 

Desde logo interna. Não se inicia um cargo, com esta exigência, com uma espécie de nuvem de dúvida sobre se cumprirá ou não, até ao final, o mandato, tão personalizado, que os portugueses lhe confiaram, sem a menor dúvida para uma legislatura de quatro anos. Quando António Costa foi a votos, estava implícita a sua disponibilidade pessoal de ficar até ao termo do mandato. Agora - a menos que venha a fazer, rapidamente, uma declaração formal, tipo “read my lips!”, de que não abandonará o “barco” - os portugueses vê-lo-ã como um primeiro-ministro “a prazo”. Isso afeta a sua autoridade, induz instabilidade na equipa governamental, vai abrir uma constante especulação e polémica sobre o nome que pode suceder-lhe. António Costa sabe, melhor do que ninguém, que isto não é favorável à governação do país.

A segunda dimensão é externa. Então o primeiro-ministro português vai passar a entrar nas reuniões do Conselho Europeu como um putativo candidato ao cargo de uma pessoa que acaba de ser reeleita para dirigir esse mesmo Conselho, que ali estará por mais dois anos e meio, na lógica implícita de que “quando saíres daí, vou eu para esse lugar”? Não é isto incómodo? Não se sentirão os pares de António Costa tentados, daqui até lá, de lhe fazerem sentir que “ou te portas bem e como nós queremos ou não votamos em ti”? E sabe-se lá, neste tempo político tão volátil, se os equilíbrios políticos internos em outros Estados não evoluem em termos que possam pôr em causa as “contas” que, a esta distância, parecem ser favoráveis ao desígnio atribuído a António Costa.

Perguntar-se-á: mas António Costa já disse que será candidato ao tal lugar? De facto não disse, mas eu, no meu entender, acho que ele devia deixar “crystal clear”, desde já, que não abandonará o cargo para que foi eleito em Portugal. Outros dirão: e se ele não quiser tomar essa atitude, pretendendo manter “abertas as portas”, com a legitimidade de quem tem o direito de vir a decidir da sua vida futura? Nesse caso, é muito simples: aplica-se aquilo que escrevi nos parágrafos acima.

Faço uma ressalva, com toda a modéstia: posso ser eu quem está a ver mal a questão.

Aviso à navegação

Não concordo com quantos acham inadequado o aviso feito pelo presidente da República de que não deixará que esta maioria venha a gerar um outro primeiro-ministro, em caso de saída do atual, a meio do mandato. É bom que o presidente diga agora o que poderá vir a fazer então. O país e os seus agentes políticos ficam a saber, com frontalidade, com o que podem contar. Isso já aconteceu no OGE e, contrariamente a outros, a mim não me pareceu nada mal que o presidente tivesse avisado a tempo o que faria se ele não fosse aprovado - e fez. Nas últimas eleições, votei no PS na convicção de que iria ter António Costa, e não qualquer outra pessoa, como primeiro-ministro, pelos próximos quatro anos e meio. Não votei para vir a ter uma surpresa.

quarta-feira, março 30, 2022

Capelões, capelas e capelinhas

Para além da óbvia demissão, pela hierarquia do ramo militar respetivo, de um capelão que, pelos vistos, parece achar que uma provocação e alguns copos podem justificar um assassinato, estou muito curioso em saber qual vai ser a reação de uma outra hierarquia a que o tal capelão também está subordinado. Essa mesma!

terça-feira, março 29, 2022

Outros mundos

Hoje, num certo contexto, fui convidado a abordar a situação interna e a futura liderança no Partido Popular espanhol, o congresso desse partido e a importância disso para os equilíbrios políticos da nossa vizinhança. Amanhã, numa rádio, vou participar num debate sobre as eleições presidenciais francesas. Mais tarde, num jantar de trabalho, vamos analisar o ano político que o Brasil está a atravessar. Serve isto apenas para lembrar que, apesar de tudo, há mais vida para além da (pobre) Ucrânia.

Inteligência

Não votei nele, mas gosto de ver Rui Tavares eleito para a Assembleia da República. Embora saiba que isto pode ser bem menos consensual, quero dizer que, num outro tempo, também vi com gosto a eleição de Francisco Louçã. A inteligência ajuda sempre a que o futuro seja melhor.

CDS

Sou, de facto, um saudosista. Confesso que me fez falta ouvir a voz do CDS, na sessão de abertura desta legislatura da Assembleia da República. 

Conservo a memória daqueles que sempre tive como adversários de estimação.

Parlamento

Grande discurso de Augusto Santos Silva, a abrir o seu mandato como novo presidente da Assembleia da República. 

Muito adequado e justo foi aquilo que começou por dizer sobre o seu antecessor, Eduardo Ferro Rodrigues.

segunda-feira, março 28, 2022

Biden

Recorde-se que o discurso de Biden em Varsóvia foi anunciado como devendo conter um importante anúncio. Ora nada de marcante surgiu. Pelo contrário: a julgar pelas vezes que Washington já teve de vir a jogo para explicar a referência à “saída” de Putin, houve ali um óbvio erro.

Violência pública

Sei que a questão é incómoda, mas estou convicto de que a relativa compreensão com que foi acolhida a bofetada dada por um ator a um apresentador, que teria ofendido a sua mulher, durante a cerimónia dos Óscares, não aconteceria se a cor de pele dos intervenientes fosse diferente entre si.

O discurso

O tom das intervenções de Zelensky permite ir aferindo a confiança decorrente da evolução da situação no terreno e do nível de expetativa do apoio internacional.

Ucrânia

A quase ausência de referências à situação na Ucrânia, na cerimónia de entrega dos Óscares, deve ser lida, pelos europeus, como um sinal evidente de que, do outro lado do Atlântico, a opinião pública tem uma diferente ordem de prioridades.

domingo, março 27, 2022

A generosidade tem limites!


O “Clube de Lisboa / Global Challenges”, uma estrutura de reflexão e debate sobre temas e desafios globais, a cuja direção, desde há alguns anos, tenho a honra de presidir, “cedeu” dois membros da sua direção ao futuro governo: Helena Carreiras, como ministra da Defesa, e Bernardo Ivo Cruz, como secretário de Estado para a Internacionalização. 

Mas a nossa ”generosidade” acaba aqui! Não ”sai” mais ninguém da nosso Conselho Diretivo!

Agora a sério, em nome do Clube, e sabendo que represento nestes meus votos a mais de uma centena dos nossos associados, quero transmitir um forte e amigo abraço de parabéns à Helena e ao Bernardo, com desejos de um ótimo desempenho nas suas novas funções.

Já agora, quem quiser saber algo mais de nós, acompanhar as nossas atividades ou mesmo candidatar-se a sócio do Clube, pode ver aqui: https://www.clubelisboa.pt .

O Porto sem ministro


O Porto não tem ministros no novo governo. Vozes do Norte reclamam pelo facto de a segunda cidade do país, com a saída de Santos Silva, não ter quem a “represente”. É um governo “de Lisboa”, dizem alguns. Outros dirão que uma “figuração” regional já não se justifica, nos dias de hoje. Sei lá quem tem razão…

Ou melhor, sei. Pode ler aqui.

sábado, março 26, 2022

Não me conformo!


Esta mudança de hora, em que perdemos 60 minutos (já sei que eles voltam no outono, mas não é a mesma coisa!), nunca me convenceu! Não me parece justa! 

Reler Biden

Depois do discurso em Varsóvia, em que Biden, a propósito de Putin, disse “This man cannot remain in power!”, a Casa Branca esclareceu: "He was not discussing Putin’s power in Russia, or regime change." 

Claro que não! Então não se estava mesmo a ver? Nós é que ouvimos mal…

CNN Portugal

Com o prévio “disclaimer” de ser colaborador da CNN Portugal, quero dizer que considero notável e ímpar o trabalho que está a ser feito pelo canal na cobertura da guerra na Ucrânia, nomeadamente através dos enviados especiais no terreno, muitas vezes em zonas de elevado risco.

A Oeste, algo de novo

O ataque russo a Lviv, quase simultâneo com o discurso de Biden em Varsóvia, mostra a crescente relevância estratégica da zona ocidental do país, mais próxima das fronteiras países NATO, por onde chega o essencial do apoio, militar e outro, à Ucrânia.

“Regime change”

Biden diz que Putin não pode continuar no poder. Resta agora saber o que os EUA estão dispostos a fazer para concretizarem esse objetivo, que pode ter muito a ver com o conceito de “regime change”.

O fim dos princípios?

Nada como a emergência energética e as urgências geopolíticas para porem a salvo de pressões as autocracias medievais do Golfo e alguns países europeus, até aqui visados pela inobservância das regras democráticas e do Estado de direito. Os princípios valem enquanto derem jeito.

Refugiados

A Polónia é um país que tem feito um esforço extraordinário, no acolhimento de refugiados ucranianos, embora sem tradição nesse âmbito. É muito justo que o mundo assegure, com rapidez, um “burden sharing” equitativo, sem o que será difícil a Varsóvia sustentar essa atitude.

“Quando”?

Todos sabemos que Biden é “gaffe prone”. Porém, ficou-me no ouvido aquela sua frase, há horas, aos soldados americanos na Polónia, de que “quando” estivessem na Ucrânia iriam poder testemunhar a coragem das populações face ao invasor russo. “Quando”? O que foi aquilo?

O sol e a guerra

Lembrando o mês de conflito, o céu na Ucrânia foi sempre cinzento, como nos habituámos a imaginar o que “deve ser” o tempo numa guerra. Há pouco, ao olhar o belo sol sobre Mariupol, cidade devastada e sob fogo, o contraste pareceu-me quase chocante. Ali, é já o sul a chegar.

O tempo e o modo

O grande teste à liderança e autoridade política interna de Zelensky será a sua capacidade de definição do “timing” certo para um eventual compromisso com Putin - e em que termos. Como a História nos ensina, só com alguma perspetiva temporal isso pode vir a ser avaliado.

E a China?

A próxima ida de Lavrov a Pequim, depois da conversa de Biden com Xi Jin Ping, pode querer significar que, depois de alguns peões menores em busca de relevância negocial, um peso pesado pode facilitar um compromisso. Acaso ouvimos alguma vez Zelensky criticar fortemente a China?

Cretinices

Até que enfim Putin disse uma coisa com a qual toda a gente sensata deve estar de acordo. Proibir e censurar obras musicais ou literárias de autores russos é uma imensa cretinice. Quando a cultura de dimensão universal começar a ser condicionada é sinal de que está tudo doido!

Nós e a Ucrânia

Entendo que as autoridades portuguesas não devem preocupar-se com as valorações ucranianas da sua atuação. Portugal deve continuar a fazer aquilo que, nas várias frentes, considera que deve ser feito, à luz dos seus compromissos. E, até agora, Portugal tem sido impecável.

Donbass

Parece-me uma evidência - mas é legítimo que haja quem pense o contrário - que a declaração russa de que “o importante é o Donbass” é uma óbvia posição de recuo de Putin, perante a constatação de que outros objetivos não são alcançáveis.

Dormir com o inimigo

Biden referiu que, nos últimos anos, as autocracias se têm espalhado mais do que as democracias. Imaginando que estas, para imporem a sua superioridade moral, não tencionam desencadear uma guerra armada contra as primeiras, para as “convencer”, não seria de parar para pensar?

E a globalização?

Vivemos algumas décadas em que certos teóricos nos vendiam que a globalização era o remédio santo para os males do mundo. Os “descontentes” de que Stiglitz nos falava já há 20 anos, eram então descartados como “colateral casualties”. Hoje, algumas portas fecham-se de novo, não é?

Olhó mercado!

Na China, ficou provado que a vitória do capitalismo (de Estado) não favoreceu o surgimento da democracia. Na relação da Rússia com a Europa, constata-se que o estabelecimento de uma mútua dependência económica não desenvolveu uma cultura de distensão, conducente à paz “eterna”.

America, America

A América revela uma assinalável liderança nos esforços para reagir à agressão russa à Ucrânia. Sem ela, a Europa estaria muito menos coesa. Agora, resta aos EUA mostrar que não pretendem aproveitar para beneficiarem da situação nos negócios da energia e das vendas de armamento.

Wehrmacht

A Alemanha está a mudar de política, em matéria de defesa. Alguns dirão: o mundo mudou, essa política tinha de mudar. Não consigo deixar de pensar que, quando a poeira ucraniana assentar, nem todos, do lado de cá, olharão para essa opção de Berlim com bons olhos. E mais não digo.

Refugiados

Os refugiados são trágicas vítimas das guerras. É dos livros que, no início, convocam imensa compaixão. É também da História que, com a fadiga do tempo, com crises económicas, com contrastes sociais e outros, a solidariedade tende a esvair-se. Lamento, mas temos de pensar nisto.

Interlúdio

A questão pode ser desagradável, mas acho que devemos pensar nela: Trump foi um interlúdio mau na história da América ou a presidência Biden é, afinal, um mero e fugaz intervalo até que Trump, ou alguém parecido, volte a reinar em Washington, onde tudo continua a ferro e fogo?

sexta-feira, março 25, 2022

Ainda 1962


Foi ontem. Foi num debate organizado pelos estudantes da Universidade Autónoma de Lisboa, para debater a situação na Ucrânia (“what else?”), com os professores Ana Isabel Xavier, Carlos Gaspar, Luís Tomé e Filipe Vasconcelos Romão, com uma sala que ficou cheia, com muita gente por zoom. 

Na primeira ocasião em que me coube intervir, não me contive de começar por lembrar que estávamos no dia 24 de março, uma data em que, há 60 anos, precisamente nesse dia e mês, o mundo universitário lisboeta havia sido abalado pela chamada “crise académica”, um sobressalto cívico e político que acabou por ter fortes impactos, mesmo no seio da ditadura. 

Não faço ideia se a maioria dos alunos que ali estavam (e que, no final daa nossas intervenções, fizeram inteligentes e pertinentes perguntas sobre o tema em debate) tinham consciência de que aquela data, com seis décadas, tinha alguma coisa a ver com a liberdade em que agora vivemos. Eu, pelo sim pelo não, lembrei isso.

quinta-feira, março 24, 2022

“A Arte da Guerra”


No podcast do Jornal Económico, no “A Arte da Guerra” desta semana, à conversa com o jornalista António Freitas de Sousa, trato da evolução do conflito ucraniano, das surpresas sobre o estado das forças convencionais russas, dos novos desafios colocados à ONU, do regresso do debate sobre as armas nucleares, do futuro da NATO e da segurança e defesa europeias neste novo contexto.

Pode ver aqui.

O novo governo

Do que gosto mais, no novo governo?

Desde logo, acima de tudo, da continuidade de Marta Temido na Saúde. A competência, a pertinácia e a frontalidade premeiam-se. Esteve muito bem António Costa nesta decisão. Mal conheço, pessoalmente, Marta Temido, mas tenho uma imensa admiração pelo seu trabalho.

Depois, gosto muito de ver João Gomes Cravinho nas Necessidades (e como nº 3 do governo), onde vai substituir aquele que foi um excelente chefe da diplomacia nos últimos sete anos, Augusto Santos Silva. A experiência que traz da Defesa, onde revelou coragem e muita competência, além do seu profundo conhecimento de todas as dimensões da ação externa, são uma sólida garantia para o país.

Acho magnífica a escolha de Helena Carreiras para substituir João Gomes Cravinho na Defesa. Brincando, diria que a diretora do Instituto de Defesa Nacional nos vai fazer falta como vice-presidente do Clube de Lisboa / Global Challenges, mas o seu contributo para o executivo está primeiro! É uma pessoa determinada, que sabe muito da matéria e tem ideias muito claras.

Fernando Medina assume uma pasta muito difícil, mas não tenho a menor dúvida sobre a sua capacidade para a conduzir com êxito. É uma retribuição muito justa àquele que foi, na minha opinião, um excelente presidente da Câmara de Lisboa, embora reconheça que uma conjuntural maioria dos lisboetas não teve o mesmo entendimento do que eu. Pessoalmente, fico muito satisfeito ao ver Fernando Medina com este tipo de responsabilidades, que prenunciam outras.

Deixo um forte abraço de felicitações e votos de bom trabalho para três outros amigos que, pela primeira vez, assumem funções a nível ministerial: Ana Catarina Mendes, João Costa e José Luís Carneiro. 

Ótimas escolhas, a meu ver, são, igualmente, as de António Costa Silva (vão ouvir falar muito dele, podem crer!), de Pedro Adão e Silva (uma surpresa que vai fazer comichão a muita gente) e de Catarina Sarmento e Castro (veio-me à memória o seu pai, um amigo e colega de governo que há muito se foi).

Do que gosto menos neste novo governo? De pouco. Mas, num dia como este, nem às paredes confesso.

terça-feira, março 22, 2022

Ouvir

Eu também acho que a ação de Putin é criminosa, que a Rússia se transformou numa mera ditadura e que a invasão da Ucrânia é uma grosseira violação do Direito Internacional, que deve ser punida. Só que, ao contrário de muitos, quero continuar a ouvir e ler quem não pensa como eu.

… e, na vida, também há isto!

 


Pela primavera

O número no telemóvel, para que tinha olhado, depois de o sentir vibrar no bolso, não era conhecido. Mas, claro, atendeu.

O jantar, no restaurante, mal tinha começado, e começara bastante tarde. O Duarte já tinha trazido as tradicionais empadas para a mesa. O Pedro pediu desculpa aos convivas, levantou-se da mesa, trocou um olhar rápido com a mulher, desceu as escadas e foi atender lá fora. Com a precipitação, até tinha atravessado a sala sem pôr a máscara! Corria um vento húmido, naquela rua de Alvalade.

A conversa foi rápida. “O primeiro-ministro vai telefonar-lhe, daqui a minutos”. A voz era bem conhecida, com poder. 

A notícia não era inesperada: desde há dias que lhe tinha chegado, depois de uma discreta sondagem, a indicação de que o primeiro-ministro o poderia vir convidar para um lugar ministerial, ligado à sua especialidade. A circunstância da imprensa nunca ter falado no seu nome seria mesmo bom sinal. Nem o Marques Mendes! “Leite de Noronha: a grande surpresa”, era, com certeza, o que sairia. Mantivera-se mil por cento discreto. E respondeu, com voz que, sem querer, lhe saiu um tanto embargada: “Ele pode ligar quando quiser”. Arrependeu-se de não ter sido mais firme e afirmativo na breve conversa. Afinal, ia ser futuro colega da pessoa que lhe estava a ligar.

Pedro Leite de Noronha regressou à mesa. Pelo caminho, tinha desligado do silêncio o aparelho e colocou o som no máximo. Ensaiou mentalmente o que ia dizer, quando a chamada chegasse: “Muito obrigado pelo seu convite. Terei o maior gosto em integrar o governo e, pode crer, farei o meu melhor”. Ou qualquer outra coisa assim. Sentou-se, recostou-se, olhou para a mulher e fez-lhe, com a cabeça, um leve sinal. A Susana percebeu. Sorriu apenas q.b..

A conversa ia correndo. Era sobre o cerco russo de Mariupol. Os dois outros casais rivalizavam em insultos ao Putin. Ele fez alguns comentários genéricos. Sorriu intimamente: já se sentia a falar com tom de Esrado. Já estava noutra e quase desligou da conversa. 

Será que lhe iam impingir alguém do partido como secretário de Estado? Ele tinha o nome de Augusto, uma pessoa com quem trabalhara muitos anos, alguém que gostava de vir a ter a seu lado. Ambos eram independentes. O Augusto - que se chamava Augusto Maria de Saa - fazia muita questão de escrever o apelido com dois “as”: “Saa”. Era uma tradição de família, ligada a um tal Mário Saa, parece que dado às artes. Às tantas, os socialistas eram capazes de preferir que ele assinasse “Sá”, como era costume. Logo se veria! O Augusto seria talvez “um bocadinho PPD de mais”, como ele próprio confessava, mas o primeiro-ministro não parecia ser uma pessoa sectária. Deveria falar-lhe já no nome? Não, tinha de conversar prineiro com o Augusto, que estava a milhas da ideia de ser chamado para governante. Mas que ia adorar! 

Pensando bem, era insensato, logo nessa primeira conversa com o primeiro-ministro, tocar no assunto de um “ajudante” (lembrou-se da designação do Cavaco…). Talvez fosse de abordar no dia seguinte, com outra pessoa. Mas com quem? Ou seria cedo? Logo se veria. Caramba! Dava conta de que, apesar de ter passado já a meia centena de anos de vida, era mesmo um novato na política. Ia aprender, rápido, tinha a certeza. Confiança em si mesmo era o que não lhe faltava. A profissão, com sucesso, dera-lhe largo traquejo. E nome, como agora bem constatava.

O jantar foi longo, mais de duas horas. Passava já da meia-noite. Para o Pedro, o tempo foi-se tornando tudo cada vez mais pesado. O telefone não tocava. Na altura da partilha da conta, fez um esgar de desagrado à Susana. Que percebeu que algo estava a correr menos bem.

Já de pé, o Gaspar, que estava a ler o “Público” on line, exclamou: “Já há governo. Diz aqui que o Costa fez esta noite os últimos convites e já deu a lista a Belém. Parece que o Marcelo até fez uma graça e disse que ‘a primavera trouxe um governo novo!’. O tipo é imparável!”

O grupo despediu-se. Entraram os dois para o carro. “Então?”, disse a Susana, com cara fechada. “Disseram para eu esperar uma chamada do Costa, mas nada!”, respondeu o Pedro, com um suspiro, com uma cara cuja palidez a noite não deixava ver.

“Tinhas bateria no telemóvel?”. O Pedro sacou, à pressa, o iPhone 13 Pro do bolso. Estava sem carga. E ele sem cargo.

Mundos


Acabo de receber o último número da “Foreign Affairs”. É minha impressão ou isto já parece de outro mundo?

Isto

É nestes tempos estouvados do mundo que talvez devêssemos parar um pouco e pensar que, afinal, o nosso modelo democrático, “burguês”, com todos os seus defeitos e insuficiências, é, afinal, um porto seguro de bom senso institucional que deveríamos apreciar mais e defender melhor.

O dilema

O mundo está perante um dilema inédito: o que é que é possível fazer para contrariar a ação de um país que disponha da arma nuclear e que, afirmando-se disposto a usá-la em último recurso, pratique flagrantes violações da ordem mundial para impor o que considere serem os seus interesses, mesmo que eles não sejam reconhecidos como legítimos pela generalidade da comunidade internacional?  

Por uma vez, pelos “Blues”!


Vivi, por alguns anos, não muito longe de Stamford Bridge, o estádio do Chelsea. Creio que apenas duas vezes, nesses meus saudosos (assumo) tempos londrinos dos anos 90, comprei bilhetes para ver por lá jogos: uma vez contra o Tottenham, outra contra o “meu” Arsenal, os “Gunners”, grupo a que, desde há décadas, me ligam afinidades políticas (também confesso) e desportivas. 

Nunca fui adepto do Chelsea, tive sempre mesmo uma escassa simpatia pelo clube de Fulham Road, situado, porém, numa das zonas londrinas que mais aprecio e onde, para além de Hampstead, se pudesse daria o que não tenho para lá viver, se acaso Lisboa não existisse.

O Chelsea, como é sabido, por ter sido propriedade de um multimilionário (se me apanharem a dizer oligarca, internem-me, porque é sinal de que me deixei apanhar pela moda mediática) russo, que o facilitismo legislativo, soprado pelo politicamente correto e pelo “l’air du temps”, deixou um dia que obtivesse nacionalidade portuguesa (diz muito de um país ter sido necessário Putin andar na berlinda para o escândalo estourar e ser “instaurado um rigoroso inquérito”!), anda hoje pelas portas da amargura, em termos financeiros. Nem para as viagens parece haver dinheiro, nem pode vender bilhetes.

Como se aquela multidão de fãs, gente que vive e poupa uma semana para ir berrar e cantar no estádio o seu amor ao clube, merecesse ser punida, na sua fidelidade àquela camisola, pelas eventuais patifarias daquele que por alguns anos foi seu dono! 

Como se aquele excelente grupo de jogadores, que demonstra uma admirável determinação contra o infortúnio que lhes bateu à porta, fosse obrigado a arrostar com as culpas daquele calaceiro com ar sonolento, sempre rodeado de grandes pequenas à cata das ”pounds”, porque o rublo da privararia dos tempos de Ieltsin já deu o que tinha para dar!

Podem chamar-me tudo, até “putinista”, mas, no sábado passado, em face daquela flagrante injustiça, “fui“, por uma vez, do Chelsea. 

E da minha bancada almofadada lisboeta, em frente à televisão, tendo à ilharga um Earl Grey do Fortnum and Mason, ”the mother of all teas”, embora sem scones, puxei o que pude pelo clube, até o ver derrotar o Middlesbrough, para a taça lá do sítio. 

E olhem que não é fácil, por estes tempos e por razões que eu cá sei, alguém me ver a apoiar os “blues”!

Nojo

O caso da decisão judicial sobre o nazi Mário Machado é tão mas tão nojento que, para evitar infringir as regras básicas das redes sociais, fico-me por aqui.

Justiça, só isso!

Rapidez na administração da justiça, denúncia imediata de qualquer corporativismo oportunista e ausência de falhas processuais que possam servir de pretexto a um futuro mundo de recursos por juristas espertalhotes, é tudo o que se pede no caso do polícia morto por um militar.

1962



Há pouco, na RTP 1, passou um primeiro programa sobre a “crise” académica de 1962. Uma peça de Jacinto Godinho, com apoio num filme de Diana Andringa, de 1989.

Nesses tempos, eu andava então a meio do meu tempo do liceu. Não me consta que, lá por Vila Real, tivesse ouvido falar de que uns universitários engravatados lisboetas andassem a atazanar a vida do ditador, que já tinha tido mais com que se preocupar no seu “annus horribilis” anterior (desvio do Santa Maria pelo DRIL, revoltas em Angola pela UPA, tentativa de golpe de Estado de Botelho Moniz, ataque a S. João Batista de Ajudá, desvio do avião da TAP Casablanca-Lisboa pela LUAR, ataque indiano ao Estado da Índia). 

Aliás, sempre achei algo irónico designar por “crise” as movimentações dos estudantes de Lisboa de 1962, seguidas depois por Coimbra. É que, se foi “crise”, foi para o regime, não para a oposição.

Ao olhar uma das imagens do programa, mostrando uma sala de aula da faculdade de Direito de Lisboa, com as placas com o números dos lugares, para os professores poderem registar os alunos em falta, do que é que eu me fui lembrar? De que, uns anos mais tarde, numa “ocupação” de um dos anfiteatros daquela faculdade, eu me havia locupletado com uma dessas placas, que ainda guardo - e de que aqui deixo a imagem.

E aproveito também para deixar uma história, que ouvi a Jorge Sampaio, um dos “heróis” desse ano de 1962, de que o filme me mostra vários amigos, como Jorge Sampaio, Medeiros Ferreira, José Vera Jardim, Maria Emília Brederode, Eurico de Figueiredo, Isabel do Carmo e António Correia de Campos.

Nesse ano de 1962, Jorge Sampaio foi de Lisboa a Coimbra, para um diálogo entre lideranças universitárias, em período de tensão política forte. 

Com todos os cuidados que a segurança recomendava, dirigiu-se à “República” onde vivia Carlos Candal, que ele não conhecia pessoalmente. Bateu à porta e atendeu uma governanta, que disse que já ia “chamar o Dr. Candal" - em Coimbra, à época, "era-se" doutor muito antes do curso acabado. 

O ambiente, contou-me Sampaio, era, para ele, surpreendente, muito diferente do contexto homólogo lisboeta - desenhos humorísticos e eróticos pelas paredes, garrafões e outros artefactos pendurados do tecto, enfim, toda a parafernália simbólica da conhecida boémia coimbrã. 

Minutos depois, Jorge Sampaio ouviu, do alto da escada, um vozeirão: "Olá, menino! Já desço!". Sampaio olhou e lá estava, ainda de roupão, saído do banho, indiciador de grande noitada na véspera, a figura do seu interlocutor político, Carlos Candal, já com o habitual charuto na boca. 

Nesse momento, disse-me o futuro Presidente da República, ele percebeu melhor aquela que era a diferença eterna entre a maneira de ser das academias de Lisboa e de Coimbra. E também dos políticos oriundos de ambas, claro, embora isso fosse pano para outras mangas, que hoje não são para aqui chamadas…

segunda-feira, março 21, 2022

Dia rimado

Sem me ter dado conta de que hoje é (já quase foi) o dia internacional da poesia, aconteceu-me acabar de ler, por uma hora, Jorge de Sena. Ainda dizem que “não há coincidências”, mas eu “sei lá!”.

Estados e regimes

A maioria dos 193 países existentes no mundo, reconhecidos como tal pela ONU (outros há que não o são), não são democracias. Nem por isso o seu estatuto deixa de ser idêntico à luz do Direito Internacional, que diz respeito a Estados e não aos seus regimes.

Ditaduras e democracias

A Ucrânia não é uma ditadura, embora o regime ucraniano esteja longe de ser uma democracia sem falhas, “to say the least”. Mas mesmo que a Ucrânia fosse uma ditadura - e não o é, repito - não teria menos direito do que uma qualquer democracia de ver a sua soberania plenamente respeitada.

Adjetivos

Durante a guerra civil em Angola, o ambiente mediático oficioso obrigava a fazer anteceder a expressão “sul-africanos” da palavra “racistas”. Um dia, um locutor foi ao ponto de falar em “aviões racistas sul-africanos”! Alguma adjetivação “obrigatória” que aí anda lembra-me isto.

Estratégia

A UE teve a “sorte” de lhe ter “caído no colo” uma crise grave de segurança, a montante da aprovação do seu novo documento estratégico, hoje pré-aprovado (a aprovação formal será no Conselho Europeu). O texto não corre, assim, o risco de ficar datado. Foi bom que isso acontecesse.

Direitos

É nestes cenários de guerra que o cidadão comum entende, com mais facilidade, que, salvo situações excecionais, o Direito Internacional “não é bem” um direito e que a sua capacidade de imposição é mais limitada do que a generalidade dos outros direitos.

Rendição

A não rendição das forças ucranianas que defendem Marioupol tem um forte significado político: a ter acontecido, representaria um precedente que as autoridades de Kiev procuram evitar a todo o custo.

“The powers that be”

Biden tem hoje uma conversa à distância com os líderes da Alemanha, França, Reino Unido e Itália. Este não deve ser um dia bom para a diplomacia de Madrid e de Varsóvia. Mas é a vida! Um poder não é aquele que afirma sê-lo, é aquele que os outros reconhecem como tal.

Na minha outra juventude

Há muitos anos (no meu caso, 57 anos!), num Verão feliz, cheguei a Amesterdão, de mochila às costas. Aquilo era então uma espécie de "M...