sábado, abril 09, 2022

A França que aí anda (em 1000 carateres)


As sondagens colocam Marine Le Pen com uma inédita proximidade a Emmanuel Macron, à porta da primeira volta das eleições presidenciais francesas, com desfecho a dia 24 de abril, a disputar entre os dois. Com um discurso social, protetor, de resposta às angústias do aumento do custo de vida, credíveis aos olhos dos eleitores, uma vitória da candidata da extrema-direita, agora travestida de moderada e já “dédiabolisée” pelos media, deixou de ser uma hipótese bizarra. Macron, presidente cada vez mais “sortant”, entrou tarde na campanha, convencido de que o país reconheceria o seu papel internacional e o dispensaria de debates. Isso foi lido como arrogância. O seu quinquenato parecia ter sido relativamente competente mas o seu projeto está a ser pouco mobilizador. Sofre agora da onda “tous sauf Macron”, ensanduichado entre a extrema direita (Le Pen e Zemmour) e a extrema esquerda (Mélenchon), com uma esquerda moderada inexistente e a direita tradicional pelas portas da amargura. E agora?

4 comentários:

Nuno Figueiredo disse...

...o Estado a que isto chegou.

carlos cardoso disse...

Parece-me inevitável que Macron passe à segunda volta e parece-me inevitável que ganhe, independentemente do seu opositor. Como de costume estas eleições não tem muito interesse (embora a grande maioria dos franceses discorde).

Tony disse...

Ai a EU e a NATO? Estará tudo lixado?

Miguel disse...

Mélenchon não é de, ainda menos vem da, extrema-esquerda. Antigo Mitterrandista continuando a afirmar-se como admirador do mestre, socialista durante 30 anos chegando a ser ministro de Jospin e senador do PS, votou Maastricht (embora se afirme arrependido), o seu programa não é mais à esquerda do que o do Presidente Mitterrand em 1981. E é o único candidato com um programa consistemente ecologista. A meu ver, nem todos os que o rodeiam são de confiança (mas os que rodeiam Macron ainda menos, logo...) e a ideia de sair da Nato é no presente contexto infeliz. Mas creio que mesmo aí, na prática, não se afastaria muito daquilo que fez de Gaulle.

Em todo o caso, importante era toda a esquerda votar Mélenchon no premier tour para relegar Le Pen para o lugar que merece: a irrelevância. Depois, era um match esquerda-direita honesto no second tour entre Mélenchon e Macron. Tenho mais 24 horas para sonhar. Temo que a seguir venham as insónias e os pesadelos.

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