segunda-feira, setembro 11, 2017

Ainda o Chile


Em 1999, como secretário de Estado, fui ao Chile, a convite do respetivo governo.

Visitei em La Moneda Jose Miguel Insulza, que conhecia da sua visita à Expo, no ano anterior. Era ministro do Interior e presidente da República em exercício. Antes, tinha ido colocar um ramo de cravos vermelhos no túmulo de Allende. Voltaria lá, privadamente, com outro ramo, em 2008.

Para o jantar, o nosso embaixador, Rui Félix Alves, havia convidado alguns deputados. Esse era o tempo em que Pinochet, afastado embora do poder formal, garantia uma espécie de "droit de regard" sobre o poder militar, numa situação que ele mantinha "atada y bien atada", para utilizar a clássica expressão do ditador Franco (embora este último se tivesse iludido sobre a situação que acabaria por se passar em Espanha, depois da sua morte).

Era evidente o embaraço com que os chilenos oficiais, de diversas tendências, à mesa, respondiam às questões que eu lhes colocava sobre, afinal, quem-mandava-em-quem naquela democracia tutelada pelo antigo ditador, em "phasing-out" de influência.

Foi um jantar longo, que recordo muito agradável. No final, ao conduzirmos à porta os nossos convidados, um dos deputados, deixou cair no meu ouvido, em voz baixa, pelo corredor: "Mientras ese hijo de puta esté vivo todo va a ser más difícil". Percebi. O "apreciado" general, contudo, duraria até 2006.

Ironias de um 11 de setembro


Quando se fala de 11 de setembro, são quase sempre os ataques islamistas nos Estados Unidos, em 2001, que vêm de imediato à memória das pessoas. Mas convém nunca esquecer que, anos antes, em 1973, no Chile, nessa mesma data, um golpe de Estado militar, curiosamente feito com a cumplicidade e impulso dos americanos, levou a um número de mortos similar, instituindo um regime sinistro que torturaria e perseguiria dezenas de milhares de cidadãos.

Um dia, em Brasília, o nosso adido de Defesa, Duarte Torrão, organizou na embaixada uma cerimónia comemorativa do dia das Forças Armadas portuguesa. Ao ser apresentado ao seus colegas, notei que o Adido de Defesa chileno se chamava Prats.

Carlos Prats era o nome de um general democrata chileno, que havia antecedido Pinochet como chefe das Forças Armadas e que fora assassinado, com a mulher, em Buenos Aires, em 1974, com uma bomba colocada no seu carro pela DISA, a polícia política do mesmo Pinochet. Curiosamente, havia sido Prats quem havia recomendado o "apolítico" Pinochet, que era seu amigo, a Salvador Allende, para o substituir.

Ao tempo dessa cerimónia em Brasília, o Chile vivia já em plena normalidade democrática. Perguntei a Duarte Torrão se o colega era, por acaso, familiar de Prats. "É filho, mas não me parece ter herdado muito do pai", disse-me, cripticamente, o nosso adido de defesa. A certo passo da função, aproximei-me do militar chileno, creio que coronel, e, sem revelar que sabia da sua ascendência, coloquei-lhe a questão: "É familiar do general Prats?". Confirmou-me que sim. Retorqui que tinha tido uma grande admiração pelo pai dele, o qual, tal como o seu antecessor, o general Schneider, haviam sido assassinados pela extrema-direita. 

Notei que o coronel Prats agradeceu sem um especial entusiasmo e, quando lhe perguntei em que ano tinha entrado para a Academia Militar chilena, para tentar perceber como fora a sua carreira durante o tempo de Pinochet, "saiu de fininho" da conversa. "Eu bem lhe tinha dito!", disse-me, depois, Duarte Torrão. "Este Prats pouco tem a ver com o pai". Fiquei mesmo a pensar quanto teria a ver, afinal, com o regime que lhe matara os progenitores.

Lembrei-me agora desta história, neste 11 de setembro, Há 44 anos, dia por dia, chovia em Santiago.

Setembros


A chuva ronda, já se hesita em ficar nas esplanadas, agradece-se, pelo entrar da noite, como dizem os franceses, "une petite laine". A bem dizer, confessemos ou não, já chegava de verão, de calor, de sol, de suor, de ar condicionado. Setembro rima bem com o estimulante (e saudável?) regresso ao trabalho, com "paletes" de coisas atrasadas para fazer, com as chamadas telefónicas em dívida, com a necessidade de resposta aos emails que foram "caindo" pelas páginas abaixo, com os convites para almoço aos amigos com quem estamos em falta, com muitos jantares "sociais" para retribuir. E com alguns textos para rever, com algumas palestras para preparar. E com algumas atitudes a tomar...

Este é o tempo do conhecido "agora é que é", das clássicas manias de uma qualquer "rentrée", da feitura de intermináveis listas (mais ou menos "moleskinizadas") que padecem sempre de erros de prioridade que acabam por torná-las inúteis, da promessa de não falhar as exposições que por aí vêm (quando, ao final daquela tarde, só vamos pedir sopas e descanso), da vontade de não perder alguns concertos e peças (que nos esqueceremos de reservar), de acabar dezenas de livros que jazem (e jazerão, para a eternidade) na estante, sem deixar de estar atento aos muitos que vão saindo, sempre cada vez mais caros (ou seremos nós que, afinal, ganhamos pouco?).

Relembro sempre o mês de setembro, em toda a minha vida, como um mês peculiar. Eram finais de tarde chuvosos, na adolescência, em Vila Real, quando apressava a saída dos bilhares do Excelsior, depois das "explicações". Poucos anos mais tarde, eram as luzes de Cedofeita a acenderem-se, ao sair de um "martini" no Bissau, comigo ainda convencido de que tinha jeito para vir a ser engenheiro eletrotécnico. Eram também as sete e meia da tarde por um Montecarlo quase deserto, no anoitecer lisboeta, à procura do 21 para os Olivais, com o "Lisboa" debaixo do braço. E lembro muito bem os setembros gelados e escuros, mas muito estimulantes, de Oslo ou de Viena, os setembros que o não eram, em Luanda ou em Brasília, ou a insuperável beleza londrina dos fins de tarde, já bem iluminados, em Knightsbridge, lá por Londres, as cores e os sons inconfundíveis da 2nd avenue, no regresso a casa, em Nova Iorque. Ou, finalmente, o entrar no carro, depois do "apero" e da conversa interessante no Flore, com o sol a declinar e a chuva a ameaçar, no regresso à Noisiel, lá por Paris.

Os setembros, na minha memória, assemelham-se muito à recorrente ilusão dos janeiros, quando, passadas as festas, sempre arregaçamos psicologicamente as mangas, apenas por alguns dias, na miragem fátua de que basta querermos para podermos recomeçar tudo de novo, porque "hoje é o primeiro dia do resto da tua vida", como cantava o Godinho. Podia ser assim, para toda a gente, se acaso nós não fôssemos exatamente os mesmos que éramos na véspera, quaisquer que sejam as datas colocadas à nossa frente. As quais, aliás, se vão reduzindo, dia após dia. O que, não sendo uma tragédia, é, valha a verdade, uma boa chatice. 

Gozemos os setembro, pois!

domingo, setembro 10, 2017

O Clube e o senhor Fernando

Há dias, ao passar na avenida Carvalho Araújo, em Vila Real, olhei as varandas, cheias de gente nova, com copos na mão, no edifício que alberga o "Clube" (e que já teve por baixo o "Café Clube"), e pus-me a pensar na cara de espanto que fariam os engravatados sócios do passado, se agora vissem a singular "subversão" que o espaço sofreu. (Há semanas, entrei no "Taurino", em Viana, e pensei o mesmo).

O Clube de Vila Real tem uma existência antiga. (Não confundir com o Sport Club de Vila Real, dedicado a outras "artes"). Faz parte das instituições que, pela província, as elites locais organizavam no passado para convívio e lazer. Na cidade, era o contraponto social da "União Artística", uma bela associação popular que, com sabedoria, tem sabido atravessar os tempos.

O Clube esta instalado entre duas artérias centrais da cidade. Tem uma bela entrada principal por uma escadaria de pedra e (pelo menos no passado) dispunha de uma saída para a Avenida, cujo cheiro a cera fresca está na minha memória olfativa.

Os jogos de cartas (mesmo o jogo "pesado" e clandestino) acabaram, em especial a partir de certa altura, por ser a sua (ainda que inconfessada) atividade dominante, o que lhe prolongou a existência mas corroeu em absoluto o prestígio, deixando de servir os propósitos que tinham levado à sua criação. 

Mas períodos bem áureos houve, em que, no Clube, os bailes, as festas de Carnaval e outros eventos de "sociedade" marcaram a vida da urbe. Tenho fotografias de mim por lá, com três ou quatro anos, mascarado de campino, no seu (mau) bilhar joguei horas a fio, ia ali ver televisão, numa sala de cadeiras alinhadas, quando por minha casa essa modernidade ainda não tinha chegado. E até lá fiz uma leitura dramática, pelo Teatro Universitário do Porto, de "O homem da flor na boca", de Pirandello.

Ia-se também ao Clube pelos jornais, pelas assinaturas de revistas, porque o Clube tinha então para consulta a "Science & Vie", a "Flama", as "Seleções", etc. Mas não "A Bola", o "Record" ou mesmo "O Norte Desportivo", note-se! Embora os homens quase monopolizassem a atividade do clube, recordo períodos em que as mulheres dos sócios "abrilhantavam" algumas ocasiões.

Nesses tempos, quem tomava conta do Clube era o senhor Fernando. Vivia no andar superior e geria o quotidiano da casa, providenciando cafés (imagino que álcoois) e renovando baralhos de cartas. Por décadas, conciliou os egos locais que por ali andavam, "importâncias" que se contrapunham, feitios que se chocavam. Deve ter estado presente em confrontos, até físicos, de que se sabe que o Clube foi cenário.

O senhor Fernando, porém, foi sempre uma pessoa discreta, como se requer a quem tem de organizar um cenário de intensa passagem lúdica de cavalheiros e de outros tantos que tentavam passar por isso.

Na minha adolescência, o clube foi também um ponto de encontro noturno para os filhos dos sócios, em especial no Verão. Mas isso não se fazia sem uma regular tensão com o senhor Fernando, que nos aturou muitos desacatos, que chegou a ter de queixar-se de nós à direção, a qual acomodava depois as coisas com uma conversa discreta connosco, sob a promessa de não fazer chegar o assunto aos nossos pais.

Porque me lembrei hoje do Clube e do senhor Fernando? Porque leio no Facebook que ele faz agora 90 anos, embora estando longe de o parecer, como eu próprio tive ocasião de lho dizer, há semanas. 

Aqui fica o meu abraço amigo de parabéns ao meu amigo senhor Fernando Pinto de Sousa e uma memória pessoal do Clube de que, por muito tempo, foi a alma.

Amanhecer

Abro a imprensa da manhã e sinto-me confortado. 

Se alguém, sem nos conhecer, alimenta contra nós um excitado ódio, isso só prova, "a contrario", que afinal o mundo nos não é indiferente. 

E essa é uma bela sensação, dá serenidade e vontade de continuar em diante. Sem mudar, claro. 

Há assim que gozar os dias porque, como escrevia Ary dos Santos, "agora cheira a setembro, como o outono sabe a vinho". 

Tenham um bom dia! Com este belo sol, estou a tê-lo!

A Europa "chata"


No primeiro semestre de 2000, Portugal teve a seu cargo a presidência da União Europeia. Ao tempo secretário de Estado dos Assuntos europeus, coube-me ser, simultaneamente, o negociador português na Conferência Intergovernamental que durante todo esse ano faria a revisão do Tratado de Amesterdão e, durante esse semestre, conduzir os respetivos trabalhos negociais. Pierre Moscovici, pela França, faria o segundo semestre e concluiria o processo que redundaria no Tratado de Nice.

Pela função de "honest broker" que me competia, enquanto Presidência, fui forçado, nesse período, a mostrar uma relativa neutralidade nas discussões, embora o interesse português nos colocasse naturalmente do lado dos países de menor dimensão populacional, no duro debate pela repartição do poder (em especial, números de votos e de deputados europeus) que estava então no seu auge.

Acabada a presidência portuguesa no final de junho, decidimos propor um diálogo (discreto) apenas entre os dez países de menor dimensão demográfica, com vista a tentar encontrar posições comuns que reforçassem a nossa "luta" contra o cinco "grandes" - Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Espanha. Tinha dúvidas que esta ideia viesse a ser aceite. Porém, ainda que com algumas reticências, o processo avançou. 

A projeção de interesses dentro da União Europeia não se faz necessariamente segundo a linha divisória "grandes/pequenos", porquanto, atento o seu estádio de desenvolvimento, alguns Estados de menor dimensão (como, por exemplo, os países do Benelux - Bélgica, Holanda e Luxemburgo) têm interesses mais próximos dos da Alemanha ou da França do que dos de países mais pobres, como Portugal ou a Grécia. Porém, o facto da França ter tentado ostensivamente promover um "esmagamento" do poder de voto desses países, suscitava-lhes grandes dificuldades de "apresentação" junto dos seus parlamentos e opiniões públicas. Não sem algum custo político, Portugal denunciara desde o início da presidência francesa essa tentativa e colocara mesmo a questão (de início, apenas com a Grécia ao lado) na agenda mediática europeia.

Os "dez" mais pequenos foram assim sensíveis à sugestão portuguesa para nos reunirmos "em segredo" (um segredo de Polichinelo, como é quase tudo na União). Organizei então, nessa segunda metade de 2000, duas reuniões dos negociadores dos "dez" na nossa Representação Permanente em Bruxelas e uma terceira na embaixada portuguesa num pequeno país da União. Outras se seguiram. Mas é desta reunião que quero falar.

Pedi ao nosso embaixador naquela capital para organizar um almoço de trabalho. Modesto, o meu colega disse-me que eu podia ocupar a sala de jantar, sem que ele próprio estivesse presente. Recusei essa sugestão, porquanto me lembrava bem do choque que entre nós provocara um histriónico ministro das Finanças do "cavaquismo", quando, em Washington, por mais de uma vez, tinha "sugerido" ao embaixador para se "ausentar" de almoços que pretendia organizar na nossa embaixada (mas que era o embaixador quem pagava do próprio seu bolso, como acontece com todas as refeições oferecidas nas residências diplomáticas, coisa que a opinião pública desconhece).

O meu colega presidiu assim comigo a esse almoço de trabalho. Foram duas horas muito intensas. A temática era tecnicamente árida, cheia de expressões especializadas, muitas siglas e menções crípticas a debates anteriores (muitos de nós andávamos há vários anos naquelas lides) e documentos que não estavam na mesa. Não era fácil ao embaixador seguir os detalhes da discussão que estávamos a ter. Notei que homem, do meio da mesa, acompanhava o debate como um árbitro de ténis-de-mesa segue um jogo, olhando para um lado e para o outro, com evidente (e compreensível) dificuldade em entender por completo a discussão, em todos os seus pormenores.

Foi, por isso, com dupla gratidão que, no final do almoço, lhe expressei o meu sincero reconhecimento pela sua generosidade. O meu colega, homem cordial e com sentido de humor, disse que tinha tido o maior gosto em ter podido ser útil aos nossos interesses. E acrescentou: "Eu sempre tive curiosidade em perceber estes ambientes negociais multilaterais, de que na minha vida profissional nunca tive a menor experiência. Mas isto, meu caro, deve ser uma imensa chatice! Você diverte-se?"

Rimo-nos os dois. O meu colega não tinha razão. As questões europeias são fascinantes. Mas, de facto, podem parecer, às vezes, de um "outro mundo". E se para ele, diplomata, eram tão estranhas e bizarras, imagine-se o que não serão para o cidadão comum!

sábado, setembro 09, 2017

Hóquei (escrevo assim)


Há dias, numa conversa em noite quente, em Ponta Delgada, eu e um amigo que me acompanhava demo-nos conta de que, sem então nos conhecermos, havíamos estado juntos no "galinheiro" do Palácio de Cristal, no Porto, na noite de 4 de maio de 1968, a vibrar com a vitória de Portugal sobre a Espanha, em hóquei em patins, numa final do campeonato do mundo. 

Ele foi um conceituado praticante da modalidade, eu era apenas um aficionado de bancada e de leitura de imprensa desportiva, além de seguidor e sofredor radiofónico regular durante os relatos vivos que Artur Agostinho nos fazia desse mítico pavilhão desportivo de Montreux (onde um dia me senti na obrigação de ir, numa romagem de nostalgia).

Portugal venceu então, nesse outro maio de 1968(!), "a nossa vizinha Espanha" (expressão do jornalismo sem imaginação) por 2-0. 

O que fará com que, nos dias de hoje, o meu entusiasmo com estas finais seja bem menor? 

À hora de almoço de hoje, quando, aos penalties, "nuestros hermanos" (outra banalidade ritual na imprensa) nos derrotaram em mais uma final mundial, desta vez na China, tive pena (claro!), mas isso não afetou o apetite com que continuei a comer o belo bacalhau que o meu amigo João apresenta na sua "Imperial de Campo de Ourique".

Naquele outro tempo, eu conhecia de cor até a composição da equipa espanhola (como tinha sabido outras, no passado). Hoje, não sei o nome de nenhum jogador português. Como diria, com a sua preverbial expressividade, Donald Trump: "sad!"

O bacalhau do "Progresso"


Diz a "Time Out" que o "Progresso", o café portuense entre a praça Carlos Alberto e o largo do Moínho de Vento, sofreu uma nova remodelação, estando agora centrado na área dos comes-e-bebes. De uma das últimas vezes que por lá passei, a especialidade da casa eram panquecas.

O "Progresso" é um marco da riquíssima geografia cultural dos cafés no Porto. Ao tempo em que me passeei pelas engenharias da Universidade do Porto, aquele café não fazia parte dos nossos roteiros de pouso, porquanto na sua frequência se contavam muitos mais professores "graves" do que aqueles que escolhiam o vizinho "Piolho".

O "Progresso" foi, ao que julgo, dos últimos lugares a ceder à invasão do "cimbalino", mantendo um café de saco que se tornou lendário. A razão por que falo de bacalhau no título deste post é porque subsistiu, por décadas, o mito (ou a realidade?) de que o segredo da qualidade do café de saco do "Progresso" advinha dos rabos de bacalhau que eram colocados no interior na bela máquina que ornamentava a sala.

O apelo de Lisboa


Durante várias semanas, no seu imperdível "folhetim" de verão, em que recupera uma tradição vetusta do "Diário de Notícias", Ferreira Fernandes ficcionou a possibilidade da sede das Nações Unidas ser transferida para Lisboa. A trama baseava-se no interesse imobiliário de Trump pelo terreno nova-iorquino da "Turtle Bay", somado à vontade de Macron de dar à ONU uma centralidade europeia. 

Hoje, na sua conta de Twitter, um dos mais conhecidos jornalistas das coisas europeias, Jean Quatremer, "lança" a ideia de transferir as instituições europeias para Portugal, para um "país normal (belo, de clima são, limpo)". Sabemos o "sucesso" que a ideia vai ter, mas não deixa de ter graça ver um "furioso" europeísta - ainda por cima, francês - propagar a excelência da capital portuguesa.

Factor de primeira


Há dias, entrei numa estação de caminho de ferro de uma cidade de província, daquelas onde o comboio passa "quando o rei faz anos". Não se via vivalma. Fui andando pela plataforma até encontrar uma porta aberta. Estava um tipo lá dentro, de t-shirt e jeans, a quem perguntei: "Sabe dizer-me onde posso encontrar o chefe da estação?". (Por razão que não vem ao caso, eu tinha necessidade de falar com o chefe da estação). O homem respondeu-me: "Sou eu". 

Ele deve ter percebido que eu estava à espera de "outra coisa". Claro que já não aguardava um cavalheiro de fato escuro, gola vermelha, com um pau de bandeira enrolado na mão (e apito pendurado do bolso). Mas esperava que fosse alguém vestido de forma identificável para aquele lugar. Mas, se calhar, as coisas hoje são mesmo assim.

O formalismo dos caminhos de ferro é lendário. Um chefe de estação, no passado, era uma figura com algum destaque nas localidades. E a hierarquia da carreira ferroviária era algo de relevante à escala nacional.

O meu pai costumava contar uma história da sua infância, passada em 1918 ou 1919 Perto da casa da minha avó, em Viana do Castelo, vivia um casal. O cavalheiro era funcionário dos caminhos de ferro. Tratava-se de um homem "grave", de fortes bigodaças, que se passeava com a esposa aos finais de tarde, em passo pausado, pelas ruas da cidade. O meu pai ouvira dizer que o homem o homem era "Factor de primeira", um lugar da hierarquia ferroviária. E a designação do cargo impressionava-o. 

Um dia, numa conversa lá por casa, veio à baila uma figura importante da cidade, o governador civil. O seu poder terá sido mencionado, em contraste com o de outro cargo qualquer. O miúdo de oito ou nove anos que era o meu pai, colocou então à minha avó uma questão que, para sempre, ficou para o anedotário sentimental da família: "Um Governador civil manda mais ou menos que um Factor de primeira?"

sexta-feira, setembro 08, 2017

A vizinhança coreana


Em 2003, fui a Seul, a convite da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), co-presidir e intervir numa conferência sobre a possibilidade das chamadas “medidas geradoras de confiança e segurança”, um conceito muito em voga desde a “détente”, virem a ser aplicadas às tensões político-militares que, desde os anos 50, afetam a península coreana.

Logo no primeiro dia, fui convidado para almoçar por um amigo que era assessor diplomático do presidente da Coreia do Sul. Tínhamo-nos conhecido em Nova Iorque, quando ele era chefe de gabinete do presidente da Assembleia Geral da ONU e eu dirigia a respetiva Comissão de Economia e Finanças. Chama-se Ban Ki Moon e foi depois o secretário-geral da ONU que antecedeu António Guterres.

Eu estava longe de ser um especialista naquela área geopolítica, pelo que a interessante conversa com Ban Ki Moon, além de muitas outras coisas, teve a virtualidade de me alertar para a importância de uma realidade que nem sempre é tida em devida conta no conflito coreano: as posições da República da Coreia e dos Estados Unidos não devem ser dadas necessariamente como homólogas. Há fortes divergências táticas e o facto de Seul contar com os EUA como “escudo protetor” face a Pyongyang não garante uma atitude comum nos passos a dar face ao Norte.

Vivia-se, por essa época, o tempo, para alguns esperançoso, dos chamados “Six-Party talks”, um processo de diálogo político envolvendo as duas Coreias, os EUA, a China, a Rússia e o Japão. O futuro viria a revelar que o processo não iria ter qualquer sucesso. 

Ao observar a pressão que a América exerce hoje sobre a China, não pude deixar de lembrar-me também daquilo que um dia, numa outra conferência, dessa vez em Tóquio, ouvi ao presidente de um poderoso “think tank” chinês. Dizia-me ele que o Ocidente era “demasiado simpático” ao considerar que Pequim tinha um forte poder de influência sobre a Coreia do Norte: “A nossa capacidade de influência acaba onde o orgulho dos nossos vizinhos pode ficar ferido. A partir daí é ingerência e isso tem um preço”. É claro que esta não é toda a verdade: a China detestaria ver a peninsula sob um regime hostil e na esfera americana.

Para tornar tudo mais complexo, há também que contar que o Japão não tem as posições americanas face à Coreia do Norte como sacrossantas. Tóquio sabe, da História, que é trágico ficar preso a uma estratégia alheia na relação com a sua periferia. É a única certeza é que os vizinhos estarão sempre nos caminhos do seu futuro.

A Coreia do Norte sabe tudo isto. E sabe bem o que quer: ser um poder nuclear, ter essa arma que equipara, pelo terror que infunde, quem a possui. Não quer ter o destino do Irão, que, por ora, ficou na soleira do poder nuclear. Quer passar a ter acesso a esse “patamar” estratégico (onde estão Israel, a Índia ou o Paquistão), por forma obter um argumento negocial definitivo.

quinta-feira, setembro 07, 2017

O dedalzinho


Bateram à porta do meu quarto, no "Beach Hotel", de Tripoli, naquele ano de 1976. Pensei que fosse um dos meus companheiros de viagem. "Sim?!", perguntei. "Podia abrir, por favor?". A voz não era conhecida.

Eu era o representante do MNE num grupo técnico interministerial que o governo português decidira enviar à Líbia, para explorar a possibilidade das nossas empresas de construção civil e obras públicas virem a operar naquele país. A ideia tinha sido suscitada por uma delegação líbia a um congresso do PS português, nesse tempo em que Kadhafi tinha ainda uma imagem aceitável na comunidade internacional, poucos anos decorridos depois do derrube do regime do rei Idriss.

Mas de quem seria a voz? Um português na Líbia? Não era Cartaxo e Trindade, um jornalista que era então o "homem de mão" dos líbios em Lisboa, responsável pela edição portuguesa do Livro Verde de Kadhafi, que já tínhamos cruzado na véspera naquele hotel que, num passado recente, era exclusivamente ocupado pelos americanos, a quem a Líbia tinha dado ordem de partida da base militar próxima.

Abri a porta e vi um homem na casa dos trinta e tal anos, que se me apresentou. Disse-me estar a trabalhar desde há quatro meses na Líbia, numa empresa canadiana, já não recordo o setor. O quarto era pequeno, não o mandei entrar, ficando nós a conversar, em voz baixa, no corredor. Disse-me ter encontrado no hall um dos meus colegas de missão. 

Eu continuava sem perceber a razão pela qual o homem cuidara em saber o número do meu quarto, onde me fora procurar, já bem depois do jantar. A conversa andava "às voltas", quando eu arranjei coragem para dizer algo como isto: "Mas precisa de alguma coisa da minha parte?". Vi que o homem hesitava, olhava em volta, e que baixava ainda mais a voz: "Um dos seus colegas disse-me uma coisa: que o meu amigo trouxe algum alcool".

Fiquei furibundo! Era estritamente proibido levar alcool para a Líbia mas eu, num gesto um tanto inconsciente, tinha decidido levar comigo um pequeno frasco metálico com algum whisky. Era uma quantidade muito pequena e, com alguma reserva, já "cedera" uns "golos" a colegas da delegação. Mas era completamente incrível que um deles tivesse dito isso a um estranho! Percebi logo quem tinha revelado o facto e, inclusivamente, dito ao homem o número do meu quarto. Mas a minha fúria começou a desvanecer-se quando o homem me disse: "Quando mencionei ao seu colega que o alcool era o que mais me faltava aqui, ele disse-me que o meu amigo talvez me pudesse "desenrascar", para "matar saudades". Se me pudesse dar um dedalzinho de alcool, ficava-lhe muito agradecido..."

Mandei entrar o homem para o quarto, dei-lhe duas medidas de whisky, fiquei com a sensação de que uma lágrima lhe correu pelo rosto, mas deve ter sido impressão minha...

quarta-feira, setembro 06, 2017

Terceira


Quanta História convoca a ilha Terceira! Por aqui se escreveram páginas gloriosas na luta liberal contra o obscurantismo do "antigo regime". Aqui foram detidos, durante a ditadura, muitos republicanos e anti-salazaristas, alguns envolvidos em bravas tentativas revolucionárias pela liberdade. Aqui estavam, no 25 de abril, por decisão disciplinar, Melo Antunes e Vasco Lourenço, que vieram a ser pilares da Revolução. E por esta ilha ficam também as Lajes, eixo da relação estratégica luso-americana, uma base que também foi palco do triste momento foi a "cimeira" que, em 2003, antecedeu a criminosa invasão do Iraque.

terça-feira, setembro 05, 2017

A Mornaça


Há dias, aqui nos Açores, perguntei uma simpática guia se ela tinha ouvido falar da "Mornaça".

O tempo estava pesado, quente e húmido, qual "Noite de Iguana", embora sem as amenidades do filme. O conceito de "mornaça" é tipicamente açoriano e refere-se a esse ambiente "misty". Com naturalidade, ela julgou que era a isso que eu me estava a referir. Conhecia, claro, a expressão açoreana, mas nunca tinha ouvido falar de um livro de Ferro Alves com esse nome. E era essa a minha questão.

Ferro Alves foi um revolucionário republicano que, enquanto desterrado nos Açores, interveio, em 1931, naquela que pretendia ser uma revolta nacional contra a ditadura, mas que, em termos práticos. acabou por ficar confinada à famosa e frustrada Revolta da Madeira. O livro é de 1935, tem a bela capa da imagem e é hoje uma raridade bibliográfica (tenho um exemplar algures). No fundo, é uma espécie de relato de uma revolução fracassada, tendo como curiosidade principal os telegramas eufóricos, relatando êxitos que não tiveram lugar, com que Ferro Alves debalde procurou "animar as tropas" dos infelizes revoltosos.

segunda-feira, setembro 04, 2017

Marcello Mathias


Leiam, sem preconceitos, esta excelente entrevista do meu colega embaixador Marcello Duarte Mathias, dada a essa ótima jornalista que é Isabel Lucas.

(Aqui, no meio do Atlântico, só hoje dei pela publicação deste texto, no "Público")

Escrevi "sem preconceitos" porque sei que alguns poderão discordar de algumas das posições deste magnífico escritor e brilhante intelectual. Mas o leitor só ganha em ultrapassar essa limitação.

Marcello Mathias é, na minha opinião, uma das pessoas que atualmente melhor escreve em língua portuguesa. Pensa o país ao seu modo muito pessoal, assume-se como um impenitente pessimista, talvez porque lhe fugiu do futuro sonhado um certo Portugal em que investiu emocionalmente a sua vida, desacreditando hoje também desta Europa que por aí anda. Ambos comungamos de uma certa visão de serviço ao país, bem como da preservação do interesse nacional. É talvez por isso que nos damos bem.

Bela entrevista, caro Marcello!

Açoreana


Ontem, numa vilória dos Açores, senti qualquer coisa de íntimo ao olhar esta placa de companhia de seguros. É que a "Açoreana" diz alguma coisa à minha juventude.

Em Viana do Castelo, no início dos anos 60 do século passado, tinha um tio que era correspondente da "Açoreana". No seu escritório de solicitador encartado, entre outras atividades, fazia-se, nos primeiros dias do mês, a coleta dos pagamentos desses seguros. 

Havia para tal um funcionário que, atrás de um balcão, recolhia o dinheiro e emitia os recibos. Era o "Pêssego", nome posto pelo meu tio e por que ficou conhecido na intimidade jocosa da família, dado que era oriundo da localidade de Pessegueiro, na margem esquerda da Ribeira Lima.

O "Pêssego" era, ao que me lembro, um "senhorito" aperaltado, com uma "gravitas" um tanto irritante, para os seus 18 ou 19 anos. Nunca engraçámos muito um com o outro, mas imagino que algumas culpas possam ter cabido à minha atitude pouco respeitadora do seu esforço para se mostrar precocemente "grave". É que o "Pêssego" falava de forma pausada, afetada mesmo. Mas era muito bem tratado: ao final da sua função diária, ao bater das cinco e meia, subia para a casa da nossa família e tomava um valente lanche preparado pela nossa tia Zé. Sobre se o "Pêssego" mantinha ou não uma paixão secreta pela minha bela prima, filha do seu patrão, a doutrina da memória familiar continua a dividir-se.

Um dia, soube-se que o "Pêssego" adoeceu. Foi coisa sem gravidade e por pouco tempo. Eu estava ali por Viana no meu mês de férias, tinha 13 ou 14 anos, e ao ver o impasse criado pela súbita ausência do empregado, disse da minha disponibilidade para o substituir durante as tardes, nessa "magna" tarefa. Recordo-me da leve hesitação do meu tio em atribuir-me o encargo. Mas, para minha surpresa, talvez para testar o meu sentido juvenil de responsabilidade, lá me foi passada a tarefa de recolher o dinheiro da "Açoreana" e entregar os recibos recebidos da companhia. Ainda hoje lembro o "peso" com que aceitei a tarefa - porque implicava dinheiro vivo e isso era coisa séria - e o zelo com que, por esses escassos dias, me dediquei à função, no escritório do meu tio. Nunca soube se o "Pêssego" apreciou a valorosa substituição.

Há pouco, ao olhar a placa na imagem, senti que a "Açoreana" ainda hoje pode dizer de mim a clássica expressão da senhora Thatcher quando designava um amigo político mais fiel: "He is one of us"! 

domingo, setembro 03, 2017

O amor à açoreana


Margarida Vitória Borges de Sousa Jácome Correia (1919-1996) é um nome de uma curiosíssima figura açoreana que publicou um livro de memórias ("confissões") com o título bizarro de "Amores da cadela 'pura' ", assinado sob o nome de Margarida Victória.

Mulher muito bonita e dotada de um temperamento altamente fogoso ("to say the least"), teve uma vida hiper-aventurosa e de luxo, que a levou por diversos lugares mundo e por braços de variados amantes. O escritor Vitorino Nemésio, no final da sua vida, haveria de se render por completo aos encantos da senhora, com a qual se envolveu romanticamente. Foi ela quem inspirou o período erótico da sua escrita na obra "Cadernos da caligraphia", na qual a dama amada surge sob vários e sugestivos nomes.

Ontem, em Ponta Delgada, debalde procurei o livro de Margarida Victória, que tencionava oferecer. "Está esgotado", ouvi em toda a parte. É pena! Os Açores atuais mereciam conhecer esta história de vida.

sábado, setembro 02, 2017

Pistoleiro


Há uma figura pitoresca, de poupa armada e ar grave, que tem uma fixação recorrente pela minha pessoa. Talvez porque um dia considerei risíveis as suas pretensões políticas, feitas de uma patusca agenda justicialista - criador de suspeições nunca provadas, assentes em ridículas teorias conspirativas -, o fulano criou-me um ódio persistente que, de quando em vez, renasce nas várias plataformas em que esforçadamente se desdobra, para gáudio dos seus prosélitos, recrutados entre os furibundos comentadores de caixas de comentários. 

Ontem, depois do anúncio da minha indigitação para um cargo "pro bono" na RTP, comentei, já divertido, com um amigo: "Quantas horas demorará o tipo a reagir?" Foram 12 horas! Coitado, está a perder a mão! Como pistoleiro, devia ser mais rápido... 

sexta-feira, setembro 01, 2017

RTP


Foi com grande gosto que aceitei o convite do governo para integrar o Conselho Geral Independente que tem por missão supervisionar o serviço público de televisão e de radiodifusão.

Se a minha indigitação for aprovada pela Assembleia da República, exercerei essa função sem o menor encargo financeiro para o Estado.

Abade de Priscos com tripas?


Ontem, no aeroporto de Lisboa, numa loja com livros (livraria é outra coisa), ouvia-se, bem alto, Toni de Matos. Não sei o que pensavam os estrangeiros daquele estranho « musak » com palavras, por certo o levam à conta de toada melancólica mediterrânica, pelo típico gemido vocálico. Logo a seguir, no altifalante da loja, num « medley » improvável, surgiu Keith Jarret. Como entretanto saí, não esperei para ver se se seguia Quim Barreiros – mas já ninguém se surpreenderia. É que, em matéria de oferta turística, hoje já vale tudo ! 

Somos, de há muito, um país turístico. O Algarve (com a Madeira noutro registo) foi a primeira montra do sol & mar para « camones » e míticas suecas. Por anos, fado, Lisboa e uma vida simplória (« so typical ! »), eram o seu complemento. Com a procura global de cenários alternativos, olhou-se o Douro para além do vinho do Porto. Os saldos da Ryanair revelaram a graça única da capital do Norte. Entretanto, a Costa Vicentina passou também a ser « bem », com os Açores a assumirem-se como a última “descoberta da pólvora”. E há, claro, as novas rotas judaicas, transformadas em maná comercial pela diáspora israelita, com que nos absolvemos das judiarias que lhes fizemos.

O tempo transformou o Algarve num espaço para ressacas de pifos nórdicos e retiro de idosos à cata de sol e impostos baixos. A Europa passou a dar mais atenção a outras zonas de um país de gente acolhedora, com uma invejável rede viária, alimentação excelente e às vezes barata (mas já aprendemos, como o restaurador gatuno da Baixa lisboeta provou!), ruas onde a insegurança não passa em regra do vigaristote de mão-baixa. Não fora a cupidez do patobravismo autarquicamente protegido e a costa portuguesa poderia ser hoje um paraíso quase sem paralelo na Europa.

O turismo é uma imensa riqueza que temos e faz jus à hospitalidade que está no nosso DNA. É muito importante economicamente, abre-nos ao mundo e apenas há que saber regulá-lo com bom senso e bom-gosto, para que, pelo excesso da sua pressão no ambiente urbano, não venha a gerar uma “turismofobia”, como noutros lugares já ocorreu.

E volto ao Toni de Matos (cuja voz muito aprecio, aliás). Sabemos que a oferta ao turista daquilo que é português não pode dispensar o “kitsch"– da guitarra plástica ao azulejo “a fingir”, talvez já “made in China”. Mas, mesmo no “business-friendly” que hoje liberalmente impera, há que tentar evitar o gato-por-lebre que por aí anda. Deixar sem denúncia oficial que nada há de típico no pastel-de-bacalhau com queijo da serra é a porta aberta a que, um destes dias, possa surgir um fabiano pelo Norte a vender que bom, bom é o pudim abade de Priscos lardeado com tripas à moda do Porto...

(Artigo hoje publicado no "Jornal de Notícias")

Bom senso e bom gosto

Aguiar Branco faria bem se se retratasse muito rapidamente, em face do que disse sobre as tomadas de posição racistas. Ele não pode pensar i...