Posso entender que um órgão de informação se permita elaborar sobre o presumível interesse do público que o lê, ouve ou vê. Algum "feedback" que receba dos seus leitores, ouvintes ou espetadores confere-lhe o direito de mandar "bitaites" sobre aquilo que quem os acompanha pode querer. Não é certo que acerte, mas é legítima essa sua especulação.
O que não admito é que alguém, saído de uma redação, sem a menor representatividade, se arrogue o direito de vir definir, ou a marcar arbitrariamente como baias da sua produção jornalística, o que ele acha que é o "interesse público". Já a formiga tem catarro!
Todos sabemos que esse é, as mais das vezes, um simples alibi para "mandar às urtigas" a ética (que é sempre interpretada como dá mais jeito), a deontologia (numa classe que perdeu todo o respeito por um código de conduta minimamente consensualizado) e, pura e simplesmente, um pretexto fácil para publicar e mandar para o ar o que sabe que a avidez sensacionalista e "voyeuriste" de algum público melhor consumirá.
Da mesma forma que a "opinião pública" é uma coisa diferente da opinião publicada, também o "interesse público" não é, simplesmente, o que interessa ao público,
Algum jornalismo que por aí anda sabe que, no fim da linha, contará sempre com o tropismo "libertário" de um sistema judicial que, "empanicado" desde o 25 de abril por uma interpretação laxista e temerosa da "liberdade de imprensa", sentenciará a seu favor, raramente em proteção dos ofendidos ou dos valores da privacidade.
Sei não ser politicamente correto estar a escrever isto - logo eu, que escrevo regularmente em jornais e revistas, que às vezes vou pelas televisões. Mas é o que penso.
E representa o que escrevi uma crítica ao sistema de Justiça? Claro que sim! A democracia não tem vacas sagradas.