("Por que é que te vais meter, uma vez mais, nesse vespeiro que é a discussão sobre o Acordo Ortográfico?", comentou ontem um amigo a quem disse que ia escrever sobre o assunto. "Porque não quero dar razão a quem acha que tenho vontade de ser consensual", respondi-lhe.)
Concordo com o que Augusto Santos Silva disse sobre o Acordo Ortográfico - um tratado internacional aprovado pelo governo português, aprovado esmagadoramente pela Assembleia da República, ratificado pelo presidente da República e com os instrumentos de ratificação devidamente depositados. Um instrumento jurídico que está, desde há vários anos, em vigor na ordem jurídica portuguesa, adotado no ensino oficial, usado pelos serviços do Estado, por muita comunicação social e por milhões de cidadãos - entre os quais me incluo.
Reconheço que há quem não goste do Acordo. Estão no seu pleno direito e ninguém, aliás, os obriga a orientarem-se pelas suas regras. Mas não admito argumentos de autoridade - por exemplo, atirarem-nos à cara com os escritores que se recusam a adotá-lo. Em democracia não há "assinaturas" qualificadas, vozes que têm mais peso do que as de outros. Era só o que faltava!
É sabido que a história dos anteriores acordos ortográficos passou também pelo seus contestatários, pessoas a quem as mudanças provocaram seguramente dores de cabeça (seguramente curadas com algo comprado nas "pharmácias"....) Os acordos, como sempre se provou, são feitos para as gerações seguintes. Ninguém gosta, naturalmente, de mudar a maneira como aprendeu a escrever.
Custa-me dizer isto, mas acho que o militantes anti-Acordo se estão progressivamente a assemelhar aos nossos monárquicos, promotores obstinados de uma causa que, embora já perdida, entendem dever continuar a alimentar. Desejo-lhes idêntica sorte.
(Vá! E agora, quem quiser pode desancar-me com paletes de consoantes mudas e de telhas circunflexas de que sentem tantas saudades...)