segunda-feira, junho 30, 2025
Simplesmente Trump
domingo, junho 29, 2025
43,5 ºC !
Na vida, lembro-me de ter apanhado caloraças inimagináveis. Algumas na quase vintena de países africanos por que passei, outra num deserto da Ásia Central, mas também nos centros do Rio e de Nova Iorque, num fim de tarde na Tailândia, num meio-dia em Atenas, numa jornada em Córdova (no "Verão quente"), até na minha Vila Real da juventude, em domingos sinistros de pasmaceira, nos anos 60. Tenho tantas, muitas memórias de ocasiões com um calor quase insuportável, coisa que foi quase sempre agravada pelo facto de eu ser como o leite que se usa cá em casa: meio gordo.
43,5° C foi o que há horas registei no meu carro. Isto está a mudar! Qualquer dia já temos camelos a andar por aí. E não, não é desses!
Senhora da Pena
Na minha juventude, lá por Vila Real, quando alguma coisa tinha luzes a mais, costumava dizer-se: "Aquilo já parece o arraial da Senhora da Pena". Em transcrição fonética, em "vila-realês", lê-se "sedapâna".
sábado, junho 28, 2025
sexta-feira, junho 27, 2025
O voto em Branco
"Estou muito desiludido com o leque de candidatos às presidenciais. Até estou a pensar votar em branco", disse-me ontem um conhecido. "Já fiz isso, por duas vezes", respondi-lhe. Ficou surpreendido. "Quando foi?". "Votei duas vezes no candidato Jorge Branco Sampaio". E ganhei!"
Os talheres da viscondessa
Em 1930, com menos de 20 anos, o meu pai saiu da sua Viana do Castelo natal para ingressar, em Lisboa, na Caixa Geral de Depósitos. Nesse tempo, acrescentava-se ao nome "Crédito e Previdência". Mal ele sabia que esse acabaria por ser o seu muito feliz destino de trabalho, nos 47 anos que se iam seguir.
Para trás, em Viana, deixava a minha avó Filomena, viúva já há cinco anos, mãe de oito filhos, dois que há muito tinham morrido. O meu pai era então o mais novo e essa sua ida para Lisboa terá sido traumática para a mãe. Para ele foi muito difícil, confessava sempre. Toda a família vivia em Viana, com uma fortíssima ligação afetiva à minha avó. Os três irmãos e uma das irmãs estavam bem encaminhados - usava-se então muito a expressão "lançados" - nas respetivas vidas profissionais, concluído que fora o liceu para todos eles. Chegar à universidade é que não tinha sido possível, por razões económicas, para nenhum dos filhos da minha avó.
A Lisboa de então, na memória esparsa que, ao longo dos anos, fui ouvindo do meu pai, ressoava a páginas de "A Capital", do Eça, no olhar deslumbrado de Artur Corvelo. O meu pai, contudo, trabalhava, não fazia poesia como o injustamente pouco apreciado autor do "Esmaltes e Joias".
Falava-me imenso dos cafés desse tempo, dos cinemas existentes, de algumas revistas no Parque, a que ia com os baratuchos "bilhetes de claque", isto é, com obrigação de aplaudir. E também se lembrava da agitação política, dos cívicos de chanfalho que, na confusão das manifestações, dissolviam "ajuntamentos de mais do que uma pessoa" e determinavam, alto e bom som: "É proibido andar parado!"
O 28 de maio tinha sido quase nas vésperas, as revoltas violentas estavam no ar do tempo, republicanos e integralistas agitavam aqueles dias. Educado numa família solidamente republicana, o meu pai olhou a subida do autoritarismo com uma saudável inquietação democrática, atitude que o viria a acompanhar até ao final dos seus longos dias.
Foram muito poucos esses meses de Lisboa, mas terá sido um tempo de imagens fortes e impressivas para um miúdo que, contudo, nem por um dia esqueceu o seu Minho - onde tinham ficado a mãe e todos os seus irmãos. Logo que pôde, conseguiu transferir-se para lá.
A mulher de um dos irmãos do meu pai tinha uma tia em Lisboa, senhora com posses, com bela casa e um título de viscondessa. O meu pai contava, às vezes, divertido e com pormenores, um jantar para que foi convidado pela senhora.
A ocasião era social e ficou-lhe então no goto uma pequena muito bonita com quem meteu conversa à mesa e com a qual, por timidez, havia de falhar um futuro encontro. Sorte a minha: se o conhecimento tivesse tido boa sequência, eu não estaria agora a ser o narrador desta história.
Desse jantar, lauto e imagina-se que um pouco diferente da comida das tascas de galegos do Bairro Alto que o jovem funcionário da Caixa podia frequentar, o meu pai contava o embaraço em que ficou, ao deparar-se com uma parafernália de talheres, cuja ordem de utilização não lhe resultava evidente. A bela rapariga ao seu lado, notando a sua hesitação, deu-lhe, discretamente, um prático conselho protocolar: esperar para ver como os outros faziam.
Às vezes, já tenho pensado que, em certos períodos, a nossa política externa, na prudência obsessiva perante os acontecimentos do mundo, aprendeu demasiado com a lição dos talheres da viscondessa: fica à espera para ver o que os outros fazem, seguindo-os depois, contentinha da vida.
Acabei há pouco de escrevinhar um texto sobre questões de protocolo que me foi solicitado, para um fim que não vem aqui ao caso. E foi então que me lembrei dessa viscondessa que me ficou da memória familiar, uma titular sem nome, mas que o meu primo Rogério, descendente de um ramo próximo dessa ala aristocrática, talvez ainda consiga identificar. Se assim fosse, fechava-se a história com garfo de ouro.
Os trios das quintas
António Vitorino
Tenho muita pena, António!
Muito pouca gente, da gente que temos, representaria melhor toda a nossa gente: com equilíbrio, maturidade, cultura, cosmopolitismo e sentido de Estado.
Preocupem-se
Deve haver poucas coisas mais impopulares do que aquela que vou dizer, mas digo-a, sem a menor tibieza: não sendo o anti-semitismo, há muito, entre nós, uma questão preocupante, acho que nos devemos começar a inquietar seriamente com a onda de islamofobia que aí começa a grassar.
quinta-feira, junho 26, 2025
Belgas
Brasil cá e lá
É muito bom que um jornal com a história do "Diário de Notícias" esteja envolvido num projeto jornalístico que atravessa o Atlântico. Agora sob a direção de Filipe Alves, que por anos conduziu o "Semanário Económico", o DN Brasil tem Amanda Lima na condução deste projeto luso-brasileiro. Só lhes posso desejar muito sucesso. No que me toca, gosto muito de ver, cada vez mais, o Brasil em Portugal.
quarta-feira, junho 25, 2025
Aposto
A missiva de Mark Rutte a Trump é um nojo. Mas até aposto que, no seio dos seus colegas, a grande maioria aplaude-o e elogia o seu "sacrifício", ao ter-se prestado àquele ridículo para conseguir preservar Trump "a bordo" da NATO e, pelo menos, não piorar a atitude face à Ucrânia.
Bélgicas
Uma fila de carros para lavagem automática não é um local habitual para manter diálogos com estranhos. Mas aconteceu-me ontem.
terça-feira, junho 24, 2025
Estão bem um para o outro
Natas
segunda-feira, junho 23, 2025
Com dedicatória
Fabiano
Íamos num pequeno jato, de Brasília para Salvador. Havia por lá um qualquer evento e a Maria Josina e o Arnaldo Cunha Campos, um excelente casal amigo que o tempo já levou, que tinham um "jatinho", disseram que nos podiam dar "carona".
Sou pouco dado a aventurar-me nesses pequenos aviões privados. Porquê? Por medo, claro, coisa própria dos humanos. Sou um crente na aviação comercial. Mas não quisemos dizer que não a esses nossos novos amigos.
Durante a viagem, num momento da conversa para encher o tempo, veio à baila o modo como, em Portugal e no Brasil, se designavam pessoas indeterminadas: Fulano, Cicrano e Beltrano. Sem wifi nas alturas, interrogávamo-nos sobre qual seria a origem de cada um desses nomes, não tendo chegado a nenhuma conclusão.
Foi então que, para completar a lista dessas designações gerais, eu adiantei: "Em Portugal, também era comum, no passado, utilizar a expressão 'um fabiano', para designar uma pessoa indeterminada. Cá pelo Brasil, também se usa?"
Levei à conta do barulho do motor, que envolvia o ambiente no interior do "jatinho", o silêncio com que a minha questão não foi respondida. A cara séria do Arnaldo Cunha Campos, que por regra era um tipo divertido, surpreendeu-me ligeiramente. Logo a resposta veio com uma pergunta: "Francisco, você sabe o nome do meu filho?" Respondi que não. À época, ainda não tinha tido o gosto de conhecer a família do casal. Ele respondeu: "Fabiano".
Nunca concluí se foi ou não um poço de ar o abanão que o "jatinho" me pareceu sofrer nesse instante.
Um abraço saudoso para si e para as suas irmãs, caro Fabiano Cunha Campos.
domingo, junho 22, 2025
Os meus
Solstício
Então, é assim
O cozinheiro "iraniano"
sábado, junho 21, 2025
Irra!
Já esteve mais longe a decisão de desamigar quem quer que use a expressão "vergonha alheia". Tenham vergonha própria!
Já agora...
Estejam atentos: agora que a extrema-direita caseira está, dia após dia, a mostrar a sua face violenta, pode-se constar, aqui pelas redes sociais, em jeito subliminar de "compensação", as crescentes referências às FP25. Terrorismo por terrorismo, convém lembrar-lhes o do MDLP.
Alguma vez havia de ser...
São tantas as vezes em que discordo do meu amigo Sérgio Sousa Pinto que me apraz muito registar este momento em que subscrevo a sua análise, como sempre muito bem articulada, sobre um tema internacional da atualidade.
Ver aqui.
Noite de Verão
sexta-feira, junho 20, 2025
Internacional
Relembrar
A análise televisiva de temas internacionais, quando (como, infelizmente, quase sempre acontece) não consegue ser equidistante, ganha bastante com o contraditório, no qual estejam representadas todas (repito, todas) as posições e narrativas. Com vivacidade, educação e respeito.
quinta-feira, junho 19, 2025
Futebóis
Na Europa, jogava-se a taça dos Campeões Europeus, a taça das Taças e a taça das cidades com Feiras (é verdade, chamava-se assim!).
No tocante a seleções nacionais, havia os campeonatos do mundo, de quatro em quatro anos, com o campeonato da Europa de equipas nacionais a surgir só mais tarde. E havia jogos entre seleções militares, imaginem.
Por esse tempo, lá por Vila Real, eu lia "A Bola", que saía três vezes por semana. Às vezes também o "Record", "O Mundo Desportivo" e, raramente, "O Norte Desportivo". Colecionava cromos com jogadores saídos nos rebuçados de uma lata cúbica que havia pelos cafés, mas nunca me saiu "o número da bola" (como se dizia em Vila Real) ou "o mais custoso" (como se dizia em outros locais), que dava direito a uma bola de couro.
O futebol era quase só aquilo e era muito simples. Agora é o que se vê.
Às malvas
Uma viúva do Irão
Não esquecer
Já agora: que é feito do famoso muro que Trump estava a construir? Como tem andado a tomada do canal do Panamá? Há avanços na invasão da Gronelândia? E o Canadá já se convenceu a ser o 51° estado americano? Há dossiês tão "beautiful" e "great" que não devem ser esquecidos.
Já agora
É lamentável que os mísseis com que o Irão bombardeia Israel originem vítimas civis. Ao invés, útil seria que esses ataques contribuíssem para tornar ineficazes as armas nucleares que Israel mantém, à revelia de qualquer fiscalização da Agência Internacional de Energia Atómica.
Jorge Coelho
quarta-feira, junho 18, 2025
O Clube e eu
Sou atualmente presidente do Clube de Lisboa / Global Challenges, uma associação com cerca de 100 sócios, criada em 2016, que pagam as suas quotas e que tem como objetivo discutir temáticas de natureza global. O Clube não é um "think tank", não produz doutrina, apenas "produz" debates e reflexões.
Haverá Intifada?
A Palestina está em polvorosa com as "condições" colocadas pelo governo português para o seu reconhecimento. Em Gaza não se fala de outra coisa.
Ai, Canadá...
António Costa
Israel (3)
O Estado de Israel tem pleno direito a existir, em segurança, dentro das fronteiras que o Direito Internacional lhe reconhece. Se repetir esta frase a um diplomata israelita, passa por inimigo de Israel, porque o país não reconhece tais fronteiras como legítimas. E estamos assim.
Israel (2)
Israel considera-se isento do cumprimento das resoluções do Conselho de Segurança da ONU. Os EUA e os países europeus membros permanentes desse Conselho, sem cujo apoio ou a abstenção as resoluções não teriam sido aprovadas, não mexem uma palha para forçar Israel a cumpri-las.
Europa
Antes, ironizava-se que a Europa, no Médio Oriente, tinha sempre o "Óscar para o melhor ator secundário", dado que os EUA lhe não deixavam levantar a grimpa. Agora, ver a senhora Leyen telefonar, carinhosa, a alguém com um mandado de detenção do TPI é uma bela comédia série B.
Israel
Israel é um país poderoso. Sabe que tem forma de condicionar internamente as administrações, de qualquer cor, da mais importante potência mundial. Além disso, usa o terror semântico do anti-semitismo e a memória do Holocausto para pôr a Europa aos seus pés. Ganha o dia de amanhã.
Irão, irão...
Trump pode não resistir à tentação de um "regime change" no Irão, para satisfazer o delírio israelita. Seria repetir o erro da Líbia e do Iraque, arriscando a implosão do país. A Arábia Saudita e as outras ditaduras medievais do Golfo que se cuidem com o que aí pode vir.
Eu, Trump
O desprezo de Trump confirmou o G7 como um cadáver adiado. Teve importância quando, com mais ou menos reticências, era a "voice of America", a expressão da força de Washington, com alguns poderes pequenos a fazerem figura de grandes, como se fossem eles os "donos" das decisões.
Na sequência da crise financeira, o G7 tentou ser relevante com o G20, procurando aculturar esses poderes de terceira linha aos seus interesses. Passado o atordoamento da crise, os cooptados libertaram-se, com os BRICS a aproveitar para fazerem proselitismo e agregação "a Sul".
Trump acha agora que está a perder tempo no G7, como no G20, como na NATO. Trump só tem tempo para o que interessa à expressão do poder singular da América - e faz gala de deixar isso muito claro a todos, que contudo lhe fazem um sabujo rapapé, entre bofetadas que vão recebendo.
terça-feira, junho 17, 2025
Lado a lado
Ó diabo! Isto começa a ficar sério!
segunda-feira, junho 16, 2025
Israel e Portugal - notas para a História (2), com apontamentos pessoais
Ah! Pois é!
Há um país com cerca de dez milhões de habitantes que defende os seus interesses através da diplomacia e do diálogo, que aceita as fronteiras que o Direito Internacional lhe atribui, que não ameaça ninguém e é visto com grande simpatia por grande parte do mundo. Chama-se Portugal. Sabiam?
domingo, junho 15, 2025
Pararam as paradas?
Ao que parece, olhando o "entusiasmo" com que foi recebida a parada militar americana, terá havido, afinal, três paradas: a primeira, a única e a última...
Direitos
Lembram-se?
Não quero que ninguém responda a esta pergunta: nesta guerra, quem é que, afinal, tem armas de destruição maciça? Não foi a posse destas armas que, em 2003, justificou a invasão do Iraque (país que, por sinal, as não tinha, mas, como dizia a outra, isso agora não interessa nada)?
sábado, junho 14, 2025
Israel e Portugal - notas para a História (1)
Isto
Thomas L. Friedman no NYT hoje: "In the Middle East, the opposite of autocracy is not necessarily democracy. It can also be prolonged disorder."
Relembrando factos
Irão e Iraque mantiveram uma guerra entre si que tinha resultado num estado de contenção mútua. Com a posterior destruição do Iraque, sob um falso pretexto, os EUA contribuíram para o reforço do poder regional do Irão, bem como para a criação no Iraque do vazio que gerou o Daesh.
sexta-feira, junho 13, 2025
"Uma Europa sem otimismo"
O livro inclui 52 textos, de outras tantas figuras. Por lá estão, por exemplo, Mário Centeno, António Costa, Francisco Louçã, Elisa Ferreira, Marcelo Rebelo de Sousa, João Cravinho, etc.
Os teimosos de Abril
Somos teimosos, somos de Abril. Reunimo-nos, há décadas, já sem as fardas que tínhamos quando nos conhecemos, por esses anos da Revolução. Agora, aperiodicamente, é à volta de uma mesa, de um almoço, de uma conversa e de uma velha amizade que nos juntamos.
A análise e o resto
Na análise mediática dos temas internacionais, há duas formas de atuar. Uma é ficar afetivamente de um dos lados, apoiando, aberta ou veladamente, tudo o que esse lado venha a fazer. Outra é o olhar as coisas sob o prisma do Direito Internacional. Cada um é livre de escolher o que quer fazer.
Assuntos Europeus
Ontem, à margem de um almoço no Palácio da Ajuda, oferecido pelo Presidente da República, por ocasião dos 40 anos da assinatura do Tratado de Adesão de Portugal às Comunidades Europeias, foi possível juntar um grupo de pessoas que ocuparam o cargo de Secretário de Estado dos Assuntos Europeus, desde Vitor Martins até à atual titular Inês Domingos. Faltam na foto Teresa Moura, Manuel Lobo Antunes, Pedro Lourtie, Bruno Maçães e Morais Leitão.
Santos na "Varina"
Pousadas de Portugal
A pretexto de ter dormido, há dias, no edifício daquela que foi a primeira Pousada portuguesa, evoquei aqui as Pousadas de Portugal, um inte...
