Será que o CDS perdeu, de vez, o seu lugar na sociedade política portuguesa? Depois do resultado catastrófico nas últimas eleições, a luta pela liderança, que se consumará neste fim de semana, pode, afinal, acabar num debate autofágico e autoflagelatório, que ajudará a dar cabo do que ainda resta do partido. Se assim acontecer, o novo líder que dali sair pode vir a ter uma vitória pírrica.
Pode parecer estranho que esteja aqui a preocupar-me com o CDS, mas a verdade é que se trata de um partido onde tenho alguns (e bons) amigos, cujo papel histórico no pós-25 de abril não subestimo. Não me é indiferente o futuro da direita em Portugal, porque o regime político democrático, que quero ver preservado, tem de a ter em conta, por muito que a cegueira sectária de alguma esquerda o não perceba. Por isso, o saldo do congresso do CDS interessa-me.
Se o CDS, para evitar que a direita radical se refugie no Chega, passar a mimetizar as suas causas populistas de medo e de ódio, estará condenado: os nostálgicos fascistas, os reacionários trauliteiros, preferem o original a um genérico com gente mais urbana e educada.
Se o CDS pretende vir a ser a casa dos liberais, uma elite fina e modernaça, de camisa desapertada até ao quarto botão, pode acabar por conquistar algum do neoconservadorismo que anda pelo Twitter e por blogues residuais, bem como alguma da direita que polula na opinião do Observador e debita em certas “business schools”. Mas é claro que tudo isso, por muito barulho que faça, por muitas colunas de jornais que alimente, por muitos comentadores que promova, não enche muito mais do que um estádio de futebol. E, muito menos, o parlamento.
O CDS, que creio que há muito já percebeu que não poderá nunca titular o poder no país (quantas vezes Paulo Portas não se terá já arrependido de ter deixado a JSD?) e que só regressará ao governo como “muleta” do PSD ou em outras inimagináveis conjunturas, parece, contudo, não ter ainda entendido que, para continuar a ter um lugar minimamente relevante no espaço político, só lhe resta regressar à sua matriz ideológica original, trabalhando-a de forma contemporânea, educada, criativa, serena e dialogante.
Para isso, o CDS não pode ser um partido “caceteiro” e ultramontano, deve largar a demagogia barata que o fez afundar nas duas últimas eleições, deixar-se de slogans demagógicos e de atitudes histéricas, e, acima de tudo, deve manter um respeito por si próprio, pela sua história, pelo que foi nos tempos em que chegou a ter um papel significativo na democracia portuguesa. E nestes não incluo os tempos da “troika”, bem entendido.
Domingo, logo se verá por onde o CDS quer ir. Ou se, afinal, não irá a parte nenhuma.