Não me apetece alinhar no coro adjetivado contra o líder da oposição, por virtude da sua "gaffe" de ontem. Acho sempre que é possível, e até desejável, tratar estas questões com alguma serenidade e medindo as palavras.
O que mais me impressionou no que Pedro Passos Coelho fez foi o ter cavalgado um facto falso, que não cuidou em confirmar, explorando-o sem o menor pudor.
Porque a questão é esta: se alguém efetivamente se tivesse suicidado, sob pressão psicológica da tragédia a que assistira, seria legítimo a segunda figura da hierarquia partidária do país fazer disso um caso de exploração política, num tempo em que está em curso a instalação de uma comissão de inquérito, organizada nos moldes exatos que ele próprio propôs e que foi aceite pelo governo? Será "de bonne guerre", como dizem os franceses, proceder desta forma?
É que, ao "denunciar" a falta de apoio psicológico à (inexistente) vítima (ou vítimas, como chegou a insinuar), Passos Coelho ultrapassou uma fronteira, revelou que, pelos vistos, para ele "vale tudo", desde que o objetivo seja tentar marcar uns pontos mediáticos - aparentemente porque agora lhe pareceu que alguma atrapalhação do governo podia abrir uma janela de oportunidade, como forma de recuperar do fosso onde as sondagens colocam hoje a sua liderança.
O povo português sabe que, em política, as coisas são o que são. Alguns dos meus amigos não gostarão de ler isto, mas, se o PS hoje fosse oposição, sei que algumas vozes que por lá existem seriam capazes de dizer coisas do jaez das que Passos Coelho disse (eu não tenho ilusões). Mas a mim, no dia de hoje, conforta-me bastante ter a absoluta certeza de que António Costa o não faria. E os portugueses sabem isso, como agora também aprenderam até onde Passos Coelho é capaz de ir.
Este foi um dia triste para a democracia portuguesa.