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segunda-feira, janeiro 11, 2010

Rohmer


É, com toda a certeza, uma questão geracional, mas marca-me cada vez mais a desaparição de personalidades cujas obras funcionaram como "tijolos" da própria construção daquilo que sou. Há pouco, pela televisão, chegou-me a notícia da morte de Eric Rohmer.

Por instantes, veio-me à memória um ciclo de cinema francês, numa sala perto da avenida de Roma, em Lisboa, no início dos anos 70. E recordei-me dos seus "Contes Moraux". Dos embaraços à beira-lago da figura de Brialy, no sempiterno "Genou de Claire". Das angústias existenciais da personagem de Trintignant, no "Ma nuit chez Maud" (na imagem), filme que me levou a ler Pascal e que me criou uma ideia mítica de Clermont-Ferrand. E do inesquecível "L'amour l'après-midi", de onde um amigo meu retirou o dito magnífico de que "mais vale à tarde do que nunca"...

Ao rever agora a filmografia de Rohmer, dou-me conta dos vários filmes dele que ainda não conheço. Fica-nos essa sua magnífica herança.

Porém, que deste post não nasçam confusões: tal como Philippe Séguin, desenhado ontem à tarde no belo discurso de despedida do presidente Sarkozy, sinto-me por vezes melancólico, nunca nostálgico.

terça-feira, setembro 01, 2009

Fitas

Manoel de Oliveira é uma unanimidade adquirida nos meios culturais franceses. Amanhã, será estreada em Paris a sua adaptação de "Singularidades de uma Rapariga Loura", um conto de Eça de Queirós que estava bastante esquecido. O "Le Figaro", de hoje, traz uma entrevista com o realizador. O sucesso do filme parece garantido.

O mesmo se não poderá dizer do filme "La Religieuse Portugaise", de Eugene Green, com Leonor Baldaque como protagonista e que é passado em Lisboa, que Marc-André Lussier, também hoje, "desfaz" no Cyberpresse, considerando inexplicável o respectivo êxito no recente Festival de Locarno.

O excessivo tempo dos planos e sequências, o tom monocórdico de alguns actores e das respectivas réplicas - tido isso é criticado neste último filme. Com o tempo, tenho esperança de ainda um dia vir a conseguir perceber a dualidade de critérios de alguma crítica cinematográfica.

quarta-feira, agosto 19, 2009

Bardot

Gabo a paciência de Daniel Ribeiro que, daqui de Paris, conseguiu extrair uma entrevista, por fax e telefone, a Brigitte Bardot, para o "Expresso".

Nas respostas, vê-se que a senhora está ácida, radical no mau sentido e ferida com um mundo que tão bem a tratou.

Por mim, prefiro recordá-la (pelo menos) assim.

terça-feira, junho 16, 2009

Cinema português

A propósito do "Aquele Querido Mês de Agosto", o Le Monde aborda os problemas e os sucessos da nova cinematografia portuguesa. Leia aqui.

terça-feira, junho 09, 2009

Agosto Português

É um filme estranho mas interessante, dirigido pelo português Miguel Gomes, este "Ce Cher Mois d'Août" (Aquele Querido Mês de Agosto), que acabo de ver em ante-estreia num cinema da "Rive Gauche". É uma obra onde se cruzam uma ficção leve com o realismo da simplicidade rural portuguesa, sob o pano de fundo da música popular que enche as festas do nosso Agosto. São duas horas e meia de um filme que, por um momento, se teme cruel, mas cuja linguagem se solta em registos de um humor, involuntário ou procurado, que chega a projectar-se sobre o próprio trabalho, ironizando com os respectivos autores. A cena final é, a este respeito, uma das melhores.

O filme teve já vários prémios e, em Portugal, terá tido uma audiência muito superior à média para filmes de autor. Veremos como a França o acolhe, tanto mais que, a espaços, há ressonâncias de outras filmografias que por aqui são apreciadas, como Oliveira ou César Monteiro. Teste muito curioso seria o confronto do filme com os cidadãos de origem portuguesa que vivem em França.

domingo, maio 24, 2009

Arena

Foi hoje, em Cannes, aqui em França, que o realizador português João Salaviza ganhou, com o seu filme "Arena", o prémio para a melhor curta-metragem.

Um nome português no mais prestigiado festival cinematográfico da Europa. Uma excelente notícia.

sexta-feira, maio 22, 2009

Bénard da Costa (1935 -2009)

A partir da carta escrita pelo Bispo do Porto a Salazar, no final dos anos 50, a vida política política portuguesa passou a contar, de forma cada vez mais interveniente, com a presença de personalidades católicas no seio do campo democrático que se opunha ao salazarismo. Ficou então claro que o Estado Novo não tinha o monopólio do apoio dos católicos portugueses, que parecia incontestado desde o início da ditadura.

João Bénard da Costa, que acaba de falecer, foi uma das figuras que esteve no centro desse novo tipo de actividade cívica dos católicos, o qual acabou por ter significativa expressão política - desde diversos manifestos à organização da Revolta da Sé (1959), de uma participação activa nas listas da Oposição democrática, uma década depois, às movimentações em torno do caso do padre Felicidade Alves ou dos incidentes da Capela do Rato (1971). Pelo meio, chegaria mesmo a ser criado um efémero movimento radical, com forte presença de alguns desses católicos, o MAR (Movimento de Acção Revolucionária).

Mas seria no terreno intelectual, em torno da propagação em Portugal das ideias do Concílio Vaticano II e das reflexões de Emmanuel Mounier e de Teilhard de Chardin, que os então chamados "católicos progressistas", no seio dos quais Bénard da Costa viria a ter um papel decisivo, iriam representar um tempo novo na vida portuguesa. A Moraes Editora e a revista "O Tempo e o Modo" constituíram o eixo prático dessa movimentação, como o próprio Bénard da Costa bem relata, num pequeno mas importante livro chamado "Nós, os Vencidos do Catolicismo".

Este perfil cívico não deve fazer esquecer que Bénard da Costa foi, também, uma figura maior da memória do cinema em Portugal, como crítico de escrita inigualável e, mais tarde, como director da Cinemateca Nacional. Foi uma personalidade de grande valor, das mais importantes da sua geração, que muita falta fará à cultura portuguesa. Ver mais aqui.

segunda-feira, março 30, 2009

Herald Tribune

A partir de hoje, o "International Herald Tribune" passa a ser apenas, de forma ainda mais clara do que já o era desde há uns tempos, uma simples edição mundial do "The New York Times".

O jornal foi, no seu início, um órgão de informação destinado à comunidade americana residente ou expatriada na Europa. Chamava-se então "New York Herald Tribune" e os cinéfilos recordam-se bem de ver Jean Seberg a anunciá-lo em Paris, Champs-Elysées abaixo, ao encontro de Jean-Paul Belmondo.

A grande vantagem do IHT era o facto de, durante muitos anos, nos trazer o melhor, não apenas do New York Times, mas igualmente dos excelentes The Washington Post e do Los Angeles Times. Era um retrato de uma certa América, com magníficos textos de opinião, que nos ajudavam a ultrapassar a visão mais eurocentrada do Le Monde ou do Financial Times. Um dia, o jornal perdeu para a publicidade a sua última página, onde até então apareciam as deliciosas crónicas do Art Buchwald e em cujo rodapé emergiam pequenos anúncios, desde o eufemismo das primeiras "escort girls" às casas de campo por essa Europa fora. Por décadas, desde 1924, o Herald Tribune incluiu nesse espaço a publicidade a esse expoente americano da bebida que ainda é o Harry's Bar, aqui em Paris, onde o respectivo endereço - 5, rue Daunou - era apresentado em transcrição fonética, por forma a permitir ao consumidor yankee dizê-lo com facilidade ao taxistas parisienses: "Just tell the taxi driver: sank roo doe noo".

Com esta sua mudança, consagra-se o fim de uma época do IHT. Por mim, confesso, tenho alguma pena. Mas não deixarei de lê-lo todos os dias, como faço há muitos anos.

domingo, março 22, 2009

Clara d'Ovar

Nos anos 60, o nome de Clara d'Ovar era uma das referências portuguesas em Paris. Pelos filmes que fez, pelo fado que por aqui cantou e, se bem julgo lembrar-me, pelo espaço de gastronomia portuguesa que por aqui manteve, ela continua a ser uma das nossas memórias em França.

Surpreendentemente, encontro poucos dados informativos sobre Clara d'Ovar. Será que alguém pode contribuir para uma sua biografia?

Em tempo: em poucas horas, os comentadores deste blogue ajudaram à construção da biografia de Clra d'Ovar, com a indicação de links e informações sobre a sua vida. Um destes dias, com tempo, faremos a sua síntese

sábado, março 21, 2009

Lavadeiras de Portugal

"Les Lavandières du Portugal", de que pode ver e ouvir aqui um extracto, foi, em 1955, o grande êxito da vida musical da cantora Jacqueline François, que acaba de morrer aqui em Paris.

É um Portugal de improváveis lavadeiras de Setúbal, que o autor da letra põe a beber "manzanilla" ou "xerez", o que dá bem nota de confusão ibérica, que, sobre o nosso país, ainda pairava na mentalidade francesa de então.

Dois anos mais tarde, o exotismo passa ao cinema, com uma comédia com o mesmo título da canção, desta vez ligada à procura de uma lavadeira portuguesa para fazer publicidade de uma máquina de lavar. Com o nome de Paquita Rico no elenco, segue-se idêntica linha de rigor étnico-geográfico. E, pelo cartaz junto, pode logo perceber-se que se trata, de facto, de uma lavadeira portuguesa-tipo, nos idos de 1957...

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

O nome

Pergunta-me um amigo a razão pela qual este blogue tem o nome que tem.

A resposta é fácil. A mim disse-me sempre muito o cinema francês da Nouvelle Vague, com figuras como François Truffaut, Jacques Rivette, Eric Rohmer, Claude Chabrol ou Jean-Luc Godard. Lembrá-los era o mínimo que poderia fazer, ao vir viver para Paris. E dado que seria, com toda a certeza, muito estranho eu dar a este blogue o nome do filme mágico de Godard - "À bout de souffle" -, optei por plagiar parte do título do seu "Deux ou trois choses que je sais d'elle".

O outro 25

Se a manifestação dos 50 anos do 25 de Abril foi o que foi, nem quero pensar o que vai ser a enchente na Avenida da Liberdade no 25 de novem...