terça-feira, setembro 01, 2009

Fitas

Manoel de Oliveira é uma unanimidade adquirida nos meios culturais franceses. Amanhã, será estreada em Paris a sua adaptação de "Singularidades de uma Rapariga Loura", um conto de Eça de Queirós que estava bastante esquecido. O "Le Figaro", de hoje, traz uma entrevista com o realizador. O sucesso do filme parece garantido.

O mesmo se não poderá dizer do filme "La Religieuse Portugaise", de Eugene Green, com Leonor Baldaque como protagonista e que é passado em Lisboa, que Marc-André Lussier, também hoje, "desfaz" no Cyberpresse, considerando inexplicável o respectivo êxito no recente Festival de Locarno.

O excessivo tempo dos planos e sequências, o tom monocórdico de alguns actores e das respectivas réplicas - tido isso é criticado neste último filme. Com o tempo, tenho esperança de ainda um dia vir a conseguir perceber a dualidade de critérios de alguma crítica cinematográfica.

11 comentários:

Helena Sacadura Cabral disse...

Deve ser incapacidade minha mas depois dos primeiros filmes - Aniki Bóbó ou o Auto da Primavera - tudo me parece pior. Nos Canibais parei a aventura de tentar entender. Era, é, demasiada areia para a minha caminheta, como sói dizer-se!

Francisco Seixas da Costa disse...

Nem eu próprio sei se escrevi uma coisa muito diferente do comentário da Dra. Helena Sacadura Cabral...

Anónimo disse...

Tive oportunidade de assistir ao filme na 5ª- feira passada ( Viana do Vastelo levando vantagem sobre Paris !! )
Não sou entendida na matéria, mas gostei. A fotografia fala, os tons sépia colocam-nos no tempo. Com pouco dinheiro, afinal, é possível contar-se, elegantemente, uma bela história. Penso que Eça ia gostar ...

Francisco Seixas da Costa disse...

Eu não vi ainda o filme de Oliveira, mas devo avisar que, cá por coisas, metade da minha crítica será, desde já, positiva, se ele contiver este naco de diálogo do texto do Eça inclui, não obstante a gralha geográfica:

"- A mim têm-me afirmado que as mulheres de Vila Real são as mais bonitas do Minho. Para olhos pretos Guimarães, para corpos Santo Aleixo, para tranças os Arcos: é lá que se vêem os cabelos claros cor de trigo.

O homem estava calado, comendo, com os olhos baixos.

- Para cinturas finas Viana, para boas peles Amarante - e para isto tudo Vila Real. Eu
tenho um amigo que veio casar a Vila Real. Talvez conheça. O Peixoto, um alto, de barba loura, bacharel.

- O Peixoto, sim - disse-me ele, olhando gravemente para mim.

- Veio casar a Vila Real como antigamente se ia casar à Andaluzia - questão de arranjar a fina-flor da perfeição."

Espero que se perceba que, para um Vilarealense, este texto não pode deixar de ser delicioso...

Bento Freire disse...

Com o devido respeito, não meparece que o tom da generalidade dos actores de Manuel de Oliveira seja "monocórdico" e penso que o tempo dos seus planos é aquele que deve ser, nem mais nem menos.
O que afasta o comumdos espectadores do cinema do Mestre é a sua intransigente austeridade, a recusa da cedência às regras narrativas explicativas do cinema americano ou americanizado.
Para Oliveira, o cinema é o cinema, é o cinema, é o cinema...
Não tem a ver com os "movies".
Num certo sentido, Manoel de Oliveira é o Pessoa do cinema; noutro (sentido) ele é Jackson Pollock do cinema.
Os seus actores são anti-histriónicos e representam "distanciados" porque o realizador não quer distraír o espectador; deixa isso para os filmes da Disney.

Anónimo disse...

O Oliveira é um chato. É a hiatória do rei vai nu. Ninguém tem coragem para dizer. E é uma pena que o Embaixador, que me parece um homem lúcido e com coragem, não a tenha para o dizer com todas as letras.

Se os Bentos deste mundo querem vê-lo e usá-lo como alternativa aos barbitúricos então que o paguem eles, que passem cheques ao Paulo Branco para alimentar as "vernissages" regadas a champanhe. A esmagadora maioria dos portugueses já mostrou que não tem a menor paciência para aquelas masturbações intelectuais, com os actores com cara séria a debitar banalidades sincopadas. E só a cobardia de uma política cultural sem sentido (e temente à crítica) permite o espectaculo de ver o estado português a largar balúrdios anuais para dar ao homem e à corte dos que ganham na produção os largos milhões que permitem o gozo quase onanístico dos Bentos e outros sopros da intelectualidade a que temos direito, deslubrados com aquelas monotonias sem fim. Há limites para tudo, menos para o Oliveira, aparentemente. À pianista já cortaram a colecta, falta a coragem para fazê-lo a este senhor, a quem desejo muito e bons anos, sem filmar mais, sem nos chatear a cabeça e a bolsa. Chiça! O Oliveira é o Júlio Dantas da novo regime. Pim.


DL

Anónimo disse...

Pim, Pim, diria.
Edgar L. Risques

Anónimo disse...

Pim,pam,pum,já agora...

Bento Freire disse...

Encanta-me o ar definitivo com que políticos (e, pelos vistos, alguns comentadorse de posts) se arvoram em porta-vozes do povo português. Bem, sejamos justos, neste caso só da "imensa maioria" do povo português.
A "pianista", que eventualmente a imensa maioria do povo português nunca ouviu tocar, tal como nunca viu um filme de Manoel de Oliveira, é só uma das maiores intérpretes do sec XX.
Mas o insigne representante e procurador da "imensa maioria do povo português", atrevidote como é uso da dita, cá está para pôr na ordem os Bentos deste mundo e outros cobardes masturbadores.
Aí, portuguesinho valente!

Anónimo disse...

Sempre tem um estilo diferente de João de César Monteiro, que foi “capaz” de realizar a “Branca de Neve” (espectadores houve que apreciaram o filme, outros que eram capaz de o matar, há gostos para tudo, até no cinema). Ainda há pouco fui ao “You Tube” recordar os comentários, ou respostas a quem o (JCM) entrevistava, ou “tentava entrevistar”, sobre o dito “filme”. E ri-me a bom rir. De algum modo, uma das respostas dadas à pergunta sobre porque fez JCM um filme assim (a propósito da “Branca de Neve”), poder-se-ia aplicar a Manoel de Oliveira, que quer se queira ou não, é uma figura relevante da cinematografia, goste-se, ou não dos seus filmes. E se calhar teriamos resposta idêntica, com todo o direito que lhe assiste: “porque não quis fazer assado e estou-me nas tintas que certo público goste ou não”. Por exemplo. Pum!
Albano

Bento Freire disse...

É curioso (e não é por acaso) que se associe Oliveira ao João César Monteiro.
O César, de quem fui amigo, era mais do que admirador de MO. Foi seu autor no "Amor de Perdição" e escreveu, nos anos 60, no "Tempo e o Modo" alguns textos geniais sobre "o velho", como por vezes lhe chamava.
E tem razão: ambos fizeram o cinema que lhes apeteceu.
E quanto à "imensa maioria do povo português" que prefere os filmes de kung fu (ou que gosta mais do Toni Carreira do que d"a pianista", recordo uma frase escrita pelo JCM a propósito do "Esporas de Aço", o western de Anthony Mann: "Para ver este filme, o espectador deve estar de joelhos".

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