sábado, janeiro 20, 2024

Uma história antiga


Descobri, neste blogue, este episódio, já com algum tempo.

Conversa, numa loja do Chiado, com um colega diplomata mais velho, já reformado.

- Como é que você resolveu o problema dos livros a mais, no seu regresso definitivo a Lisboa? perguntei eu.

- Nem me fale! Foi um inferno! Não houve espaço para todos eles. Tive de fazer uma seleção.

- É que eu estou num sufoco. Tenho milhares de livros em caixotes, num armazém. Ainda não sei bem como vou proceder.

Comentário irónico da mulher desse meu colega:

- Vocês nem se dão conta do lugar onde estamos a ter esta conversa. Depois queixem-se...

Estávamos a comprar livros na Bertrand.

7 comentários:

manuel campos disse...


E também a propósito de livros: fui hoje de manhã à Feira da Ladra.
Aqui há uns anos ía lá com alguma frequência, depois fui espaçando, meteu-se a pandemia e o “fecho” daquilo, meteram-se logo a seguir outras situações da minha vida, fui lá há uns tempos e hoje lá voltei.
E lá voltei porque está um “glorious day” bem aconselhável para encontrar a verdadeira feira (a dos sábados, porque a das terças do Sérgio Godinho não é bem a mesma coisa), quando lá tinha ido noutro sábado há uns tempos o dia estava manhoso e aquilo era um arremedo da verdadeira feira.

A Feira da Ladra mudou muito, tal como mudou a cidade, com a chegada em massa de turistas, perdeu o seu ar familiar (sou do tempo de ir por ali a apertar a mão a muitos vendedores, lhes perguntar pelo negócio e pela família e ficar de conversinha).
Como se sabe tem que se ir cedo pois é cedo que os “connaisseurs” vão e abarbatam logo as peças boas, a maior parte deles com interesses específicos dirigem-se logo ao local certo sem perder tempo a “flâner”.
Já há muito que me deixei de procurar “antiguidades” ou “velharias” como deve ser, tinha que ir cedo e às 8 da manhã ainda há pouco adormeci, como ainda anteontem contava ao nosso amigo Tony (ainda ando aqui com os dois jogos de vólei em cima da ginástica, um bocado “entalados”, aos quase 78 anos é notável).

Portanto quando lá cheguei, lá para as 11 horas, já só restava aquilo que um amigo meu descreve como “E pensar que já houve quem pagasse bom dinheiro por isto!”.
Como fui direito às bancas de livros e de discos, que continuam nos mesmos sítios, não perco muito tempo para além daqueles interesses específicos.
O segundo conselho (o primeiro é ír ao sábado) é ir vestido do modo mais informal possível, como hoje ficou provado numa pequena experiência que fiz.
Quando lá fui há 15 dias, um dia em que ía bastante “casual”, peguei em 2 CD e perguntei o preço (nuns sítios estão marcados e noutros não), foi-me dito que o simples era 2€ e o duplo 5€ (é o que calha, este ultimo devia ser quanto muito 4€, achava eu).
Hoje ía com outro atavio, um belo blusão e umas calças de bombazina a condizer comprados a semana passada, peguei nos mesmos 2 CD que ainda lá estavam, o simples era a 4€ e o duplo a 10€.
Para a próxima vou outra vez o mais “casual” que conseguir (não é fácil minha mulher deixar-me alguma vez saír de casa abaixo da fasquia dela no que respeita ao meu atavio), talvez estejam outra vez a 2€ e a 5€.

Noutro sítio ainda tentei comprar dois outros CD de música “a metro” para pôr num carro, mesmo o carro de 2000 já tem leitor de CD, o de 2016 até duas entradas USB traz, dá para meter dias e dias de música numa PEN.
Aqui já a conversa foi outra, quase do tipo que outro amigo meu lá teve um dia, rapaz suficientemente abastado, viu um objecto que lhe podia interessar e custava creio que 8€.
Mas o objecto era muito pesado e o carro estava muito longe, portanto desistiu da compra e disse algo como “não me dá jeito levar, isto pesa um bocado” ao que lhe responderam que “o que não lhe dá jeito e lhe pesa um bocado são os 8€!”.

Ainda trouxe uma ópera do Vivaldi (Tito Manlio) e outra do Lully (Proserpine) e mais umas coisitas do pianista Emil Gilels por estrear, 2 CD cada caixa a 1€ cada CD, estas coisas já não se encontram nem nunca mais se vão encontrar, só mandando vir e os “portes” de algumas proveniências estão a começar a pesar.
Há tempos numa festa alguém me disse “Mas tu ainda compras CD para quê, está tudo em streaming” e teve que ouvir que “Mas eu gosto do objecto físico, se não te importas”, não se importou.
Um dia destes falo do mercado de CD em 2ª mão, aí sim cheio de preciosidades e até raridades a preços muito bons pela simples razão que anda tudo a emborcar o streaming, claro.
Comprar discos novos está fora de questão para mim, perdeu-se o efeito das economias de escala e os preços são hoje em dia desmotivantes.

(Continua se a tal fôr autorizado mas ninguém é obrigado a ler)

manuel campos disse...


(Em princípio a a continuação)

Quanto a livros, não vi umas bancas que por lá havia já na zona lá em baixo junto ao antigo Hospital da Marinha (*) e em frente à entrada principal do Casão Militar.
Nessas bancas costumava haver livros acabados de saír por preços muito baixos, só lá vi uma hoje e com poucos e não da semana passada como era habitual, não tendo acompanhado nos últimos anos aquilo já não conheço lá ninguém, sempre tive uma ideia sobre esse “fenómeno” dos livros a metade do preço mas fico com ela (não tem nada a ver com nada de ilegal, mas apenas com “tácticas”).
De resto todas aquelas bancas habituais com livros em pilhas mas que só por acaso encontraria algum que me interessasse muito agora, alguns daqueles livros a 1€ (ou até menos) acabam por ficar lá no fim da feira, não compensa por vezes andarem a levá-los de volta para o armazém e depois para a feira para a semana para nunca mais os venderem.

Numa banca com alguns dicionários Lello muito antigos mas em estado bastante aceitável, de um dos poucos vendedores com quem ainda me dou, íamos tendo um ataque mau, mais ele que eu, é evidente.
Duas turistas novas, não percebi de que nacionalidade, abriram os dicionários quase dobrando a lombada e folheando-os como se fossem as páginas amarelas de uma cabine pública.
O senhor é extremamente educado e lá conseguiu travar a catástrofe o melhor que pôde.
Com isto tudo já ouvi o Emil Gilels, ler ou escrever dá para tudo, olhar para um ecrã é que só dá para aquilo.

(*) Da Wikipedia: “Em abril de 2016, o edifício do antigo Hospital da Marinha, localizado no Campo de Santa Clara, em Lisboa, foi vendido em hasta pública pelo Estado Português a um investidor francês por 17,9 milhões de euros (este valor ultrapassou em cerca de 50% a base de licitação). O edifício tem uma área aproximada de 15.000 metros quadrados distribuídos por sete pisos. Ocupa uma área de terreno com cerca de 4.533 m2.”.

Destinado a um “complexo de hotelaria, habitação e comércio” consta-me que tem havido por ali uns problemas que o atrasaram, andam aí pela net notícias de 2019 e 2020, se a alguém interessar é pesquisar, não sei como estará agora.

Nuno Figueiredo disse...

nunca são demais.

Flor disse...

Manuel Campos, eu leio o que escreve com muita atenção.

manuel campos disse...

Flor

Muito obrigado pelas suas palavras, nunca tive qualquer dúvida disso dadas as frequentes “conversas” que temos, fruto da atenção e interesse que tem a gentileza de dar aos meus devaneios.
Escrevo “ao correr do teclado”, expressão adaptada de José de Alencar, o escritor brasileiro (e não só, foi muitas coisas), nascido em 1829 em Messejana (do Ceará), não a do concelho de Aljustrel, ali ao lado de Rio de Moínhos onde Brito Camacho nasceu.

Do “Tribuna” retiro a famosa história da “Praia da Messejana”.
“Messejana é um nome recorrente das histórias e cultura tradicional alentejana. O facto deve-se sobretudo a Brito Camacho, natural de Aljustrel, ministro da 1ª República. Quando uma delegação de representantes da Messejana se deslocou a Lisboa para lhe apresentar um extenso caderno reivindicativo, o ministro terá reagido com um “Não querem também uma praia?”, sendo a resposta da delegação um ícone e um mito da tradição popular alentejana: “Arranje lá a água, que a areia arranjamos nós”, tornando assim célebre a famosa Praia da Messejana.”

Mesmo que tenha só uma vaga ideia daquilo que pretendo escrever sobre um assunto, basta começar a 1ª linha e depois o pensamento vai por aí fora, muito mais depressa que a velocidade da escrita, por isso tantas vezes me atrapalho, me baralho, tropeço em mim próprio, ando por aí aos trambolhões, por vezes é confuso, outras vezes não está revisto, é como sai.
No entanto um destes “lençóis” não leva mais que 15 minutos a estar feito, mais ou menos o tempo de 3 intervalos para publicidade na TV, daqueles em que não se faz nada de especial senão dizer “então isto nunca mais acaba?”.

Sempre escrevi muito e tenho por aí muita conversa mais ou menos fiada, mas com um destino preciso após criteriosa escolha, um livro a publicar por mim exclusivamente para oferta a amigos e conhecidos, é um “luxo” a que me posso dar e um prazer, ao mesmo tempo que cumpro umas “promessas” feitas a todos os que me incentivaram ao longo dos anos (a começar por minha mulher), promessa que não cumpri durante muitos anos por falta de tempo, depois durante outros tantos anos por falta de calma, a vida dá umas voltas estranhas, como se sabe, pode-se disfarçar mas estão cá.

Aqui há uns 15 anos fui convidado para um blogue “privado”, do tipo do “traz outro amigo também”, à partida só conhecia alguns, fomo-nos conhecendo mais e melhor, alguns passaram à fase seguinte do “cara-a-cara” (normalmente num bom restaurante), o blogue morreu de morte natural, estes tipos de blogues vão e vêm, a persistência e resistência de que falei esta madrugada são raras, isto não vai lá só com voluntarismos.
O próprio “gestor” desse blogue que, quando eu estava 2 ou 3 dias sem escrever, me vinha perguntar se estava bem, porque quando eu não escrevia parecia que as páginas diminuíam (de facto ficavam menos cheias) foi o primeiro a abandonar o barco, ainda lá andámos alguns uns tempos, quando ficámos os suficientes para uma mesa de oito mudámos de pouso (e de peso!).

(continua, com sua licença)

manuel campos disse...


(continuação depois ter ido ali dar uma ajudinha)

Tenho estado aqui a ouvir a ópera do A.Vivaldi, ontem ao serão tinha ouvido a do J-B.Lully.
O Vivaldi foi aquele senhor que escreveu a música que toda a gente conhece dos anúncios de ar condicionado e dos tempos de espera ao telefone quando se liga para um qualquer “call center”.

Leonard Bernstein disse um dia algo do género de que não há música muito séria e música pouco séria, há boa música e má música.
A isto acrescento que há música de que gostamos e música de que não gostamos (é como com os vinhos).
Por isso também trouxe da Feira da Ladra um CD com a “extended version” da banda sonora original do filme de 1961 “The Young Ones”, com o Cliff Richard e os The Shadows, que nunca mais tinha visto, em “mint condition” por 1€ (fica-me a faltar a BSO completa do “Summer Holiday” de 1963, as outras já não me interessa ter).

A base de partida da história do “The Young Ones” é sempre actual apesar dos seus 63 anos.
O “Nicky” (interpretado pelo Cliff) e os amigos descobrem que o edifício onde é a sede do seu “clube” de infância vai ser demolido para dar lugar a um novo bloco de escritórios, a menos que eles arranjem dinheiro para pagar a renda pedida pelo novo senhorio, interpretado pelo fabuloso Robert Marley.
O resto imagina-se, gravam umas músicas, vão por aí fora e pagam a renda (é mais ou menos isto).

PS- O problema dos CD comprados em feiras ou lojas de 2ª mão é o estado da caixa “Jewel”, quase sempre muito riscada, por vezes partida, pouco entusiasmante para quem gosta de coleccionar e não só de ter por ali.
Por isso tenho sempre aí uma boa reserva de caixas novas que compro em pacotes de 50, sai aí a 50 cts cada já com portes, mudou a caixa está novo (não os trago sem verificar o estado do disco), um disco impecável de 1€ mais a caixa sai ao preço de um pastel de nata, um disco impecável de 2€ mais a caixa sai ao preço de um pastel de nata e uma bica (nalguns sítios já só ao balcão).
Para os discos duplos é mais difícil e caro encontrar as caixas, mas aí põe-se um sobre o outro numa caixa individual.

manuel campos disse...


As crónicas de José de Alencar coligidas sob o título "Ao correr da pena" estão no "domínio público" e podem-se ler na versão PDF pondo "Ao correr da pena" na pesquisa do Google.

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Não, não é "dos Pintores": é do Pintor. Onde fica? Fica em Santo Antão do Tojal. Não sabe onde é? Ó diabo! Conhece A-das-Lebres? T...