segunda-feira, janeiro 22, 2024

Palavras

Uma professora universitária comentou o fabuloso "neologismo" que detetou num texto de um seu aluno: "plumenos". Trata-se de uma imaginativa forma de grafar "pelo menos".

Lembrei-me, então, da história de um outro não menos criativo aluno universitário que, para trazer à baila uma referência, escreveu numa prova: "2º alguns autores...".

15 comentários:

aguerreiro disse...

E em ditado de outros tempos
"Agacho-me para apanhar castanhas"
O nosso aluno da antiga 3ª classe escreve
HXUM pra apanhar....

Luís Lavoura disse...

Uma professora universitária comentou o fabuloso "neologismo" que detetou num texto de um seu aluno

Neologismo é designar os estudantes universitários por "alunos".

Aluno é aluno de uma escola primária ou secundária. Os estudantes das universidades são isso mesmo: estudantes.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

E a carrada de neologismos assentes em transliterações do Inglês? Ui

manuel campos disse...


Fiquei hoje a saber que os alunos não são estudantes e os estudantes não são alunos, o que acaba de modificar toda a minha vida, sinto-me outra pessoa.

Dei-me no entanto ao trabalho de consultar 5-dicionários-5 e nenhum deles me diz que um aluno não é um estudante e um estudante não é um aluno.

Verifico assim que os dicionários não valem grande coisa, tem que se perguntar a quem sabe, vou-me desfazer dos em papel ali no ecoponto.

Por isso é simples, como tenho uma licenciatura há mais de 50 anos (já deve ter prescrito, acho eu), fui aluno e estudante, o que muito me honra.

manuel campos disse...


Já agora.

Alunos, estudantes, analfabetos, letrados, o que seja e quase toda a gente.

Já repararam que tanto a falar como até a escrever o verbo "estar" tem vindo a ser sistematicamente substituído pelo verbo "ter"?

É uma festa de "tive uns dias no algarve", "tiveram todos na praia", "Tive doente", "teve bom tempo a semana passada".
Até já tenho tido (aqui é o "ter"!) que chamar discretamente a atenção a gente que se gaba de ler muito (com cuidado, não fôssem dar-me um estalo).
Ora estejam (aqui é o "estar"!) com atenção.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

"Aluno é aluno de uma escola primária ou secundária. Os estudantes das universidades são isso mesmo: estudantes."

A sério?

aluno
(a·lu·no)

nome masculino
1. O que recebe de outrem educação ou instrução. = APRENDENTE, DISCENTE

2. Discípulo.

3. Aprendiz.

"aluno", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2024, https://dicionario.priberam.org/aluno#google_vignette.

manuel campos disse...


A propósito de cuidados e descuidos.
Também tu, JL?

Aqui vai a capa do último JL: "visao.pt/atualidade/2024-01-10-jl-1390-2/"

Alguém escreveu aquelas linhas, tinha lá posto que "cuja obra" tinha começado a ser reeditada, escreveu "obra" outra vez no princípio da frase seguinte, achou e bem que era "obra" a mais, emendou lá atrás para "cujos livros" e não olhou mais para aquilo (nem essa pessoa nem ninguém).

Arber disse...

O "aguerreiro" fez-me lembrar uma, também antiga, do bem intencionado que queria ajudar quem quisesse passar para a outra margem do rio, e aconselhava, numa etiqueta: "XPTEO" = despe-te e nada!

manuel campos disse...


Era uma da tarde quando saímos para o passeio favorito de minha mulher, ir até “onde a terra se acaba e o mar começa” (Os Lusíadas, Canto III) no “O espada”, que deve o seu cognome ao nosso amigo Francisco de Sousa Rodrigues.
Belíssimo e merecido passeio pois finalmente no fim da semana passada desapareceram daqui umas “preocupações” que vínhamos tendo desde o Verão.

O “espada” dos passeios, que parece que vamos sentados no sofá da sala e quando paramos num sinal julgamos que o motor se foi abaixo, está com um pouco menos de 800 kms desde o fim de Junho, altura em que foi à inspecção, por vezes é preciso mais alguma coisa que tempo livre e folga financeira para nos apetecerem os passeios.
As marginais AC (antes de Cascais) e DC (depois de Cascais) quase vazias, o Atlântico muito ligeiramente “bravo”, a temperatura exterior igual à interior do carro, perfeito.

A meio da tarde ainda passámos pelo Cascais Shopping, enquanto minha mulher dava as suas voltas, meti-me na FNAC, como é óbvio.
Lá confirmei que não volto a comprar discos novos mas comprei um duplo álbum de Natal (!) por menos de 3€, não porque o Natal esteja à porta, não porque me faltem discos de Natal, mas porque quando apanho estas oportunidades ainda dentro do celofane original, começo logo a comprar em Janeiro, vão para uma gaveta, quando chega o Natal e de repente surge um “não temos nada para dar a X ou a Y”, vai-se à gaveta e não se pensa mais nisso.

Agora as FNAC têm todas uma bancada “Queer”, curioso de tudo o que me cerca lá estive também a dar uma vista de olhos, hoje tinha tempo, esperava o “toque de recolher” ao carro.
Passou-se uma situação original na secção de discos.
Estava eu de um lado do escaparate e um senhor um pouco mais novo que eu em frente de mim do outro lado, muito chateado com um empregado da loja porque não havia escolha nenhuma de música brasileira de há 30 ou 40 anos, o rapaz bem lhe dizia “é o que há, se quiser encomendamos”.
Como sou simpático e bondoso lá lhe expliquei aquilo do streaming e da quebra no mercado discográfico por falta de interessados.
Queria os CD para ouvir no carro, lá o aconselhei a comprar em lojas de usados onde a escolha é grande, disse-lhe onde as havia em Lisboa e até na Linha, que era o que eu fazia, se só tivessem dedadas aquilo sai com água da torneira e os riscos muito superficiais não prejudicam a leitura.
Que era o que faltava comprar discos usados para ouvir no carro, nunca meu caro senhor (este era eu), saiba o senhor (eu outra vez) que eu tenho dois Mercedes.
Lá lhe respondi “Ah, assim é diferente!” e fui à minha vida, está tudo parvo.

Gostei de ver o “Tintim no Congo” ao lado dos outros álbuns todos, sem faixas a avisar as pessoas "mais sensíveis” ou mais ou menos escondidos, como por outras paragens desta Europa que se procura e que cada vez menos se encontra.
Com a idade e o que vou vivendo, cada vez o politicamente correcto me irrita mais, outro campo em que os defensores da democracia só lhe espetam facas.

Tenho ali uma entrevista com o John Cleese num DVD em que ele diz que uma série de TV como os Monty Python (e também os filmes deles) era totalmente impossível de ser feita hoje em dia, ninguém aprovava nem pagava aquilo (e quem a propusesse ainda ficava muito mal visto).
Há quem ache que vivemos numa sociedade cada vez mais e melhor informada e esclarecida.
Se assim é, pois boa sorte!


manuel campos disse...


Estava ali a reler uma sua ida a Alesund em boa companhia e devo dizer que, tal como o Sr. Bjorn Knutsen, tenho uma mesa (no meu caso) de "snooker" lá no meu algures.

E como o espaço não é também grande, tenho "uns tacos mais pequenos para operar em certas posições" (fim de citação).

A mesa estar ali tem uma história (tudo tem, aliàs).
A dita mesa era do meu filho mais velho e estava na casa dele em Lisboa.
Quando o meu neto "dali" nasceu, ele precisou de mais espaço e, como também já não usava tanto a mesa, perguntou se a queríamos para a outra casa.
Ora eu tinha lá uma sala livre no r/c, num canto da casa sem muito interesse mas que minha mulher se propunha mobilar "comme il faut" pois tem horror ao vazio (de objectos ou de cuidados) na decoração de qualquer casa.

Claro que disse logo que sim, tinha o "snooker" e não tinha a despesa da nova decoração (o útil e o agradável perfeitos).
Foi fácil arranjar por lá quem a viesse cá buscar.
O problema foi carregá-la, tinha que ir pela escada e só uma das "peças" pesava quase 500 kgs, ainda hoje tenho remorsos.

manuel campos disse...


A propósito do que foca mais de uma vez no seu livro, de não ter guardados documentos de décadas de trabalho, tenho outra boa historieta para contar.

Conheci um senhor que, tendo ocupado alguns lugares de muito relevo em determinado ministério, guardava tudo e mais alguma coisa, metia as cópias em caixotes que enfiava numa arrecadação grande que tinha.
Um dia que estávamos todos juntos a mulher dele contou à minha mulher em segredo que, à medida que ele metia um novo caixote na arrecadação, ela deitava fora um antigo, eram tantos que ele levou anos a dizer “não percebo como é que ainda tenho espaço para mais”, até perceber o que se passava.

Também nunca guardei nenhum papel de serviço, zero absoluto.
Tudo o que andei a fazer na minha vida profissional estava (e está) nos arquivos das empresas por onde passei e ainda existem, é só lá ir ver.
Guardo em casa umas 3 ou 4 cartas que troquei com alguns representantes dos accionistas de uma empresa a que presidi, onde eles me aconselhavam insistentemente a demitir-me já e eu lhes respondia que convocassem uma A.G. e me demitissem eles.
Andámos nisto uns tempos até que os tais representantes foram eles demitidos.
E eu continuei onde estava por mais um mandato completo.

Leão do Fundão disse...

E a do Algarvio, quando ouve bater à porta:

"Between!"

Leão do Fundão

Luís Lavoura disse...

Francisco de Sousa Rodrigues

é bem sabido que os portugueses são muito pouco rigorosos em matéria de educação. Confundem, por exemplo, um licenciado com um doutor. Da mesma forma, confundem um estudante com um aluno. É natural que os dicionários de português reflitam essas confusões todas. Por exemplo, para um dicionário português um "doutor" tanto pode ser um médico, como um doutorado em Biologia, como um licenciado em Direito.
Por essa Europa fora, não se brinca em serviço. Um "aluno" (Schueller em alemão, élève em francês, pupil em inglês) não se confunde com um estudante universitário. Nunca. Só cá neste país dos fundilhos da Europa é que se faz tais confusões.

manuel campos disse...


Em resumo.
Somos quase todos burros, aqui nestes fundilhos onde vivemos.
Vale-nos o rigor sem mancha de alguns, bem patente por aí.

Talvez não fosse mau o Luís Lavoura pensar que, apesar das razões que lhe possam assistir e eu sei que assistem, a prática nacional é a que é e com ela vivemos e nos entendemos (e vivem os nossos dicionários) há muito tempo.

Claro que se pode adaptar a prática ao Luís Lavoura já que o Luís Lavoura não aprecia "brincar em serviço" com este tipo de prática, é capaz de dar algum trabalho mas nada que daqui a 3 ou 4 gerações não esteja resolvido.

AV disse...

Luis Lavoura tem razão neste caso. Embora aluno e estudante sejam termos usados como sinónimos, existe uma diferença de significado entre ambos que, embora possa parecer ligeira, é significativa. Um aluno recebe instrução de alguém; um estudante é alguém que estuda, não necessariamente recebendo instrução.

Nos países Anglo-Saxónicos a distinção entre pupil e student é clara, sendo que a segunda designação é usada para quem frequente o Ensino Superior, enquanto que a primeira designação nunca se aplicaria a um estudante do Ensino Superior. Claro que isso reflecte o sistema de ensino e atitudes culturais em relação ao ensino.

Os dicionários podem definir sinónimos, mas o uso da língua na prática muitas vezes tem significados mais nuanceados e o seu próprio sentido.

Isto é verdade?