terça-feira, janeiro 02, 2024

Zé Vera


O meu amigo José Vera Jardim faz hoje 85 anos. Não sei quando nos conhecemos, apenas sei, de certeza segura, que não foi no MES. É que, bem antigo "compagnon de route" e de profissão de Jorge Sampaio, o Zé recusou sempre o epíteto de ex-MES, afirmando, com irritante soberba: "Eu nunca fui ex-MES, porque nunca fui do MES". Entrámos um dia juntos nessa bela e esperançosa aventura que foi a governação Guterres e aí consolidámos uma amizade e um companheirismo que guardamos para sempre entre nós. Com ele ministro, fui visitá-lo ao Terreiro do Paço. Do seu gabinete, olhávamos a praça. A certa altura, disse: "Olha! Vai ali um órgão de soberania". E apontou para um tipo que passava, com ar imponente. Esclareceu, com uma risada: "É um juíz". O Zé é um espírito livre como muito poucos que conheci, pensa pela sua cabeça, mesmo que isso signifique poder, às vezes, contrariar os amigos. Essa plena liberdade, que é um seu lema de vida, usa-a na intervenção institucional, a que se dedica com empenhamento, para assegurar, entre nós, a saudável coexistência das diversas religiões. Tem um humor magnífico, uma cultura soberba, onde brilha uma costela filo-germânica que vem sempre ao de cima. Há uns anos, a morte da Maria Amélia trouxe-lhe uma sombra de tristeza que nunca mais saiu do seu olhar. Por décadas, ambos fizemos parte da tertúlia do Procópio, sob a batuta do ímpar Nuno Brederode Santos. Nos últimos tempo, às vezes, ainda por lá regressamos à antiga Mesa 2, num "remake" esforçado, qual Mesa 2.0 . Por muitos anos, almoçámos quase todas as semanas num grupo que a pandemia e a saída de cena de alguns convivas espantou, mas que, às vezes, ainda se junta no Pátio Bagatela. Espero continuar a encontrar o meu querido amigo Zé, por muito tempo, por todas essas mesas de uma amizade que, tal como nós, está cada vez mais orgulhosa da sua velhice. E, se a sorte nos correr de feição, também espero comemorar com ele, em 2024, algumas vitórias políticas e desportivas em mundos que, com muito orgulho, partilhamos.

4 comentários:

Carlos Fonseca disse...


"E, se a sorte nos correr de feição, também espero comemorar com ele, em 2024, algumas vitórias políticas e desportivas em mundos que, com muito orgulho, partilhamos."

Que os deuses o leiam e providenciem em conformidade.

netus disse...

Muito boa noite
Respeitosamente, creio não estar equivocado, mas um juiz não é órgão de soberania, sim um titular de órgão de soberania.
Quanto ao "jovem" senhor, que pessoalmente não conheço, tenho boa impressão dele face ao que lhe ouvi e li ao longos dos anos.
Que 2024 não lhe/ nos seja adverso.
António R. Cabral

Arber disse...

Uma pessoa admirável!

Anónimo disse...

Exactamente, Netus tem toda a razão. Um magistrado é tão só um representante de um orgão de soberania, neste caso, como são os tribunais.

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