Todas as burocracias sem exceção têm tendência a orientar-se para se sustentarem a si próprias. Todo o burocrata quer ter subordinados (quantos mais, melhor) e trabalho para eles, nominalmente, executarem. Isto tanto é verdade em empresas privadas como em instituições públicas.
“A UE tem uma burocracia complexa que existe para se sustentar a si própria”. Estou totalmente de acordo com a crítica à burocracia, mas infelizmente ela não se cinge unicamente à União Europeia, mas é uma das marcas dos regimes políticos no mundo contemporâneo. Como assinala David Beetham (“A Burocracia”, Editorial Estampa, 1988) «A burocracia atrapalha os negócios e inferniza a vida dos cidadãos. Incompetente, ineficiente, irracional, morosa, corrupta, não democrática. Eis como a burocracia costuma ser vista. A rejeição à burocracia é também uma das raras unanimidades em todas as correntes político-ideológicas. A direita demoniza a burocracia em nome do livre mercado; o centro procura reformá-la em nome da transparência e responsabilização; e a esquerda pretende substituí-la pela gestão democrática e participação popular». Paradoxalmente, no entanto, a existência do “modelo burocrático” como foi estruturado por Max Weber (sociólogo e jurista alemão, 1864-1920) é indispensável para a sociedade actual e condição necessária para a ordem democrática, sendo parte central da actividade política da gigantesca estrutura de poder da UE, o que permite inclusive entender as razões para algumas das suas disfunções (não totalmente democráticas) nos processos de decisão. No fundo, a estrutura burocrática da UE corresponde a um dos três tipos de sociedade e autoridade definidos por Weber, o das “sociedades burocráticas (ou racionais-legais)” em que a aceitação da autoridade, que pressupõe um tipo de dominação legal que foi buscar a sua legitimidade, à transferência de parcelas da soberania dos Estados membros em favor da União, com o consequente carácter prescritivo e normativo das leis e regulamentos europeus nos planos político, institucional, jurídico e económico. Na verdade, o pensamento de Max Weber sobre a burocracia nas organizações – que, no meu modesto entender, permanece actual – derivou do seu interesse em compreender o processo de racionalização na sociedade moderna, caracterizada pelo crescente predomínio do conhecimento técnico-científico, nas estruturas formais de autoridade, na crescente regulamentação, na profissionalização, na legitimação da autoridade. Estas e outras características do processo de modernização, identificadas por Weber como "racionalização", correspondem ao que ele designou como a passagem gradual, no âmbito político-social, da esfera das inspirações divinas, dos mitos, dos dogmas, para a esfera da razão, da ciência, da tecnologia. Da mesma forma, a estrutura institucional passa da esfera da centralização autocrática e divinizada para a esfera da regulamentação legal e racionalizada. Estas características, ascendentes nas sociedades modernas, identificadas por Weber no século passado, sob a denominação de “burocratização” a verdade é que persistem e predominam (e ainda não foram substituídas) nos modelos das organizações actuais, sejam elas da União Europeia, dos Estados federais, das Confederações, dos regimes democráticos ou autocráticos, etc., etc.).
6 comentários:
Todas as burocracias sem exceção têm tendência a orientar-se para se sustentarem a si próprias. Todo o burocrata quer ter subordinados (quantos mais, melhor) e trabalho para eles, nominalmente, executarem. Isto tanto é verdade em empresas privadas como em instituições públicas.
1º o observador, 2º o pasquim do arquitecto... sítios muito mal frequentados.
Pasquim é o dito de "referência", trombeta do mano do PM....
A.Vieira
“A UE tem uma burocracia complexa que existe para se sustentar a si própria”.
Estou totalmente de acordo com a crítica à burocracia, mas infelizmente ela não se cinge unicamente à União Europeia, mas é uma das marcas dos regimes políticos no mundo contemporâneo. Como assinala David Beetham (“A Burocracia”, Editorial Estampa, 1988) «A burocracia atrapalha os negócios e inferniza a vida dos cidadãos. Incompetente, ineficiente, irracional, morosa, corrupta, não democrática. Eis como a burocracia costuma ser vista. A rejeição à burocracia é também uma das raras unanimidades em todas as correntes político-ideológicas. A direita demoniza a burocracia em nome do livre mercado; o centro procura reformá-la em nome da transparência e responsabilização; e a esquerda pretende substituí-la pela gestão democrática e participação popular».
Paradoxalmente, no entanto, a existência do “modelo burocrático” como foi estruturado por Max Weber (sociólogo e jurista alemão, 1864-1920) é indispensável para a sociedade actual e condição necessária para a ordem democrática, sendo parte central da actividade política da gigantesca estrutura de poder da UE, o que permite inclusive entender as razões para algumas das suas disfunções (não totalmente democráticas) nos processos de decisão.
No fundo, a estrutura burocrática da UE corresponde a um dos três tipos de sociedade e autoridade definidos por Weber, o das “sociedades burocráticas (ou racionais-legais)” em que a aceitação da autoridade, que pressupõe um tipo de dominação legal que foi buscar a sua legitimidade, à transferência de parcelas da soberania dos Estados membros em favor da União, com o consequente carácter prescritivo e normativo das leis e regulamentos europeus nos planos político, institucional, jurídico e económico.
Na verdade, o pensamento de Max Weber sobre a burocracia nas organizações – que, no meu modesto entender, permanece actual – derivou do seu interesse em compreender o processo de racionalização na sociedade moderna, caracterizada pelo crescente predomínio do conhecimento técnico-científico, nas estruturas formais de autoridade, na crescente regulamentação, na profissionalização, na legitimação da autoridade. Estas e outras características do processo de modernização, identificadas por Weber como "racionalização", correspondem ao que ele designou como a passagem gradual, no âmbito político-social, da esfera das inspirações divinas, dos mitos, dos dogmas, para a esfera da razão, da ciência, da tecnologia. Da mesma forma, a estrutura institucional passa da esfera da centralização autocrática e divinizada para a esfera da regulamentação legal e racionalizada.
Estas características, ascendentes nas sociedades modernas, identificadas por Weber no século passado, sob a denominação de “burocratização” a verdade é que persistem e predominam (e ainda não foram substituídas) nos modelos das organizações actuais, sejam elas da União Europeia, dos Estados federais, das Confederações, dos regimes democráticos ou autocráticos, etc., etc.).
Alguém deve estar a pagar largo para não ver o Pôr do Sol.
aamgvieira: sempre é um pasquim com pedigree... o outro é abaixo de cão.
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