segunda-feira, janeiro 15, 2024

Outro tempo ?


Soube ontem que fechou o "Outro Tempo Bar", o meu estimado pouso, para o tarde, em noites depois de concertos na Gulbenkian. Um lugar despretensioso e seguro, com um serviço delicado. 

Em dezembro, antes do Natal, fui despedir-me, com um jantar, do "Poleiro", a poucas horas dos irmãos Aurélio e Manuel Martins trespassarem a casa. Fui dali sempre um cliente fiel, desde a sua abertura, em 1985.

Será que tudo o que era de "outro tempo" está mesmo a encerrar? Isso também será válido para as pessoas?

10 comentários:

Anónimo disse...

Má notícia a do Poleiro.
Será que abrem noutro lado?

sts disse...

É.

Tony disse...

Infelizmente, muitos locais a que estávamos habituados, fecharam. Na Baixa, muitas lojas clássicas também fecharam, dando lugar, a maioria delas, à venda de bugigangas para turistas. Só espero que pelo menos, na politica, não mude, muita coisa. Pelo que vejo e oiço, até me assusto. E eu que não sou assustadiço.

manuel campos disse...


Nos meus tempos de assinatura da Gulbenkian era a ceia no Colina com o casal amigo que sempre nos acompanhou, passo lá à porta todas as semanas, de há uns 10 anos para cá nunca mais lá voltei, não sei como está, não é sítio onde se almoce com os conhecidos, muito barulhento para conversar em “petit comité”.
A morte desses amigos e o surgimento de problemas que impedem minha mulher de estar, mais do que de passagem, em qualquer local que tenha ar condicionado ou aquecimento acima do q.b., como é o caso do Auditório 1, acabaram com as idas à Gulbenkian (e não só) onde evidentemente nunca seria capaz de ir sem ela.
Aliàs esses dois factos também acabaram com o ciclo Gulbenkian das “Grandes Orquestras” no Coliseu dos Recreios, aí por causa do pó característico daquele tipo de salas, ainda mais agressivo que o frio ou o calor neste caso.

Como tenho dito várias vezes vejo demasiada gente da minha idade não se dar muito bem conta “deste tempo”, não digo que não o tentem compreender e até certo ponto o percebam, mas há que estar “por dentro”.
E o estar “por dentro” implica ter uma ligação qualquer suficientemente forte às vivências e às preocupações com o futuro de quem agora está naquela idade em que já é velho para mudar de vida mas ainda é novo para se reformar e, mais ainda, aos que estão agora a começar e que são o futuro, o deles e o nosso como colectivo enquanto cá andarmos.

Há um diletantismo (ou uma displiscência, dá no mesmo) grande por aí, é uma questão com que poucos se ralam de facto mas de que muita gente fala porque fica bem (como os que dizem “que mundo vamos deixar aos nossos netos?” e nem filhos têm).
E aí caem os meus descendentes todos de 1ª e 2ª linha mas não caem os descendentes de 2ª linha quase nenhuns dos que têm a minha idade, o que me faz muitas vezes ter conversas do tipo que Juca Chaves classificou brilhantemente de “estético-filosófica-carnavalesca”.
É que quase todos acham que os netos vão ser isto ou aquilo e que eles e os filhos vão “empurrá-los” para aqui ou para ali, santa dupla ingenuidade de quem – como é o caso de muitos – já se esqueceu que tinha dito isso dos filhos e foi o que se viu, se o tempo já lhes apagou convenientemente essas memórias, a mim nem por isso.

Eu sei que sou de “outro tempo” e que ele está mesmo a encerrar.
Tenho entre os meus descendentes de 2ª linha um “influencer” (não, não é desses), com mais de 200 mil seguidores e que ainda não percebi que “influências” seguem nele, por mais que o ache engraçado e divertido (mas eu sou o avô, né?).
O que é que querem que vos diga mais “deste tempo”?






manuel campos disse...


Conheço muito mal “O Poleiro”, este é o tipo de frase que se pode prestar a bocas foleiras e piadas de mau gosto dirigidas a quem as diz.

Mas conheci bastante bem o “Entrecopos”, do outro lado da linha do combóio, já não o conheço há uns bons tempos pois o grupo que lá se juntava mensalmente desfez-se, entre tricas de marretas e mazelas da idade, já só restávamos dois e resolvemos ir variando.

O do “outro lado da linha” tem ali naquele local muito que se lhe diga pois são “mundos” muito diferentes, a linha é uma fronteira muito efectiva ali, a ponte pedonal obriga a subir muito e nem todos estão para isso quando o estacionamento fácil (no parque da praça de touros) e o acesso via transportes públicos favorece nitidamente uns e outros que existem daquele lado.

Passar do lado a sul da linha para o lado a norte da linha na Rua de Entrecampos é também um autêntico mudar de mundo, do bulício urbano normal (Campo Pequeno, Avenida da República, Avenida João XXI e as outras que se sabe) para uma pacatez de pequena vila, quase uma “ilha de paz” que é aquela da zona do Bairro de São Miguel até â Avenida da República e à Avenida dos EUA.

PS- Tenho agora algumas voltas a dar e uma é para os lados da "ilha de paz" acima.

Rui Figueiredo disse...

No limite para a relação qualidade preço o que, face às circunstâncias, era de assinalar. Cozinha honesta e sem arrebiques

Flor disse...

Manuel Campos ao ler o seu comentário veio-me á memória a pacatez da ilha de paz" que eu também sentia e gostava quando andava por ali em trabalho há muitos anos atrás.

manuel campos disse...


Flor

E aquilo não mudou nada, até acalmou um pouco porque a Rua Alfredo Cortês, que passa ao longo da escola e liga à Rua de Entrecampos, passou a ter só um sentido há alguns anos.
Isso quer dizer que quem vem da Avenida de Roma já não a pode descer, o que tirou o trânsito apenas de "ligação" dali.
E como quem sobe para a Avenida de Roma já tinha que ir sempre à Rua Frei Tomé de Jesus, aquela em curva que liga à Avenida dos EUA porque a Frei Amador Arrais só tem um sentido há que tempos, muito pouca gente circula por dentro do bairro.
Sendo um bairro sem comércio nem escritórios, tem-nos ali à volta mas não "lá dentro", mais calmo ainda, só lá vai quem lá mora ou de visita.
Claro que há muitos carros, mas estacionados.

manuel campos disse...


Erratazinha

Quem sobe para a Avenida de Roma também podia (e pode) ir pela Travessa Henrique Cardoso, como a não uso muito, sei lá porquê, nem me lembrei.

Mas se calhar até sei, é romagem minha, os meus filhos nasceram todos na maternidade que havia ali na Frei Tomé de Jesus, a Clínica de São Miguel.

Agora a Clínica passou a Centro Residencial São Miguel para "seniores".
Tem alguma lógica.


Carlos disse...

Prezado Embaixador

Também me fui despedir do Sr Aurélio e do Sr Manuel quando soube por mero acaso uns dias antes do Natal que o Poleiro mudava de mãos. Este foi durante décadas o meu pouso sempre que passava por Lisboa. Comecei a frequenta-lo nos anos 90 quando fui trabalhar perto e levei a este restaurante muitos amigos vindos de lugares distantes. A minha mulher comentava: estamos mesmo a perder aqueles lugares que marcaram as nossas vidas, isto não é bom sinal!

Isto é verdade?