Soube ontem que fechou o "Outro Tempo Bar", o meu estimado pouso, para o tarde, em noites depois de concertos na Gulbenkian. Um lugar despretensioso e seguro, com um serviço delicado.
Em dezembro, antes do Natal, fui despedir-me, com um jantar, do "Poleiro", a poucas horas dos irmãos Aurélio e Manuel Martins trespassarem a casa. Fui dali sempre um cliente fiel, desde a sua abertura, em 1985.
Será que tudo o que era de "outro tempo" está mesmo a encerrar? Isso também será válido para as pessoas?
10 comentários:
Má notícia a do Poleiro.
Será que abrem noutro lado?
É.
Infelizmente, muitos locais a que estávamos habituados, fecharam. Na Baixa, muitas lojas clássicas também fecharam, dando lugar, a maioria delas, à venda de bugigangas para turistas. Só espero que pelo menos, na politica, não mude, muita coisa. Pelo que vejo e oiço, até me assusto. E eu que não sou assustadiço.
Nos meus tempos de assinatura da Gulbenkian era a ceia no Colina com o casal amigo que sempre nos acompanhou, passo lá à porta todas as semanas, de há uns 10 anos para cá nunca mais lá voltei, não sei como está, não é sítio onde se almoce com os conhecidos, muito barulhento para conversar em “petit comité”.
A morte desses amigos e o surgimento de problemas que impedem minha mulher de estar, mais do que de passagem, em qualquer local que tenha ar condicionado ou aquecimento acima do q.b., como é o caso do Auditório 1, acabaram com as idas à Gulbenkian (e não só) onde evidentemente nunca seria capaz de ir sem ela.
Aliàs esses dois factos também acabaram com o ciclo Gulbenkian das “Grandes Orquestras” no Coliseu dos Recreios, aí por causa do pó característico daquele tipo de salas, ainda mais agressivo que o frio ou o calor neste caso.
Como tenho dito várias vezes vejo demasiada gente da minha idade não se dar muito bem conta “deste tempo”, não digo que não o tentem compreender e até certo ponto o percebam, mas há que estar “por dentro”.
E o estar “por dentro” implica ter uma ligação qualquer suficientemente forte às vivências e às preocupações com o futuro de quem agora está naquela idade em que já é velho para mudar de vida mas ainda é novo para se reformar e, mais ainda, aos que estão agora a começar e que são o futuro, o deles e o nosso como colectivo enquanto cá andarmos.
Há um diletantismo (ou uma displiscência, dá no mesmo) grande por aí, é uma questão com que poucos se ralam de facto mas de que muita gente fala porque fica bem (como os que dizem “que mundo vamos deixar aos nossos netos?” e nem filhos têm).
E aí caem os meus descendentes todos de 1ª e 2ª linha mas não caem os descendentes de 2ª linha quase nenhuns dos que têm a minha idade, o que me faz muitas vezes ter conversas do tipo que Juca Chaves classificou brilhantemente de “estético-filosófica-carnavalesca”.
É que quase todos acham que os netos vão ser isto ou aquilo e que eles e os filhos vão “empurrá-los” para aqui ou para ali, santa dupla ingenuidade de quem – como é o caso de muitos – já se esqueceu que tinha dito isso dos filhos e foi o que se viu, se o tempo já lhes apagou convenientemente essas memórias, a mim nem por isso.
Eu sei que sou de “outro tempo” e que ele está mesmo a encerrar.
Tenho entre os meus descendentes de 2ª linha um “influencer” (não, não é desses), com mais de 200 mil seguidores e que ainda não percebi que “influências” seguem nele, por mais que o ache engraçado e divertido (mas eu sou o avô, né?).
O que é que querem que vos diga mais “deste tempo”?
Conheço muito mal “O Poleiro”, este é o tipo de frase que se pode prestar a bocas foleiras e piadas de mau gosto dirigidas a quem as diz.
Mas conheci bastante bem o “Entrecopos”, do outro lado da linha do combóio, já não o conheço há uns bons tempos pois o grupo que lá se juntava mensalmente desfez-se, entre tricas de marretas e mazelas da idade, já só restávamos dois e resolvemos ir variando.
O do “outro lado da linha” tem ali naquele local muito que se lhe diga pois são “mundos” muito diferentes, a linha é uma fronteira muito efectiva ali, a ponte pedonal obriga a subir muito e nem todos estão para isso quando o estacionamento fácil (no parque da praça de touros) e o acesso via transportes públicos favorece nitidamente uns e outros que existem daquele lado.
Passar do lado a sul da linha para o lado a norte da linha na Rua de Entrecampos é também um autêntico mudar de mundo, do bulício urbano normal (Campo Pequeno, Avenida da República, Avenida João XXI e as outras que se sabe) para uma pacatez de pequena vila, quase uma “ilha de paz” que é aquela da zona do Bairro de São Miguel até â Avenida da República e à Avenida dos EUA.
PS- Tenho agora algumas voltas a dar e uma é para os lados da "ilha de paz" acima.
No limite para a relação qualidade preço o que, face às circunstâncias, era de assinalar. Cozinha honesta e sem arrebiques
Manuel Campos ao ler o seu comentário veio-me á memória a pacatez da ilha de paz" que eu também sentia e gostava quando andava por ali em trabalho há muitos anos atrás.
Flor
E aquilo não mudou nada, até acalmou um pouco porque a Rua Alfredo Cortês, que passa ao longo da escola e liga à Rua de Entrecampos, passou a ter só um sentido há alguns anos.
Isso quer dizer que quem vem da Avenida de Roma já não a pode descer, o que tirou o trânsito apenas de "ligação" dali.
E como quem sobe para a Avenida de Roma já tinha que ir sempre à Rua Frei Tomé de Jesus, aquela em curva que liga à Avenida dos EUA porque a Frei Amador Arrais só tem um sentido há que tempos, muito pouca gente circula por dentro do bairro.
Sendo um bairro sem comércio nem escritórios, tem-nos ali à volta mas não "lá dentro", mais calmo ainda, só lá vai quem lá mora ou de visita.
Claro que há muitos carros, mas estacionados.
Erratazinha
Quem sobe para a Avenida de Roma também podia (e pode) ir pela Travessa Henrique Cardoso, como a não uso muito, sei lá porquê, nem me lembrei.
Mas se calhar até sei, é romagem minha, os meus filhos nasceram todos na maternidade que havia ali na Frei Tomé de Jesus, a Clínica de São Miguel.
Agora a Clínica passou a Centro Residencial São Miguel para "seniores".
Tem alguma lógica.
Prezado Embaixador
Também me fui despedir do Sr Aurélio e do Sr Manuel quando soube por mero acaso uns dias antes do Natal que o Poleiro mudava de mãos. Este foi durante décadas o meu pouso sempre que passava por Lisboa. Comecei a frequenta-lo nos anos 90 quando fui trabalhar perto e levei a este restaurante muitos amigos vindos de lugares distantes. A minha mulher comentava: estamos mesmo a perder aqueles lugares que marcaram as nossas vidas, isto não é bom sinal!
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