Nunca na vida me passou pela cabeça votar no PSD ou em qualquer partido de direita, mas confesso que, como cidadão, não deixa de me preocupar a crescente irrelevância da força política que representou, para a direita, aquilo que o PS foi sempre para a esquerda. É que essa deriva se faz em proveito da extrema-direita mais obscenamente xenófoba e racista ou, residualmente, de uma direita radical, populista e a-social, ambas representando o pior daquilo que a democracia portuguesa até hoje gerou.
O espetáculo dos últimos dias foi, aliás, bem elucidativo. Perante o desfecho que, no caso judicial da Madeira, era mais do que óbvio, a liderança do PSD meteu os pés pelas contradições, tentando travar o insalvável, com uma total ausência de dignidade e frontalidade. Viu-se o resultado.
Isso veio somar-se, aliás, à extraordinária exibição do mais refinado oportunismo por parte de alguns dos seus militantes e deputados, que saltaram sem o menor pudor para o lado de quem lhes acenou com a possibilidade de um lugar à mesa do orçamento. Muitas pessoas ainda não interiorizaram bem o que isso revelou: que aquela gente, a começar pelo líder do partido da extrema-direita, que desde o início se passeia ou agora transita alegremente para ali, esteve, ao longo de muitos anos, a fingir que era democrata e que partilhava uma agenda cívica com um mínimo de decência, enquanto alinhava na militância ou esteve sentado na bancada parlamentar do PSD! O PSD não deve apenas ir dizendo, tentando convencer alguns, que não se coligará nunca com essa gente: devia estar a denunciar publicamente o seu repúdio perante as propostas dessa gente e da ideologia que lhe está subjacente. Por que o não faz?
10 comentários:
Hoje pela uma da tarde vínhamos ali de carro na Rua Castilho, minha mulher a ler as últimas notícias no téléle, dá com o seguinte título:
"Miguel Albuquerque REINICIOU ao cargo".
A hipótese "boa" é: escreve-se o "RE", aquilo propõe outra coisa qualquer e é o que lá fica porque ninguém relê sequer.
A hipótese "má" é: quem escreveu a notícia acha que é mesmo assim que se escreve.
Em relação ao Chega e ao papel principal que este partido se prepara para desempenhar na cena política, o PS e o PSD só se devem queixar de si próprios e da sua inoperância política. O primeiro porque governou mal e o segundo porque não criou uma alternativa suficientemente atractiva para obter uma amioria absoluta. Tanto um como outro merecem o Chega que vão ter. Pode ser que aprendam!
Porque corre o seríssimo risco de ter de dar o dito pelo não dito se quiser formar governo.
E aquele José Sócrates?
Uma marrã tem 14 tetas e ás vezes a ninhada é maior sobram leitões. são os serôdios, mas todos competem por alimento, assim são os governos cá por estas bandas. há excesso de leitões e leitoas.
ideologia > ó abreu, dá cá o meu.
Não tenhamos dúvidas, se Montenegro precisar do Chega para governar, fará com Ventura um acordo de incidência parlamentar! O que ele quer é poleiro! Aproveitando as contas certas do Medina!
Ora bem ...
"...essa deriva faz-se em proveito da extrema-direita mais obscenamente xenófoba e racista"...
Será que esta coisa de imputar responsabilidades pelo crescimento do Chega exclusivamente ao PPD/PSD tem razão de ser ? E será que é uma visão sensata ?
Creio que não.
A deriva ( absolutamente em plano inclinado, autêntica rampa, nos últimos tempos ) que me assusta tem sido de ambos, PSD e PS - Partido Socialista.
A que propósito o Pedro Nuno Santos se diz ( hoje, assim renegando os seus princípios de jovem turco) um social democrata ?
Qual a diferença ( em termos ideológicos) entre o programa político de um PPD e o de Um PS ? Parece-me que nenhum, à excepçaõ de um ou outro "tema fracturante" (eutanásia, ideologia de género essas coisas dos costumes).
As pessoas comuns, com uma vida comum, não vêem diferença alguma entre O PS e o PSD e por isso, revoltadas e sem esperança, votam Chega .
Não assim com as "elites" ou ditas "elites", que continuam próximas dos seus apaniguados.
A meu ver, pois, o PS e as suas constantes incompetências, moscambilhas, trapaças e criancices na governação destes vastos e longos anos, tem igual responsabilidade na ascensão dessa obscena extrema-direita.
Tretas. O crescimento do Chega é uma bênção para o PS. Como deixou de haver centro restam dois blocos. Se a esquerda ganhar o PS tem garantida a continuação no governo. Se a direita ganhar mas o Chega ultrapassar o PSD - hipótese que começa a parecer razoável - é a sorte grande para o PS. Como não é possível ao PSD ser número dois do Chega resta-lhe deixar passar um governo do partido mais votado, o PS.
Não deixa de ser engraçado ver a malta do PS, que tem tanto de socialista como a Paris Hilton, a berrar cuidado com fascismo, eles estão aí, há que votar na democracia, e ao mesmo tempo ir puxando pelo Chega para se poder manter agarrado ao poder. Grandes democratas, na linha de Mitterrand com a Frente Nacional.
Vejam lá é se o filne não dá para o torto e não acabam mesmo por ter daqui a uns anos um PM Ventura.
E por que não o faz? Questiona-se.
Em meu entender, porque uma ideologia só pode ser combatida por uma outra ideologia. E qual é a ideologia do PSD? O PSD não é um partido com uma ideologia própria. É um partido de personalidades, que, com grande rotatividade, ascendem ao topo. No princípio, até pode nem ter sido bem assim, mas o prematuro desaparecimento do seu fundador não terá dado tempo para o Partido consolidar uma base ideológica própria.
Se pensarmos nos ex-líderes, que andam por aí, qual é o traço ideológico que os liga? Marcelo Rebelo de Sousa, Cavaco Silva, Fernando Nogueira, Santana Lopes, Durão Barroso, Ferreira Leite, Luís Filipe Menezes, Marques Mendes, Rui Rio, Passos Coelho (devo ter esquecido algum) teremos de convir que cada um agiu segundo o seu modo de exercer o poder e não por seguir uma linha de atuação subjacente à linha programática do Partido. É o que me parece.
Como entender que não combatam o Chega? Porque a tradição PSD é tratar bem os que saem. Veja-se, o foragido Durão Barroso continua a ser aclamado; Santana Lopes desertou para formar um partido adverso, não teve sucesso, e eis que acaba de ser ovacionado e ovacionado. Os que saíram para formar o Chega não só não são combatidos, como diz no texto, como muitos dos ex-líderes gostariam que fosse formado (já) um acordo de governo com o Chega, melhor com o Ventura.
Posto isto, se, admito, Cavaco, Passos Coelho, Santana Lopes, Barroso, mesmo Rui Rio (ou todos eles) estão disponíveis para abrir as portas ao Chega, então, o que separa, em termos ideológicos uma coisa da outra?
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