Há 14 anos, em França, um grupo de ativistas pelos direitos dos imigrantes lançou um movimento sob o lema "24 horas sem nós: um dia sem imigrantes".
A ideia era simples: organizar uma greve de imigrantes naquele país, com vista a dar uma imagem de quanto a economia do dia-a-dia francês deles depende. Não tenho conhecimento do grau de sucesso da iniciativa e até duvido muito que ela se tenha concretizado de forma visível.
Os imigrantes são, entre todos os assalariados, aqueles que, por regra, têm maior precariedade no seu vínculo laboral, vivem numa dependência económica que os torna presas fáceis do seu patronato e, finalmente, raramente têm uma consciência política capaz de os conduzir a ações reivindicativas desse género.
Esta iniciativa teve, pelo menos, o considerável mérito de levar a uma reflexão: o que seria das sociedades europeias contemporâneas sem o trabalho dos imigrantes?
7 comentários:
Houve muitos apelos vindos de muitos lados mas, de facto, não parece ter tido grande êxito.
A organização esteve aparentemente dispersa por vários "collectifs" que se afirmavam "apolíticos".
Mais eficaz terá sido a luta dos emigrantes "sans-papiers", pedindo a regularização administrativa da sua situação e a revisão das licenças de permanência no país enquanto trabalhadores.
Mas a luta destes últimos foi apoiada pela C.G.T.
"Et ça fait toute la différence".
Tinham que se desenrascar, como sempre o fizeram quando a bolsa não dava para mais, agora como anda tudo mais abonado ainda que digam que não, delega-se e paga-se a outro.
Dado o adiantado da hora e a falta de lucidez que isso traz, a acrescentar às óbvias e conhecidas limitações de raciocínio do remetente, faltou acrescentar algo.
A precariedade do vínculo laboral e a dependência económica afectam muita gente no mercado laboral (e não me refiro ao nosso em particular).
Todos aqueles que têm gente nova na família sabem bem disso, pelos seus ou pelos amigos e conhecidos dos seus, alguns de nós também porque estão atentos aos problemas da descendência dos seus próprios amigos e conhecidos.
Acontece é que há um natural espírito de “se ficarem desempregados cá estamos nós para ajudá-los como pudermos” por parte da família, quando não mesmo continuam a viver em casa dos pais, o que não é de todo a situação dos imigrantes, muito pelo contrário se eles próprios tiverem descendência aqui e ascendência a 10000 kms daqui.
Quanto à consciência política parece-me outra questão, a sua falta é muito mais comum do que aquilo que a “Geração de Abril” que é a nossa gostaria alguma vez de ter que admitir (e não só na 2ª geração a seguir a nós, nota-se logo na 1ª e claro que na nossa, aí então é ouvir o que dizem aí pela rua os que andaram de punho erguido há 50 anos).
A consciência política é um bem cada vez mais raro e por isso se tornou cada vez mais precioso, não seria mau ser preservada por meio de um mínimo de “fair play”.
Não é isso que eu vejo, de vez em quando cá venho com a minha lenga-lenga de que as democracias estão em perigo e são muitos dos seus defensores que para isso contribuem.
Daí a importância de sindicatos fortes mas conscientes o que, pela minha longa experiência profissional a lidar com eles, quando eram fortes não eram conscientes e quando finalmente se tornaram conscientes deixaram de ser fortes.
E os emigrantes ou estão integrados numa dessas bases de apoio, como outro trabalhador qualquer do ramo, ou apenas como “emigrantes” não se conseguem nunca organizar, tal como as camadas mais jovens e precárias de naturais dos países não conseguem (nem tentam, mas estes sentem que algum local de recuo terão, para além de que emigrar ainda é uma esperança).
Vou então sair que temos que ir para o lado do Palácio das Necessidades (e depois para outros lados).
Costumo acabar por arrumar o carro no estacionamento que fica cá em baixo na Avenida Infante Santo pois nunca há lugares mais perto.
Um dia estava com alguém que me disse que tinha arrumado o carro ali mesmo, perguntei espantado “Havia lugares?”, respondeu-me “Havia vários”, fui com ele até ao carro, tinha-o deixado em lugares reservados ao Ministério e nem se tinha dado conta.
"delega-se e paga-se a outro."
E quem é o outro? A coisa encarada do ponto de vista do que recebe o pagamento é capaz e ser um bocadinho diferente. Ou não? E se não houver o outro? Será que passariam a trabalhar os que não querem e preferem pagar?
Zeca
Ali no 5º parágrafo era sempre "imigrantes" e nunca "emigrantes".
Como desculpa avanço que já estava a ser alvo de fortes pressões conjugais para me despachar, dado o adiantado da hora face ao compromisso assumido.
Como o trânsito anda manso foi canja: 19 minutos para fazer um percurso que nunca consegui fazer em menos de 35 a 40 minutos.
Dei-me ainda ao luxo de "ir a abrir" (50 kms/hora, claro, máximo urbano) em locais de pára-arranca habitual.
Reflectindo sobre a questão que o Embaixador bem colocou sobre “o que seria das sociedades europeias contemporâneas sem o trabalho dos imigrantes?”, realmente o que seria da economia portuguesa, nomeadamente nos sectores dos serviços (turismo e restauração) e agrícola (estufas do litoral alentejano), sem o trabalho dos imigrantes.
De acordo, com os últimos dados disponíveis, os imigrantes pesam 7,5% no total da população nacional, desempenhando trabalhos precários, mal pagos, mais arriscados, trabalham mais horas semanalmente e recebem em média menos 5,3% do que os trabalhadores nacionais.
Mesmo assim, têm vindo a aumentar o seu contributo para a Segurança Social, representando já 13,5% dos contribuintes do sistema de Segurança Social, tendo em 2022, contribuído com 1.861 milhões € para as receitas da SS, 7 vezes mais do que os benefícios recebidos (cerca de 257 mil € em prestações sociais), sendo assim responsáveis por um saldo positivo de 1.604,2 milhões € da SS.
Esta é a realidade dos factos que contraria a narrativa do “pequeno Duce lusitano” de que esses grandes malandros dos imigrantes “só vêm beneficiar do sistema económico e da Segurança Social”.
O que importa é que as políticas públicas assegurem condições de acolhimento e de trabalho digno aos imigrantes, garantindo uma adequada regulação e fiscalização das condições de trabalho, para que a imigração, com os benefícios em vários planos (para a SS, mas não só, também no plano demográfico), não se transforme num instrumento de desvalorização salarial dos trabalhadores nacionais, como infelizmente tem vindo a suceder no sector da restauração e do turismo (para o efeito, basta comparar os salários auferidos pelos trabalhadores nacionais – que após serem dispensados durante a pandemia, não voltaram ao sector – e os que são pagos aos imigrantes que, são já hoje a mão-de-obra predominante no sector, descontando obviamente o efeito da inflação.
Em tempos idos passei vários anos no Luxemburgo. O Grão Ducado distingue-se por ter sido (acho que em certa medida ainda é) o destino preferido da emigração portuguesa. Na altura eu tive o privilégio de integrar uma animada tertulia que de tempos a tempos se reunia ao almoço para conversar sobre os mais variados temas. Um dos integrantes era um alto funcionário Luxemburguês que tinha acompanhado quase desde o inicio a emigração dos nossos compatriotas. Falava sobre o acordo estabelecido com o governo de Marcelo Caetano, as levas de trabalhadores que iam trabalhar na siderurgia, na construção civil e na agricultura, devidamente enquadrados por alguns elementos afetos à Direção Geral de Segurança para assegurar a boa ordem da comunidade e identificar os agitadores bem como dos padres que cuidavam dos espíritos. E das mensagens afixadas nalguns cafés e restaurantes "entrada proibida a cães e portugueses". Mas também como os Luxemburgueses tomaram uma decisão consciente de preferir recrutar emigrantes nos países da Europa do Sul - católicos, tementes a Deus e respeitadores da ordem e da autoridade - em vez de seguirem o exemplo dos vizinhos belgas que preferiram o norte de Africa (Marrocos em especial), Turquia e a Africa Central. Dizia ele: somos poucos e queremos limitar o impacto da emigração na nossa sociedade e evitar que a integração dos emigrantes se torne um desafio impossível. Era bom que em Portugal se pensasse também neste aspecto.
Uma vez fui protagonista dum episódio curioso. Precisado um tratamento dentário mais aprofundado pedi ao odontologista um "orçamento". Passado algum tempo sem receber o dito, o que contrariava a habitual eficiência luxemburguesa, passei pelo consultório e preguntei o que se passava. Resposta: não recebeu? inquiriu a senhora com surpresa, nós mandámos para a caixa de previdência dos operários!. Claro que sendo Português a associação à "caisse maladie des ouvriers" era automática. Era absolutamente improvável que eu estivess na "caisse maladie des employés"...
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