quinta-feira, julho 02, 2020

Amália


Sempre achei perfeitamente ridícula a questão da relação entre Amália e a política. A arte de Amália torna-se melhor ou pior, dependendo da sua “lateralização” ideológica? Que palermice!

Durante anos, para alguns, Amália era “fascista”, bandeira do Estado Novo, misturada romanticamente com a plutocracia, com fábulas noturnas no chafariz do Rossio. 

Depois, foi a sua recuperação pelo lado intelectual, dos poetas “bons” que cantou à parceria com Alain Oulman, um esquerdista que a Pide prendeu. As noites “chez Amália”, com nomes sonantes por lá, consagraram um cenáculo prestigiante.

Agora, parece que se descobriu que Amália apoiou gente perseguida pela ditadura. 

Pelos vistos, a julgar pela incessante coscuvilhice à sua volta, o passado de Amália está ainda cheio de futuro.

E se, muito simplesmente, ouvíssemos a fantástica voz de Amália e deixássemos em paz a sua vida?

8 comentários:

Ferreira da Silva disse...

Caro Sr Embaixador,
As mesmas questões se aplicam a muitas outras pessoas após o 25 de Abril.
Dou o exemplo de Artur Agostinho (teve de seguir para o Brasil)que, e apesar das suas inúmeras qualidades de comunicador e de empresário na área da publicidade, tinha um defeito: o seu Sportinguismo.
Estou a dar esta nota apesar de não ter qualquer relação com o Sr ou mesmo de sequer o ter conhecido.

Anónimo disse...

Só comecei a ouvir Sérgio Godinho já em adulto por causa de, durante anos, ouvir "olha este comuna!...".
Perdi uns bons anos mas, felizmente, está tudo gravado :)

Jaime Santos disse...

Sr. Embaixador, para além da coscuvilhice, Amália é uma personagem marcante da nossa História contemporânea. Com certeza que merece uma boa biografia (ou mais) em que esses pormenores terão o seu lugar...

" R y k @ r d o " disse...

Gosto muito de ouvir Amália. Uma voz inigualável. A vida que viveu em nada me importa.
.
Cumprimentos

Anónimo disse...

Lapidar,como sempre, Sr. Embaixador.

Anónimo disse...

Ó "R y k @ r d o", só é pena que a Amália não tenha podido cantar um dos seus poemas. Teria, certamente, engrandecido a sua carreira (dela, da Amália).

Felizmente, fadistas é o que não falta por aí.

António disse...

Foi sobretudo o PCP que se encarniçou, não só contra Amália. Havia um tal António Mourão que foi ostracizado por uma música chamada “Tempo volta para trás”, que não tinha que eu saiba nada de conotações políticas - aliás, nada no tempo da outra senhora podia tê-las.
Tratava-se de reescrever a história. Tal como hoje.

AV disse...

Excelente sugestão.

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